Colin Firth está brilhante na interpretação do rei inglês que tem sérios problemas com a voz; quando ainda é um príncipe e seu pai o convoca para discursar diante da nação, Albert, então duque de York, intimamente conhecido como Berty, não pode evitar que a gagueira interfira em sua fala.
Gago desde os 4 anos de idade, ele não consegue se livrar dos terríveis constrangimentos que acompanham suas manifestações verbais públicas. Pressionado pelo pai e por membros da corte, ele procura insistentemente vários especialistas, mas todos os seus esforços são inúteis.
É quando sua esposa, Elizabeth, interpretada de forma delicada e elegante por Helena Bonham Carter, o convence a tentar um novo tratamento com um fonoaudiólogo nada convencional, Lionel Logue, vivido magistralmente por Geoffrey Rush, candidato ao Oscar 2011 na categoria ator coadjuvante.
No início o príncipe resiste à terapia subversiva, mas aos poucos, quando sente os primeiros frutos desta terapêutica, vai cedendo e abrindo espaço para uma convivência mais íntima com Lionel. Paralelamente seu irmão mais velho, Edward VIII, cria uma situação inusitada na história da realeza britânica; apaixonado por uma norte-americana recentemente divorciada, ele cede aos seus caprichos e gradualmente abandona suas responsabilidades perante o trono, o qual assumiu após a recente morte do pai.
O governo inglês vive um momento difícil justamente em um dos períodos mais conturbados da história mundial, os dias que antecedem a Segunda Guerra Mundial; embora o primeiro-ministro não acredite, inicialmente, na iminência de um confronto bélico, Hitler avança cada vez mais e ameaça a Europa.
É neste cenário tempestuoso que Albert se vê diante de um dilema fatal: como assumir a coroa, no lugar do irmão, e não ter condições de se dirigir a sua nação? De que forma, em um momento histórico tenso e aterrador, ele pode gaguejar diante do seu povo? Sem escolha, ele é obrigado a revestir-se do poder monárquico sob a alcunha de George VI.
Enquanto isso, a amizade cresce entre Albert e Lionel, que atua também como psicólogo de seu cliente e amigo. Seus exercícios e técnicas incomuns levam o rei a criar uma maior autoestima e uma segurança que nunca antes demonstrou. O clímax desta relação ocorre no momento da coroação do novo soberano, quando a confiança estabelecida entre ambos é radicalmente posta à prova.
Pode-se dizer, porém, que a cena mais impactante do filme é o momento em que o rei deve realizar seu primeiro discurso. Não vou além, pois não quero estragar as surpresas que aguardam o público ao longo da história e, com certeza, no seu final. Ao contrário do que muitos podem imaginar o roteiro não é baseado no livro de mesmo título; a versão literária foi escrita pelo neto de Lionel, Mark Logue, com a ajuda do jornalista Peter Conradi.
Ele decidiu escrever esta obra a partir do momento em que foi procurado pela produção do filme para revelar detalhes sobre a biografia do australiano Lionel. Curioso em saber mais a respeito de seu avô, ele saiu à procura de outras informações, as quais deram origem ao livro. As passagens mais importantes, porém, estão certamente concentradas nas telas cinematográficas. Esta produção, que guarda em si um sabor delicioso de história à moda antiga, ganhou os Oscars de melhor roteiro original, ator – super merecido! -, direção e filme.
Fontes:
O Discurso do Rei. Direção: Tom Hooper. Inglaterra. 2010, 118 min. Elenco: Colin Firth, Helena Bonham Carter, Geoffrey Rush, Michael Gambon.