Caravela-do-mar

Por Joice Silva de Souza

Mestre em Dinâmica dos Oceanos e da Terra (UFF, 2016)
Graduada em Biologia (UNIRIO, 2014)

Categorias: Cnidários
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Fascinantes, coloridas e perigosas, as caravelas-do-mar são colônias flutuantes de cnidários.

As caravelas-do-mar pertencem ao filo Cnidaria, e são constantemente confundidas com outro integrante do grupo: as águas-vivas. No entanto, as caravelas possuem características que as tornam únicas: elas representam o único organismo formado por uma colônia heteromorfa entre as mais de 11 mil espécies de cnidários reconhecidas. Isto significa que seu corpo é formado pela junção de quatro tipos de pólipos, animais que possuem morfologia bastante distinta em relação às medusas (i.e. águas-vivas). Enquanto as últimas apresentam umbrela, i.e. a parte redonda e gelatinosa na extremidade superior do corpo que contém a cavidade gastrovascular, tentáculos e boca voltados para baixo, os pólipos são caracterizados pela boca e tentáculos voltados para cima e cavidade gastrovascular na base do corpo. A reprodução desses organismos também difere entre si: a forma assexuada é mais predominante entre os pólipos, e ocorre por fissão ou brotamento, enquanto as medusas reproduzem-se preferencialmente de forma sexuada, dando origem à uma larva plânula pelágica. Ambas as formas poliploide e medusoide apresentam simetria radial, e duas camadas de tecido corporal, a epiderme (mais exterior) e a gastroderme (mais interior), as quais são separadas por uma massa gelatinosa denominada mesogleia.

Caravela. Foto: Broadbelt / Shutterstock.com

Nas caravelas-do-mar, quatro tipos de pólipos da ordem Siphonophora, organismos zooides que vivem ligados entre si, porém apresentam morfologia distinta e desempenham diferentes funções, asseguram a sobrevivência da colônia. Os pneumatóforos inspiraram o nome popular ‘caravela’, e são os principais responsáveis pela locomoção destes cnidários. Estas estruturas são descritas como ‘bexigas de gás’, e se enchem de ar, permitindo a flutuação da colônia até a superfície da água, onde é empurrada pelo vento, tal qual os antigos navios portugueses. Os pneumatóforos também se esvaziam rapidamente, permitindo a submersão rápida das caravelas quando surgem ameaças como predadores na superfície do mar.

Um segundo grupo de pólipos, conhecidos como domonoctozooides, forma os tentáculos das caravelas cujas funções principais são alimentação e proteção. É nos tentáculos, inclusive, que se encontram os cnidócitos ou cnidoblastos, estruturas que abrigam os nematocistos e que inspirou o nome do filo ‘Cnidaria’, derivado do grego knidos, cujo significado é ‘urticante’ ou ‘que queima’. O cnidoblasto tem forma de cápsula e possui um cnidocílio, que funciona como um gatilho; quando este é estimulado, o nematocisto é projetado para fora da cápsula e se prende ao corpo da presa, onde libera uma substância urticante capaz de paralisar, e em alguns casos matar, sua presa. Nos humanos, esse procedimento geralmente resulta na famosa queimadura de água-viva, provocando apenas dor; porém, no caso das caravelas a liberação de substância urticante pode ser tóxica, gerando calafrios, febre, náusea, vômito e choque.

Uma caravela-do-mar encontrada na areia da praia. Foto: Lucas Martins / InfoEscola

O terceiro tipo de pólipo que formam as caravelas são os gastrozooides. Estes indivíduos formam o estômago da colônia, e tem a função de digerir o alimento levado à cavidade gastrovascular pelos seus tentáculos. Por fim, o quarto tipo de pólipo que constitui as caravelas são os gonozooides: estes indivíduos desempenham uma função essencial no ciclo reprodutivo das caravelas, pois produzem os gametas feminino e masculinos que irão realizar a fecundação.

Até o presente momento, a única caravela com identificação confirmada é a caravela portuguesa Physalia physalis, também conhecida popularmente como garrafa-azul.

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