Em todas as denominações cristãs existe um conceito essencial de restauracionismo que se liga ao primitivismo, às origens da Igreja cristã primitiva conforme relatos do Novo Testamento. E, contra todo tipo de desvio doutrinário ou práticas de corrupção na religião cristã são tidos como heresias ou desvios nos ensinamentos que vinham desde os apóstolos. Sempre a Igreja primitiva do Novo Testamento, da era apostólica, quando se iniciou o cristianismo, serve de modelo para esse primitivismo e restauracionismo.
Algumas denominações cristãs adotaram o Restauracionismo ou Primitivismo Cristão como sua postura histórico-teológica, por acreditarem que o cristianismo histórico se desviou da rota original ou se perdeu em sua trajetória histórica. Para esses movimentos restauracionistas ou primitivistas, faz-se necessária a restauração daquele cristianismo primitivo da era apostólica, baseadas em pressupostos históricos e teológicos com tudo que Jesus Cristo havia estabelecido, mas que as Igrejas perderam em sua apostasia (abandono de fé) e nem mesmo o protestantismo magisterial (luteranismo, calvinismo e anglicanismo) conseguiu reformar o catolicismo.
Entre os movimentos restauracionistas ou primitivistas se encontram os movimentos, no período medieval, como os Valdenses, os Franciscanos e os Hussitas, que tentaram restaurar o cristianismo original e sua simplicidade. Portanto, também na Igreja Católica ocorreram estes e outros movimentos restauracionistas, como a Igreja Vétero-Católica e o Sedevacantismo.
A Reforma protestante iniciada por Lutero é um tipo de restauracionismo e via-se como continuidade do cristianismo primitivo que fora interrompido pelo catolicismo.
No período da Reforma Protestante, houve a chamada restauração da igreja por meio dos movimentos chamados de magisteriais (o Luteranismo, o Calvinismo e o Anglicanismo), mas desencadearam outros movimentos mais radicais e primitivistas, como o dos anabatistas, socinianos e schwelkenfelders que rejeitaram qualquer necessidade de continuação histórica e que desejavam restaurar suas perspectivas do cristianismo primitivo, reconstruir a igreja primitiva e que foi chamado de movimento de Reforma Radical.
Na Inglaterra dos séculos 16 e 17, os movimentos restauracionistas dos protestantes foram chamados de puritanos. No século 19, se desencadeou o Restauracionismo anglo-americano, na Inglaterra e nos EUA, que pregava a restauração espiritual do cristianismo primitivo, por meio do pastor presbiteriano Edward Irving, ou a restauração de um cristianismo simples e adenominacional, numa interpretação dispensacionalista, com os Irmãos de Plymouth do pastor John Darby.
Nos EUA, a partir de novas visões de líderes religiosos, surgiram mais movimentos, posteriormente, como o Adventismo, o Mormonismo e as Testemunhas de Jeová - movimentos que visavam restabelecer uma igreja visível e restaurada.
Ocorreu o chamado “Segundo Grande Despertar” nos EUA, com movimentos restauracionistas que pregavam um cristianismo não-credal e sem barreiras denominacionais. Posteriormente, o Mormonismo, o Adventismo e os Testemunhas de Jeová, movimentos que tentaram restabelecer uma igreja visível e restaurada conforme novas perspectivas.
Os adventistas do Sétimo Dia inseriram os escritos de Ellen Gould White com “revelações” sobre a guarda do Sábado, o estado inconsciente dos mortos, a regulação dietética do Antigo Testamento etc. Os Testemunhas de Jeová passaram a pregar que a sua organização foi prevista na Bíblia como restauração da igreja primitiva para proclamar a mensagem original do cristianismo e acreditam que todas as outras religiões cristãs são apóstatas e “Babilônia”. Essas TJ rejeitam doutrinas basilares como a Trindade, conceito de inferno como lugar de tormento, e se abstêm de participação em assuntos políticos e na guerra. Os Mórmons ou Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias creem na restauração da Bíblia a partir do Livro de Mórmon, escrito por Joseph Smith.
Há primitivistas ou restauracionistas que se veem como continuidade ininterrupta da Igreja Primitiva e, portanto, não se identificam com as igrejas que julgam como “corrompidas” ou “desviadas”, como as católicas, romana ou ortodoxa, ou as diversas igrejas protestantes. Esse tipo de cristianismo puro sobrevive por meio de grupos pequenos e marginais, sendo considerados pelas igrejas oficiais como movimentos heréticos.
Referências bibliográficas:
CHAUNU, Pierre. O tempo das reformas (1250-1550): a Reforma protestante. Lugar na História, v. 49-50, Edições 70, 1993.
MARTINA, Giacomo. História da Igreja: de Lutero aos nossos dias. V. 1: A era da Reforma. São Paulo: Loyola, 1997.
SILVESTRE, Armando A. Calvino: o potencial revolucionário de um pensamento. São Paulo: Vida, 2009.
Webgrafia:
Sobre o cristianismo – restauracionismo (parte 14). http://psicologiadareligiaounicap.blogspot.com.br/2016/08/cristianismo-parte-14-restauracionismo.html