Febre Catarral Maligna

Graduada em Medicina Veterinária (UFMS, 2009)

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A febre catarral maligna (FCM) é uma doença infecciosa, pansistêmica, causada por um vírus que afeta ruminantes domésticos e silvestres, e ocasionalmente, suínos. Dentre os ruminantes, o mais afetado são os bovinos. Geralmente, esta doença ocorre de forma esporádica, afetando poucos animais, entretanto pode ocorrer na forma de surto, chegando a afetar até metade de um rebanho.

Esta doença não é causada apenas por um vírus, mas sim por vários tipos de herpesvírus. Um dos agentes etiológicos desta doença pertence ao gênero Rhadinovirus, família Gammaherpesvirinae e são espécie-específicos. Até os dias de hoje, foram identificados nove vírus que pertencem ao grupo causador da FCM, sendo quatro deles associados à doença clínica em animais. A forma africana, ou FCM gnu-associada (FCM-GA) é causada pela cepa Alcelaphine Herpesvírus 1 (AlHV-1) e é transmitida por gnus; a forma conhecida como ovino-associada (FCM-AO) é causada pelo Herpesvírus Ovino 2 (OvHV-2), sendo transmitida pelos ovinos.

Os gnus são os portadores assintomáticos da forma africana da doença, infectando-se durante os primeiros dois a três meses de vida, tornando-se virêmicos, eliminando o vírus AIHV-1 nas secreções oculares e nasais. Deste modo, a contaminação se dá por inalação de aerossóis ou ingestão de alimentos contaminados.

Os ovinos são os reservatórios da forma americana. A transmissão do OvHV-2 para os bovinos e outros ruminantes ocorre está associada ao período perinatal dos ovinos, sendo que a maior concentração de carga viral nestes animais se dá entre 6 e 9 meses de vida.

Ainda não se sabe ao certo como ocorre a patogênese das lesões vasculares. Os vírus não estão presentes nas lesões teciduais, indicando que o dano tecidual deve ser resultado da proliferação e disfunção de linfócitos T citotóxicos induzida pelo vírus. Embora não se conheça ao certo como os linfócitos TCD8 são recrutados e quais os danos teciduais, é conhecido que o infiltrado predominante nas lesões da forma aguda da doença é infectada por OvHV-2. Estas evidências sugerem uma probabilidade da patogênese ser primariamente relacionada à interação direta do vírus com as células, ou talvez, a resposta imunomediada contra as células infectadas.

Este vírus tem um período de incubação de 3 a 10 semanas, podendo chegar a 200 dias. O curso da FCM geralmente é de 3 a 7 dias, raramente prolongando-se por mais tempo. Conforme a apresentação, intensidade e duração dos sintomas, esta doença pode ser classificada como:

  • Hiperagura: nesta forma o curso clínico varia de 1 a 3 dias e os animais apresentam febre alta, dispnéia, gastrenterite hemorrágica aguda e perda de peso. Pode ocorrer morte súbita na ausência de sinais prévios.
  • “Cabeça-de-alho”: é a síndrome clássica da FCM, onde há um súbito aparecimento de sinais relacionados à cavidade oral, oculares, respiratórios e febre. No início os animais apresentam secreção ocular (serosa ou seromucosa, podendo se tornar mucopurulenta), opacidade da córnea junto com diversos outros sintomas oculares, como hiperemia da conjuntiva, edema de pálpebra, blefarospasmos e fotofobia. Quanto aos sinais respiratórios estão incluídos, além da descarga nasal, dispnéia e estertor; congestão e necrose superficial na mucosa nasal; epistaxe bilateral intensa e tosse podem estar presentes. Em diversas regiões da boca podem aparecer hiperemia e erosões focais ou difusas; sialorréia.
  • Encefálica: posteriormente podem surgir sinais clínicos nervosos consistindo em letargia, fraqueza, incoordenação, ataxia, agressividade, convulsões, tremores musculares, nistagmo, pressão de cabeça contra objetos e paralisia.
  • Dérmica: lesões na pele geralmente são comuns na forma ovino-associada, mas acabam por passar despercebidas. Em casos de longa duração são observadas hiperemia, pápulas e exantema com exudação e crostas em diversas regiões do corpo do animal.
  • Digestiva: caracterizada por diarréia fétida, profusa, podendo ser hemorrágica. Também são encontradas pequenas alterações oculares como, conjuntivite, lacrimejamento, fotofobia, febre, hiperemia nas mucosas oral e nasal, linfadenopatia, perda de peso e hiperemia do focinho. Esta forma é mais comum em bovinos em confinamento que estão em contato direto com ovinos.
  • Forma leve ou branda: mais descrita em animais de experimento. Os sinais apresentados são, febre transitória, discretas erosões nas mucosas oral e nasal, catarro nasal, diarréia com muco e lesões ulcerativas entre os dígitos. Pode haver completa recuperação ou pode evoluir para FCM crônica.

O diagnóstico geralmente é feito com base no histórico clínico, epidemiologia, achados clínicopatológicos e, em certos casos, através de sorologia e determinação genômica do DNA viral no sangue ou em fragmentos teciduais.

Não há um tratamento específico para Febre Catarral Maligna. Devem ser tomadas algumas medidas de controle, como minimizar o contato entre bovinos e ovinos, especialmente durante a fase de parição de cordeiros; não expor o gado a animais selvagens africanos. Até hoje não foi fabricada uma vacina que seja eficiente no controle desta doença.

Fontes:
http://www.scientificcircle.com/pt/58206/febre-catarral-maligna-bovinos-estado-mato-grosso/
http://tapajo.unipar.br/site/ensino/pesquisa/publicacoes/revistas/revis/view03.php?ar_id=1702
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-736X2007000700004&script=sci_arttext
https://web.archive.org/web/20100413200928/http://www.vallee.com.br:80/doencas.php/2/29
http://coralx.ufsm.br/ppgmv/shana.pdf

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