A ceia é um conto da autora Lygia Fagundes Telles, datado do ano de 1958, e que faz parte da obra Antes do baile verde (livro de contos).
O conto começa com a descrição do último encontro de um casal: Alice e Eduardo. A narração do conto é focalizada com uma visão externa, e o narrador é heterodiegético. Começa então o conto com a descrição do cenário como um restaurante pobre, decadente e pouco frequentado, e que tinha um “abajur feito de garrafa” em cada mesa coberta por toalhas “xadrez vermelho e branco”.
Ao escolherem a mesa, a mais escura do restaurante, a mulher apaga o abajur a ponto de o homem nem conseguir ler o cardápio. Aos poucos o narrador vai revelando ao leitor a relação entre aquele casal e como se encontra o seu psicológico e emocional naquela situação. Aparentemente buscavam apenas um lugar para jantar, mas aos poucos o leitor vai percebendo a real situação.
Durante o texto, a autora emprega figuras como metáforas e antíteses para descrever as personagens, em especial a mulher e suas expressões. Tais recursos vão dando a narrativa certa beleza literária.
Aos poucos com as falas das personagens, a preocupação que a mulher parece ter com o homem, os assuntos que vão conversando, o leitor vai percebendo que eles formavam um casal, e que haviam se separado por meio de um fora “horrível”, por este motivo, Alice pedira um novo encontro.
O narrador, que é observador, evidencia gestos e expressões das personagens, dando ao leitor a liberdade de interpretá-los e supor os sentimentos que acometiam aquele casal.
Vejamos alguns exemplos retirados do texto:
“Ele baixou a cabeça. Mordiscou o lábio.”
“Ele fechou as mãos e bateu com os punhos na mesa, golpeando-a compassadamente.”
“Ela despejou mais vinho no copo. Bebeu de olhos fechados. E ficou com a borda do copo comprimindo o lábio.”
E em outros momentos mostra diálogos travados pelas personagens, demonstrando também neles os sentimentos que o casal tinha um pelo outro:
“Só sei que não tenho culpa, Alice. Já disse mil vezes que não pretendia romper, mas aconteceu, aconteceu. Não tenho culpa!... “
“Mas, ao menos, Eduardo... ao menos você podia ter esperado um pouco para me substituir, não podia? Não vê que foi depressa demais? Será que você não vê que foi depressa demais? Não vê que ainda não estou preparada? Hein, Eduardo?...”
Eduardo, no momento prestes a se casar com outra mulher, se mostra desconfortável, já Alice, demonstra querer manter o relacionamento, a ponto de chamar a atenção do moço para o perfume novo, o corte de cabelo diferente.
Aos poucos a moça vai se descontrolando, até chegar ao clima mais tenso da narrativa, o clímax, quando ela se desespera e se descontrola:
“Ela riu. E atirou-se contra ele, abraçando-o, ‘Eduardo, eu te amo!’
– Eu te amo!”
– Alice – murmurou ele, levantando a cabeça. Estava impassível, rijo.
Fechou os punhos. – Alice, não dê escândalo, não continue...
Ela rebentou em soluços, escondendo a cara.
– Você me amava, Eduardo, eu sei que você me amava!”
Em seguida Alice começa a perguntar pela rival e a ser irônica, e finalmente pede que Eduardo vá embora e diz que quer ficar sozinha, e ele sem pensar vai embora. Ao final do conto, o autor reserva uma grande ironia, quando o garçon a vendo sozinha se aproxima:
“– A madama está se sentindo mal?
Ela abriu os dedos. Rolou na mesa uma bolinha compacta e escura.
– Estou bem, é que tivemos uma discussão.
O garçom recolheu o pão e o vinho. Suspirou.
– Também discuto às vezes com a minha velha, mas depois fico chateado à beça. Mãe sempre tem razão – murmurou, ajudando-a a levantar-se.”
Fonte:
http://www.passeiweb.com/na_
http://seer.fclar.unesp.br/
http://www.periodicos.letras.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/contos/a-ceia/