A doença de Fabry, também denominada doença de Anderson-Fabry, é uma doença rara, crônica, que leva a uma isquemia cardíaca, cerebrovascular e especialmente renal.
Essa doença foi identificada por dois dermatologistas quase que concomitantemente, sendo que um encontrava-se na Inglaterra e o outro na Alemanha. Johannes Fabry teria examinado o seu primeiro paciente portador da doença no em abril de 1897 e William Anderson em dezembro do mesmo ano.
Esta afecção apresenta caráter hereditário, encaminhando à deficiência ou a ausência da enzima α-galactosidae (α-Gal A) no organismo dos indivíduos portadores. Encontra-se entre o grupo das 45 doenças de depósito lipossômico. A deficiência enzimática em questão atrapalha a habilidade de decomposição de uma substância adiposa específica a globotriaosilceramida (Gb3). Esta, por sua vez, irá se acumular no organismo, especialmente no endotélio vascular, provocando alterações renais, cardíacas e/ou manifestações cerebrovasculares.
Até hoje, foram identificadas no Brasil 220 indivíduos portadores dessa doença, e acredita-se que no mundo todo existam mais de 25 mil pessoas acometidas pela afecção.
Por esse problema ser congênito, ou seja, a criança já nasce com ele, se faz possível a realização de um diagnóstico precoce, mesmo que o quadro clínico, em geral, surja anos depois. Caso não haja tratamento, a expectativa de vida dos indivíduos do sexo masculino é reduzida para 20 anos e 15 anos para indivíduos do sexo feminino.
Em ambos os sexos, estima-se que possa transcorrer 12 anos entre o começo dos sintomas e o estabelecimento do diagnóstico. Em média, o surgimento dos sintomas nas mulheres se dá seis anos mais tarde quando comparado aos homens.
Inicialmente, as manifestações clínicas mais comuns da doença de Fabry são dermatológicas, neurológicas e gastrointestinais.
Sinais dermatológicos costumam aparecer em aproximadamente 80% dos pacientes, como manchas avermelhadas (angioqueratomas), sendo mais comuns na região da virilha e tronco, distribuição chamada de “calção de banho”.
A dor aparece precocemente, muitas vezes debilitante, sendo observada em cerca de 77% dos pacientes com a doença. É muito comum a presença de tontura, redução da sudorese e, conseqüentemente, baixa tolerância ao calor e prática de exercícios físicos.
Mais de 50% dos pacientes apresentam certo tipo de comprometimento do sistema gastrointestinal, exibindo dores abdominais, distensão, diarréia, crises alternadas de intestino preso e solto, falta de apetite, saciedade prematura, náuseas e vômito.
Pacientes que não foram diagnosticados precocemente e não receberam o tratamento adequado, podem evoluir para quadros de insuficiência renal crônica, acidente vascular cerebral (AVC) ou um ataque isquêmico transitório e disfunções cardíacas. Acometimento da córnea e cristalino, como catarata e opacificação, também podem ser observados no curso da doença.
O maior desafio dessa doença é justamente o diagnóstico precoce, pois além de ser uma doença rara, é pouco conhecida pelas pessoas e não apresenta características físicas, como no caso de outras enfermidades.
Nos homens, a confirmação do diagnóstico é realizada por meio de um exame de sangue que mede a atividade da enzima α-Gal A. Já no caso das mulheres, como estas apresentam atividade dessa enzima dentro da normalidade, o ideal é que o médico solicite a analise de DNA das mulheres com suspeita da afecção. Além disso, para ambos os sexos, a análise do heredograma (árvore genealógica) é importante, permitindo que o médico analise toda a família e o padrão hereditário da doença, além de evidenciar quais os familiares são portadores da doença.
O diagnóstico pré-natal é possível e pode ser solicitado para filhos de pacientes portadores da doença de Fabry.
Como essa doença é multissitêmica, outros exames podem ser solicitados para verificar sinais sugestivos da doença, como:
- Exame oftalmológico para observar se há a presença de córnea verticilada;
- Exames de urina para verificar se há proteinúria ou para avaliar a função renal do paciente;
- Exames de imagem do coração e do cérebro à procura de sinais específicos da doença.
O tratamento é feito por meio da terapia de reposição enzimática (TRE), oriunda da tecnologia de DNA recombinante, responsável por modificar geneticamente células para síntese de enzimas. Atualmente, há duas terapias específicas para a doença de Fabry aprovadas pela Anvisa, sendo que uma delas é derivada de células humanas (princípio ativo α-galsidade) e a outra de células ovarianas de hamster chinês (princípio ativo β-galsidae). A administração dessa terapia se dá por via intravenosa, a cada duas semanas.
Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Doença_de_Fabry
http://www.fabry.org.br/
http://www.genzyme.com.br/thera/fz/br_p_tp_thera-fz.asp
http://www.mdsaude.com/2010/02/doenca-de-fabry.html