A hemoglobinúria paroxística noturna (HPN), também chamada de doença de Marchiafava e Michelli, trata-se de uma rara anemia hemolítica crônica de início insidioso e curso crônico, ocasionada por um defeito na membrana dos eritrócitos e que se caracteriza pela hematúria.
Esta patologia acomete ambos os sexos igualmente, sendo descrita em indivíduos de diferentes etnias e sem predisposição familiar.
Foi no final do século XIX que Gull e, por conseguinte, Strübing relataram casos de pacientes que apresentavam hemoglobinúria intermitente associada à hemólise intravascular. No entanto, o quadro clínico foi estabelecido somente por Marchiafava e Nazani no ano de 1911, e depois por Michelli, em 1931.
Atualmente, a HPN é definida como uma doença da célula-tronco hematopoiética. Na década de 1980, a citometria de fluxo, e mais recentemente a biologia molecular proporcionaram um grande progresso na elucidação da fisiopatologia desta patologia.
Desde os primórdios da descrição da HPN, a sensibilidade dos eritrócitos e a ação lítica do complemento (as proteínas do sistema imune) foram estabelecidas como as principais características da patologia.
No começo da década de 1980, pesquisadores evidenciaram que 2 proteínas responsáveis por inibirem a ação do complemento não são observadaa em pacientes com a HPN, sendo essas duas moléculas a DAF (decay accelerating factor), também chamada de CD55 e a MIRL (membrane inhibitor of reactive lysis), também conhecida como CD59.
Mais recentemente, um grupo de pesquisadores demonstrou que a presença da HPN está associada a alterações de um gene, o PIG-A, localizado no cromossomo X.
Existem, no mínimo, três populações de células HPN que apresentam sensibilidades distintas à lise mediada pelo complemento. São elas:
- HPN tipo I: reage com o complemento de forma normal.
- HPN tipo II: possui sensibilidade moderada, entre 3 a 5 vezes tão sensível à lise do complemento quanto as células normais.
- HPN tipo III: entre 15 a 25 vezes mais suscetível è lise do complemento.
Deste modo, a intensidade das manifestações clínicas fica na dependência da quantidade de células HPNIII. No quadro clínico clássico desta está presente a anemia hemolítica e a existência de subprodutos da hemólise na urina, ficando a mesma com uma coloração escura. Em certos casos, o paciente também apresenta icterícia e esplenomegalia. Juntamente com a anemia observa-se um sinal de regeneração moderada e certo nível de insuficiência medular. A sintomatologia clássica compreende fadiga, falta de ar e cefaleia.
Ao passo que o quadro evolui, uma das maiores complicações é a trombose, sendo que os dois locais mais preocupantes são nas veias supra-hepáticas e no sistema nervoso central. Outros possíveis problemas incluem as crises dolorosas abdominais (de etiologia ainda incerta), as infecções recorrentes, ocasionadas pela leucopenia e os problemas de coagulação, em decorrência da plaquetopenia.
Antigamente, o diagnóstico era alcançado através da demonstração da anormal sensibilidade dos eritrócitos à ação lítica do complemento pelo teste de Ham e da sacarose. Nos dias de hoje, é possível evidenciar a presença das proteínas CD55 e CD59 na membrana das células sanguíneas, por meio da imunofluorescência direta.
O tratamento da HPN é sintomático. Comumente são necessárias transfusões de hemocomponentes e reposição de ácido fólico e ferro de forma adequada, pois este último pode levar ao aumento da hemólise. Também são utilizados corticoides em baixas doses para reduzir a taxa de hemólise em certos pacientes. Em pacientes que apresentam anemia, pode-se utilizar andrógenos. Deve-se evitar o uso de anticoncepcionais orais, pois estes aumentam o risco de trombose.
Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Hemoglobin%C3%BAria_parox%C3%ADstica_noturna
http://www.fleury.com.br/Medicos/SaudeEmDia/Artigos/Pages/Hemoglobin%C3%BAriaParox%C3%ADsticaNoturna(HPN).aspx
http://www.ciencianews.com.br/revistavirtual/artannakarla.pdf
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-84842002000400006