A Mionecrose Infecciosa é uma doença que acomete os crustáceos, de etiologia viral, um RNA-vírus da Família Totiviridae. Esta doença é de notificação obrigatória pela OIE e foi notificada pelo Brasil. Este vírus tem grande resistência aos métodos mais comuns de desinfecção em uso na aquicultura como a secagem e cloração.
Camarões jovens e sub-adultos de águas salgadas são os mais acometidos. O hospedeiro principal é o camarão Litopenaeus vannamei sendo relatados surtos e mortalidade. Não são encontrados na natureza nos camarões: Litopenaeus stylirostris e nem no Penaeus monodon, porém são relatados em experimentações animais nos estudos científicos. A disseminação é feita por vetores mecânicos, como regurgito e fezes de aves marinhas que se alimentam de camarões infectados e mortos que estavam contaminados com o vírus. Há relato de hospedeiros aquáticos selvagens peneídeos no nordeste do Brasil.
As principais regiões do organismo acometidas são as musculaturas estriadas, principalmente a musculatura estriada esquelética, o tecido conjuntivo, órgãos linfoides e os hemócitos. A infecção persistente cursando ao longo da vida do camarão. Os fatores estressantes causam surtos de grande mortalidade como as mudanças de salinidade e de temperatura, as capturas com redes e o arraçoamento (observam-se camarões mortos com intestino cheio).
A principal transmissão é pelo canibalismo. Existem suspeitas de transmissão pela água, mas não há comprovação científica. A manifestação clínica é a letargia após o estresse, zonas necróticas brancas no abdome distal e repleção intestinal. Há aumento FCR (feed conversion ratios) de 1,5 para 4. A mortalidade em cultivos de L. vannamei varia de 40-70%. A distribuição geográfica da doença se dá no nordeste do Brasil, sudeste Asiático e leste da Ilha de Java.
Práticas de manejo como o uso de vazio sanitário, repovoamento com espécies livres ou SPF (livre de patógeno específico), água e sistemas biológicos seguros são recomendáveis. Não existem vacinas e nem drogas para prevenção e tratamento, somente seleção genética com a linhagem de L. vannamei ou utilizar espécimes resistentes com o repovoamento com L. stylirostrise e P. monodon. Utilizar o PCR para a seleção de reprodutores e ovos é uma ótima opção, pois a técnica não é invasiva e evita inocular o vírus no plantel.
O diagnóstico é clínico-epidemiológico com microscopia e histopatologia, observando-se a necrose de coagulação e edema em torno das fibras musculares e detecção de antígenos. As técnicas moleculares com a hibridização in situ (ISH), RT-PCR também podem ser utilizadas. Os critérios de diagnóstico são baseados em suspeitas da mortalidade após estresse, mortalidade que se segue por vários dias e se a região for enzoótica.
Bibliografia:
MENDES, Emiko Shinozaki. Patologia de camarões de cultivo: um problema sustentável? . Disponível em < http://www.uff.br/mzo/proaquas/images/stories/palestras/Emiko.pdf >
SEIBERT, C. H.; BORSA, M.; ROSA, R. D.; CARGNIN-FERREIRA, E.; PEREIRA, A. M. L.; GRISARD, E. C.; ZANETTI, C. R.; PINTO, A. R. Detection of major capsid protein of infectious myonecrosis virus in shrimps using monoclonal antibodies. Journal of Virological Methods, Amsterdam-Holanda, v. 169, n. 1, p. 169-175, 2010.
Verônica Arns da Silva dissertação: Estudo anatomopatológico da mionecrose infecciosa viral (IMNV) no camarão cultivado, Litopenaeus vannamei, em Pernambuco, Brasil. 2007.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/doencas-animais/mionecrose-infecciosa/