Após a Segunda Guerra Mundial, o mundo experimentou um crescimento econômico que modificou a política imperialista que até ali se operava. Através da implantação de multinacionais em países do chamado “Terceiro Mundo”, os países imperialistas passaram a ter grande participação na economia dessas nações, poder que se estendeu para a política, sobretudo quando o governo em vigência oferecia empecilhos à política econômica dos países de origem das multinacionais.
Nacionalismo X Imperialismo
Isso ocorreu no Brasil em dois momentos: durante o Segundo Governo Vargas, no qual sua política nacionalista foi um entrave para a dominação econômica planejada pelos EUA no Cone Sul, e durante o governo de João Goulart, cuja política de tendências socialistas alarmou novamente os EUA.
A dominação política era fundamental para que essas empresas conseguissem o seu objetivo principal: operar a transferência de riquezas dos países explorados para o país sede. Portanto, governos latino-americanos de tendências nacionalistas e socialistas eram vistos como inimigos pelo país hegemônico, os EUA, sobretudo no contexto de Guerra Fria.
Durante o período conhecido como “Populista” ou “Democrático” (1946-1964), o Brasil viveu uma série de governos que caracterizaram-se pelo diálogo entre classes dominantes e classes dominadas, buscando manter a riqueza concentrada nas mãos das elites, mas realizando concessões e melhorias de vida para das classes dominadas. Esse modelo tinha como bandeira unificadora o nacionalismo, o que permitiu que grupos de esquerda crescessem progressivamente com a ideia de combate ao imperialismo e de defesa das riquezas nacionais.
Ao mesmo tempo, forças nacionalistas de direita se organizavam em torno da aliança entre a burguesia nacional, multinacionais e militares, através da Escola Superior de Guerra (ESG), que desenvolveu, durante a década de 1950, a Doutrina de Segurança Nacional (DSN) a fim de frear o crescimento da esquerda socialista e comunista no país, afinal, o Brasil era declaradamente alinhado com o bloco capitalista na Guerra Fria.
Jango e a Operação Brother Sam
Dessa forma, o breve governo de Jânio Quadros, e posteriormente o de João Goulart (Jango), ofereceram resistência a esses grupos de direita, uma vez que declararam-se não-alinhados nem aos EUA nem à URSS, ao mesmo tempo que promoveram a aproximação com a Rússia e chegaram a premiar com honras o líder comunista Che Guevara.
Após o anúncio das Reformas de Base, por Jango, esses grupos, alinhados já há cerca de três anos com o governo norte-americano, estavam prontos para apoiar as tropas rebeldes em 31 de março de 1964, quando a operação foi deflagrada. Foram reunidos em uma base militar em Nova Jersey (EUA) seis destróires, um porta-aviões, aviões de caça e toneladas de armas e munição prontos para serem enviados para o Brasil, caso houvesse resistência ao Golpe de 1964.
A Operação Brother Sam foi articulada entre militares e civis de direita tendo o apoio americano através do diplomata Lincoln Gordon e da CIA. Como não houve resistência aos militares, a operação não precisou sair de solo americano.
No final da década de 1970, os documentos sobre a operação foram descobertos pela historiadora Phyllis Parker, que a trouxe a conhecimento público. No final daquela mesma década, diante dos horrores dos anos de chumbo e do caminho tomado pela ditadura no Brasil, o governo norte-americano e o próprio diplomata, Gordon, declararam-se chocados com os rumos tomados pelo movimento de 1964.
Bibliografia:
BUENO, Eduardo. O Golpe de 64. In: Brasil: uma História: cinco séculos de um país em construção. Rio de Janeiro: Leya, 2012, p. 386-401.
PAES, Maria Helena Simões. Em nome da Segurança Nacional: do golpe de 64 ao início da abertura. São Paulo: Atual, 1995.