A Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) foi um movimento de guerrilha que atuou durante a ditadura militar no Brasil. Contrários a posição do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e a sua inoperância frente ao Golpe de 1964, os integrantes do grupo eram dissidentes da POLOP, militares cassados no início do regime militar – muitos do MNR – e outros que vieram a abandonar o quartel da 4ª Infantaria de Osasco com armas e munição, dentre eles Carlos Lamarca.
O início da VPR e seus ideais
O nome do grupo, criado em 1966, foi dado por Joaquim Quartim, também idealizador da estratégia de luta. Em dezembro de 1968, durante um congresso da VPR, o grupo optou pela luta armada com ações nos centros urbanos e planos de articulação e guerrilha rural. As ações nos centros urbanos seriam para divulgar o movimento e obter apoio popular. Já as ações no campo seria a alma da revolução, conforme o modelo da Revolução Cubana. Assim, os integrantes da VPR se colocavam como combatentes a serviço da população explorada ou excluída pelo sistema capitalista.
Em 1966, Caio Prado Júnior publicou “A revolução brasileira”, obra na qual analisou a visão da esquerda nacional sobre a obra de Marx e Engels, apontando imprecisões geradas pela transposição do modelo teórico para a realidade brasileira sem as devidas ponderações, o que levava à dificuldades de mobilização dos grupos que poderiam operar o processo revolucionário.
Essa obra influenciou diversos movimentos de esquerda, dentre eles a VPR que concluiu que não haveriam etapas nem alianças a serem respeitadas na luta contra seu inimigo, o imperialismo que, através dos militares e do empresariado nacional, havia tomado o poder em 1964. Para isso, fortaleceriam a união entre proletários e grupos marginalizados, entendendo que estes também eram vítimas do capitalismo através do impedimento de sua participação na vida econômica na nação.
Ações da VPR
Operários de Osasco que se integraram a VPR iniciaram a greve da COBRASMA em 1968. Estudantes e operários da VPR também foram responsáveis pela pedrada levada pelo governador de São Paulo, Abreu Sodré, no 1º de Maio festejado na Praça da Sé, na capital paulista. Após deixar o palanque, os militantes tomaram o microfone e, após discursarem, saíram em passeata.
Após uma série de prisões de integrantes da VPR e do Comando de Libertação Nacional (COLINA) na primeira metade de 1969, os grupos se uniram formando a Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares), que teve vida curta, terminando em setembro do mesmo ano.
Em seguida, a VPR procurou colocar em prática a guerrilha rural, criando um centro de treinamento no Vale da Ribeira, comandado por Lamarca.
Nesse contexto, um de seus integrantes, Chizou Ozawa, foi preso e torturado pelo delegado Fleury e, para obter sua libertação, o grupo sequestrou o cônsul do Japão. Apesar da libertação de Ozawa, outros integrantes foram pegos e indicaram o local onde ficava o centro de treinamentos da VPR. Entre abril e junho a polícia fez forte cerco na região, mas Lamarca conseguiu escapar.
A VPR participou de mais dois sequestros: o do embaixador da Alemanha e do embaixador da Suíça, em 1970. Depois desses episódios, Lamarca saiu do movimento por acreditar que era necessário um recuo na luta armada em prol do trabalho com as massas. Após unir-se com o MR-8, foi atuar no interior da Bahia, onde foi morto pela polícia com outro ex-membro da VPR, José Campos Barreto.
O movimento continuou sob o comando do sargento Onofre Pinto até 1974, quando uma série de traições e conspirações levaram a sua morte em uma emboscada, também protagonizada por Fleury, e ao fim da VPR.
Bibliografia:
MACIEL, Wilma Antunes. VPR: contra a ditadura, pela revolução. In: SALES, Jean Rodrigues (org.). Guerrilha e revolução: a luta armada contra a ditadura militar no Brasil. Rio de Janeiro: lamparina, FAPERJ, 2015, p. 96-110.
REIS FILHO, Daniel Aarão; SÁ, Jair Ferreira de (org.). Imagens da revolução: documentos políticos das organizaçõesmclandestinas de esquerda dos anos 1961-1971. São Paulo: Expressão Popular, 2006.