Leishmaniose visceral Canina

Graduada em Medicina Veterinária (UFMS, 2009)

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A leishmaniose visceral canina (LVC) possui como agente etiológico o protozoário Leishmania donovani chagasi, transmitido por meio da picada do flebotomineo Lutzomyia longipalpis (popularmente conhecido no Brasil por mosquito palha) que está contaminado com o parasita em questão. Esta doença é uma zoonose, ou seja, é transmitida dos seres humanos para os animais e vice-versa, acometendo, em especial, o cão doméstico. Neste último, ao contrário do que acontece nos humanos, a doença normalmente acomete animais sadios.

Este protozoário pertencente à família Kinetoplastida e necessita de dois hospedeiros para completar seu ciclo, sendo um hospedeiro vertebrado, que pode ser o homem ou um canídeo, e um hospedeiro invertebrado (mosquito-palha). Quando o protozoário penetra no hospedeiro vertebrado por meio da picada do inseto, irá alcançar locais como medula óssea, baço, fígado, sistema linfático, entre outros, e irá reproduzir-se por fissão binária na forma amastigota. Já no flebotomineo, que irá infectar-se por meio da ingestão de sangue de um hospedeiro infectado, a reprodução desse agente será sob a forma de promastigota, permanecendo no trato digestivo do inseto.

Admite-se que este protozoário apresente um período de incubação que varia de 3-6 meses até anos, nos cães. Já nos flebotomineos, o período compreendido entre a contaminação e a eliminação da forma infectante varia de 4 a 21 dias. Esta evolui para o estado latente ou patente, dentro de semanas, meses ou anos, podendo evoluir para a forma aguda, subaguda, crônica ou regressiva da doença.

Na maior parte dos casos (60%), os animais são assintomáticos. Todavia, quando apresentam manifestações clínicas, estas são variadas. Dentre elas estão:

  • Sintomas dermatológicos: reação no local da picada (também chamado de “Chancro da inoculação”) dermatite seborréica, alopecia periorbital, hiperqueratoses, nódulos subcutâneos, onicogrifose (crescimento exagerado das unhas), ausência de prurido, erosões e úlceras, especialmente nas pontas das orelhas e no focinho;
  • Linfadenomegalia;
  • Perda de peso;
  • Fadiga e prostração;
  • Febre;
  • Anemia;
  • Nefrite;
  • Hepatoesplenomegalia;
  • Hemorragias;
  • Poliartrites;
  • Lesões oculares (conjuntivite, ceratite, uveíte anterior, panoftalmite).

O diagnóstico é feito por meio do quadro clínico apresentado pelo animal, juntamente com outros exames laboratoriais, como:

  • Parasitológico, por meio da punção medular, dos linfonodos palpáveis, do fígado e baço, além da biópsia de pele e/ou vísceras, sendo este exame o mais confiável para a identificação do microrganismo.
  • Sorológico, responsável pela verificação da presença de anticorpos, mas não necessariamente a presença da doença ativa. É feito por meio de: reação de imunofluorescência indireta (RIFI), reação de fixação do complemente (RFC), ELISA e TRALD (teste rápido anti-Leishmania donovani). Quando o teste sorológico para leishmaniose dá positivo, aponta para o diagnóstico da doença. Todavia, quando o resultado é negativo, não descarta a possibilidade da presença da enfermidade.
  • Hemograma apresenta-se normal ou com anemia normocrônica ou normocitica não regenerativa.

O tratamento da LVC não é proibido. O que não pode é realizá-lo com medicamentos da linha humana. A opção do tratamento de um cão com esta doença envolve alguns pontos, como a condição clínica do paciente e a participação consciente do proprietário. Este último deve estar consciente de que a doença é crônica e incurável (sendo possível apenas a cura dos sintomas e controle da LVC), que há a necessidade de medidas de profilaxia juntamente com o tratamento e que é dispendioso.

Os fármacos utilizados no tratamento da LVC consistem no antimoniato de meglumina (Glucantime®), estibogliconato sódico (Pentostam®), alopurinol (Ziloric®) e anfotericina B. Ressalta-se que o uso de antimoniato de n-metilglucamina restringe-se ao tratamento em seres humanos. Outro fármaco muito utilizado na Itália e em Portugal que não é permitido no Brasil é a aminosidina.

O antimoniato de meglumina é um composto antimonial pentavalente, sendo tido como o fármaco mais efetivo para o tratamento da LVC. O estibogluconato não é muito utilizado, mas tem apresentado êxitos. Como as drogas antimoniato de meglumina e estibogluconato não são encontrados rotineiramente, a anfotericina B lipossômica ou o alopurinol são os medicamentos de eleição.

As medidas de controle área da LVC em uma determinada deve levar em consideração o conhecimento da epidemiologia na região em questão. Fatores que podem influenciar na prevalência da doença devem ser considerados, como: diagnóstico tardio, imigração de casos, número de indivíduos susceptíveis, taxa de letalidade e elevação da incidência de novos casos.

A medida profilática mais eficiente até o momento é o combate ao vetor, impedindo sua multiplicação, por meio da aplicação de inseticidas nos locais onde se reproduzem (locais úmidos ricos em matéria orgânica). É importante também conhecer os hábitos alimentares desses mosquitos, que apresentam atividades crepusculares e no início da noite, evitando assim o encontro com este vetor (se possível evitar o encontro dos mosquitos com os cães também), fechando as portas e janelas das casas nesses horários.

Outras medidas como a aplicação de inseticidas nos animais e o uso de coleiras que contenham deltametrina (Escalibur®), substância que repele os insetos.

A primeira vacina licenciada para a LVC é a Leishmune®, preparada a partir da glicoproteína FML (Fricone Mannose Ligand). É recomendado para prevenção em animais soronegativos, sendo sua aplicação dividida em três doses consecutivas, por via subcutânea, com intervalo de 21 dias, com reforços anuais.

Fontes:
http://www.portalnossomundo.com/site/leishmaniose/leishcanina.html
https://web.archive.org/web/20120415013643/http://www.hospitalveterinariodoseixal.com/documentos/publicacoes/6+-+Leishmaniose+canina.pdf
https://web.archive.org/web/20160312211722/http://www.saudeanimal.com.br:80/artigo99.htm
http://www.revista.inf.br/veterinaria10/revisao/edic-vi-n10-RL52.pdf
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-311X1985000400004&script=sci_arttext&tlng=en
https://web.archive.org/web/20160312211722/http://www.saudeanimal.com.br:80/artigo99.htm

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