Os agentes transmissores de doenças ou vetores são organismos responsáveis por carrear patógenos em seus corpos, contaminando outros seres vivos. É importante ressaltar que os vetores não são os agentes etiológicos de doenças, uma vez que não são responsáveis pelo desenvolvimento da enfermidade, atuando apenas como um meio de transporte para vírus, bactérias e outros parasitas infecciosos.
Um dos principais agentes transmissores de doenças monitorados por seres humanos são os mosquitos, envolvidos na transmissão de uma série de infecções virais, tais como a dengue, a febre amarela, a Zika, a chikungunya e a febre do Nilo. Mosquitos também atuam na transmissão de doenças causadas por protozoários, como a malária. Devido a sua forma de contágio rápida e fácil, diversas destas doenças afetam milhões de pessoas no mundo todo.
Os três principais gêneros de mosquitos que agem como transmissores de patógenos são Culex, Anopheles e Aedes. O Culex ocorre em todo o mundo, com exceção das regiões frias do hemisfério norte. Este gênero é relacionado a epidemias locais de arbovírus, malária aviária e filariose. As fêmeas do mosquito Anopheles atuam como hospedeiras do protozoário causador da malária, que passa por um estágio de desenvolvimento no corpo do mosquito antes de se tornar infeccioso para humanos. O Aedes é um mosquito facilmente reconhecido por sua coloração preta e branca, causador de diversas doenças virais tropicais. Muitas vezes o controle destes patógenos envolve o combate aos agentes transmissores, com campanhas para evitar o desenvolvimento e sobrevivência das formas larvais dos mosquitos ou com uso de inseticidas. Em todas as espécies citadas, somente as fêmeas transmitem os patógenos causadores das doenças pois elas precisam se alimentar de sangue para maturar os ovos.
Os barbeiros, insetos hematófagos (que se alimentam de sangue) são o vetor do Trypanosoma causador da Doença de Chagas. Após se alimentar, este inseto defeca próximo ao local da picada, que induz coceira, facilitando a introdução do parasita na corrente sanguínea. A tripanossomíase africana, conhecida como doença do sono, é causada por outra espécie de Trypanosoma que utiliza a mosca tsé-tsé como vetor.
Pulgas e piolhos são outros insetos potencialmente transmissores de doença. A peste bubônica, referenciada historicamente como peste negra, foi uma epidemia que vitimou metade da população europeia no século XIV. Sem tratamentos apropriados com antibióticos, como é feito atualmente, e medidas sanitárias, milhões de pessoas sucumbiram. A bactéria causadora da doença ocorre em ratos e foi transmitida para humanos através das pulgas.
As pulgas continuam causando preocupação e precisam ser monitoradas pois muitas vezes chegam nos lares através dos animais de estimação, como cães e gatos. Embora raro, a febre tifoide pode ocorrer em humanos desta forma. A tungíase, causada pela penetração de pulgas da areia nos pés, e a tularemia são outras enfermidades associadas a pulgas.
Os piolhos, comumente transmitidos entre crianças, além de causarem coceira e desconforto nas regiões afetadas, podem transmitir o tifo epidêmico devido a presença da bactéria Rickettsia em suas fezes. O tifo causa muita dor de cabeça e febre, sendo necessário tratamento médico envolvendo antibióticos e a remoção dos piolhos física ou quimicamente.
Muitas destas doenças também são causadas por carrapatos, aracnídeos que parasitam animais domésticos, silvestres e bovinos. No Brasil há grande preocupação com a febre maculosa, transmitida pelo carrapato-estrela infectado com a bactéria Rickettsia, especialmente em locais com ocorrência de capivaras. A febre maculosa causa febre, vermelhidão no local das picadas, dor no corpo e apatia. O não tratamento pode levar ao desenvolvimento de casos graves que afetam rins, pulmões e até mesmo o sistema nervoso, podendo ser fatal.
O parasita Schistosoma, causador da esquistossomose, utiliza como hospedeiro intermediário caramujos, que atuam como agentes transmissores da doença. A principal profilaxia associada a esta doença envolve evitar o contato com corpos d’água em que ocorram caramujos, especialmente aqueles que recebem aporte de despejos de esgoto.
Referências:
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Moffett, A., Strutz, S., Guda, N., González, C., Ferro, M.C., Sánchez-Cordero, V. and Sarkar, S., 2009. A global public database of disease vector and reservoir distributions. PLoS Neglected Tropical Diseases, 3(3), p.e378.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/doencas/agentes-transmissores-de-doencas/