A doença de Gaucher é uma afecção de origem genética relacionada com o depósito lisossomal, que apresenta como característica o acúmulo de glucosilceramida nos macrófagos/monócitos. Essa doença encontra-se dentro de um conjunto no qual participa mais de 40 enfermidades genéticas caracterizadas pela ausência de uma ou mais enzimas, afetando 1 entre cada 50.000 a 100.000 indivíduos.
Ocorre devido a uma deficiência da enzima lisossomal β-glicosidase ácida, também conhecida como glicocerebrosidase. Sua tarefa, em indivíduos livres da doença, é realizar a quebra de um substrato lipídico, o glicocerebrosídeo, no interior da célula. Em consequência da alteração no gene responsável por produzir a enzima em questão, sua quantidade é insuficiente não apresenta capacidade de decompor o substrato na velocidade ideal, passando a acumular-se nos ribossomos.
Os lisossomos situados no interior dos macrófagos são organelas responsáveis por remover os restos celulares. Contudo, devido ao acúmulo de substrato lipídico nessas estruturas, os macrófagos ficam impossibilitados de realizar sua função, passando a receber o nome de células de Gaucher.
Estas células tendem a acumular no fígado, baço, pulmões e medula óssea; rins, linfonodos e pele também podem ser acometidos. Menos frequentemente encontra-se acúmulo nos tecidos do sistema nervoso central. Os órgãos afetados geralmente hipertrofiam, levando a manifestações clínicas variáveis.
São descritos três tipos da doença:
- Tipo 1 ou forma não neuropática: este é o tipo mais comum, representando aproximadamente 90% dos casos. Acomete crianças e adultos, com idade inicial dos sintomas variável. As manifestações clínicas/sinais clínicos normalmente apresentadas são hepatomegalia, esplenomegalia, avançando para hiperesplenismo com progressiva anemia, trombocitopenia e leucopenia. Esse quadro pode vir acompanhado por fadiga, cansaço, plenitude gástrica pós-prandial e retardo de crescimento em crianças. O acúmulo do substrato lipídico na medula óssea causa osteopenia, lesões líticas, fraturas patológicas, dor óssea crônica, crises ósseas, infarto e osteonecrose. Foi observada também uma maior incidência de neoplasias ósseas em pacientes com essa doença. A progressão do quadro varia e a sobrevida pode encontrar-se dentro da normalidade.
- Tipo 2 ou forma neuropática aguda: neste tipo ocorre comprometimento severo do sistema nervoso central e sintomatologia precoce na infância. Acomete lactantes com 4 a 5 meses de vida, comprometendo o cérebro, fígado e pulmões. O quadro neurológico é grave, apresentando repetidas convulsões, hipertonia, apnéia e progressivo retardo mental. A evolução é acelerada, evoluindo para o óbito dentro dos dois primeiros anos de vida, normalmente devido ao comprometimento pulmonar.
- Tipo 3 ou forma neuropática crônica: acomete crianças e adolescentes, geralmente iniciando-se na idade pré-escolar. Afeta cérebro, baço, fígado e ossos. A evolução do quadro neurológico varia, porém é mais leve do que a do tipo 2. A sobrevida gira em torno de 20 a 30 anos.
O diagnóstico mais confiável é feito por meio da dosagem da atividade da enzima β-glicosidase nos leucócitos ou nos fibroblastos. Quando houver dúvidas quanto ao diagnóstico, pode ser realizada uma biópsia da medula óssea, ou mielograma, onde podem ser encontradas as células de Gaucher.
Foi desenvolvido um tratamento a partir da extração de enzimas presentes na placenta humana, que passou a ser usado a partir de 1991. Foi apenas em 1994 que a enzima passou a ser produzida sinteticamente, por meio da técnica de DNA recombinante, possibilitando sua maior disseminação.
Hoje em dia, são utilizadas novas abordagens terapêuticas, chamada de terapia de redução do substrato, utilizada por via oral. Esta terapia atua reduzindo a síntese de lipídeos, precavendo o acúmulo destes.
Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Doença_de_Gaucher
https://web.archive.org/web/20120223192102/http://www.doencadegaucher.com.br:80/pacientes/conheca_gaucher/que_e_gaucher.aspx
http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/gaucher_pcdt.pdf
http://apps.einstein.br/revista/arquivos/PDF/527-Einstein5-1_Online_IM527_pg78-79.pdf