A quebra da fluência na fala é algo habitual entre as crianças em idade de estruturação da linguagem. Até os cinco anos, é comum que os pequenos apresentem dificuldade na emissão de palavras com sons mais difíceis, podendo chegar a hesitar, prolongar alguns sons e a repetir algumas sílabas ou palavras.
Mas, afinal, como saber quando você deve se preocupar com esses sinais?
Há quem aconselhe os pais a ignorar esse comportamento, pois dizem que é temporário. De fato, para algumas crianças, a disfluência tem recuperação espontânea e tende a diminuir logo que a linguagem se desenvolve.
Existem três tipos de disfluência: a normal, a leve ou a grave. Na última, a criança gagueja em mais de 10% da fala, além de ter um bloqueio para falar e certa tensão associada à movimentos faciais e corporais.
O profissional indicado para realizar um diagnóstico diferencial e o tratamento é o fonoaudiólogo. Se for realizado precocemente, a possibilidade do sucesso terapêutico é maior, tendo em vista que a criança apresenta condições mais favoráveis durante os anos pré-escolares. Por isso, a gagueira infantil envolve, além da terapia fonoaudiológica, a participação dos familiares e professores.
Conteúdo deste artigo
Como é feito o tratamento para disfluência?
O tratamento é baseado em uma avaliação completa da fluência da fala e outros fatores de linguagem, além de uma análise de componentes emocionais. Geralmente, o tratamento é realizado de forma individualizada, de acordo com as especificidades de cada paciente.
Alguns dos itens básicos que os fonoaudiólogos costumam utilizar para tratar crianças com disfluência são:
1. Dinâmica familiar
O profissional busca trabalhar as atitudes dos familiares para evitar que piorem a disfluência do filho. Para isso, é necessário desconstruir o tabu em volta do tema e se munir de estratégias para não pressionar a criança para falar.
2. Eliminar o mito de 100% de fluência
Normalmente, a fala da grande maioria das pessoas (especialmente na infância) não é perfeita e apresenta hesitações, pausas e reformulações, pois acontece de forma espontânea. Atingir total fluência pode ocorrer apenas em leituras ensaiadas ou em falas decoradas. O fonoaudiólogo busca desconstruir esse mito para que a criança e, principalmente, a família possam ajustar as expectativas e as exigências.
3. Assumir a gagueira
A vergonha e o sentimento de culpa por não conseguir se expressar também pode provocar a negação da gagueira. O profissional encoraja a criança a reconhecer e assumir suas dificuldades para avançar no processo de tratamento. Uma das estratégias é realizar gravações de áudio ou vídeo em busca de reconhecer os desafios a serem enfrentados.
4. Resposta de congelamento (“freezing”)
Sentimentos como medo, ansiedade, insegurança e vergonha podem piorar a disfluência porque disparam a resposta de congelamento, ou seja, do pânico em realizar alguma tarefa, como conversar com outras pessoas. Esse é um estado de diminuição dos movimentos do corpo, inclusive da vocalização. Para lidar com essa situação, é preciso aprender estratégias para contornar o nervosismo, antes de, efetivamente, fazer exercícios de fonética.
5. Exercícios facilitadores
Realizar relaxamentos e alongamentos específicos para lábios, língua, pescoço e ombros podem auxiliar na percepção e na diminuição da tensão muscular, que frequentemente está aumentada na pessoa que tem algum distúrbio na fala.
Um erro muito comum nas famílias é evitar, a todo custo, a ajuda de especialistas. Se você percebe que o seu filho precisa de um acompanhamento profissional, não postergue essa decisão.
Com o atendimento adequado, os bons resultados podem ser vistos rapidamente. Pesquisas com neuroimagem funcional demonstram que o tratamento fonoaudiológico produz mudanças na maneira como o cérebro processa a fala. As melhorias são desencadeadas pelas técnicas fonoaudiológicas. Então, não se esqueça: fique atento aos sinais e procure um profissional para esclarecer suas dúvidas e facilitar a vida dos seus filhos!
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/comunicacao/como-o-fonoaudiologo-pode-ajudar-uma-crianca-com-disfluencia/