Listeria monocytogenes é reconhecida como um patógeno humano desde 1929. Entretanto, apenas nas últimas décadas, investigações epidemiológicas importantes demonstraram que a listeriose poderia ser causada pela ingestão de alimentos contaminados. Até então, a transmissão da doença permanecia obscura. A infecção transplacentária e a aquisição direta da bactéria quando da passagem pelo canal vaginal durante o parto eram apontadas como as principais causas de listeriose perinatal. Similarmente, não se sabia, até aquele momento, quais eram as possíveis fontes ambientais de L. monocytogenes causadora de meningite em adultos.
Mas um grande surto envolvendo 41 casos da doença, ocorridos em 1981 nas províncias marítimas do Canadá, permitiu uma avaliação detalhada dos principais fatores de riscos envolvidos na epidemiologia dessa enfermidade. Nesta ocasião, evidenciou-se a transmissão de L. monocytogenes por alimentos, neste caso em particular. Por uma salada de repolho tipo “cole slaw”.
Em 1988, a Organização Mundial de Saúde (OMS) finalmente reconheceu que o consumo de alimentos contaminados é a rota primária de transmissão da L. monocytogenes em humanos.
A enfermidade acomete principalmente determinados grupos da população, como idosos acima de 60 anos, neonatos, gestantes e indivíduos imunodeprimidos. A apesar da baixa morbidade quando comparada com outras doenças transmitidas por alimentos (DTAs), o quadro clinico associado a listeriose em indivíduos pertencente ao grupo de risco pode ser bastante severo, resultando em meningite, meningoencefalite e septicemia na maioria dos casos. Mulheres grávidas podem adoecer em qualquer fase da gestação, mas a doença é freqüentemente adquirida no terceiro trimestre. As gestantes não apresentam sintomatologia típica, sendo que em alguns casos, relatam um quadro semelhante ao da gripe. Através da corrente sanguínea ou por infecção uterina ascendente, o microrganismo atinge o feto resultando em aborto espontâneo, nascimento de fetos prematuros, natimortos ou infectados. Quando há contaminação do neonato pela passagem pelo canal vaginal, pode ocorrer o desenvolvimento de meningites após 10 a 20 dias de vida.
Listeria monocytogenes é um microrganismo Gram positivo, anaeróbio facultativo, não esporulado, amplamente distribuído no meio ambiente, tendo sido isolado das mais variadas fontes tais como solos cultiváveis, lama, vegetação integra ou em decomposição, silagem, rios, lagos, águas residuais, efluentes de abatedouros e plantas processadoras de alimentos, mamíferos e aves domésticas ou selvagens, insetos, peixes, crustáceos e até mesmo de geladeiras domésticas e industriais (BERNADETTE, 1996).
Seres humanos e animais saudáveis podem atuar como portadores intestinais da bactéria, eliminando-a através das fezes. Além do caráter ubiquitário, esta bactéria apresenta algumas particularidades que tornam de difícil controle tanto em alimentos como em plantas processadoras de alimentos.
Estudos realizados por GLASS e DOYLE (1989) demonstraram que L. monocytogenes pode se desenvolver em diversos produtos cárneos processados armazenados a 4,4°C, sendo que a taxa de multiplicação da bactéria está basicamente correlacionada ao tipo de pH do alimento estudado. As taxas de sobrevivência e de injúria celular durante o congelamento dependem basicamente do substrato e da velocidade utilizada no processo (SILVA, VILARDI, TIBANA, 1998).
Quando há um decréscimo na temperatura de armazenamento do substrato, observa-se um aumento significativo da resistência do microrganismo às altas concentrações de sal presentes (SWAMINATHAN, 2001). HOLT et al. A prevalência da doença na África, Ásia, e América do Sul são baixas ou até não existente, podendo ser reflexo das diferenças de hábitos alimentares e susceptibilidade do hospedeiro, ou mesmo, da falta de infra-estrutura para detecção da doença (ROCOURT, 1996).
Os primeiros surtos da doença veiculadas por alimentos descritos na literatura incriminam vegetais, leite e queijos como potenciais veículos de transmissão do agente. Dentre as bactérias, destacam-se, Staphilococcus aureus, Salmonella e Listeria monocytogenes (FEITOSA et al., 2003).
Nos casos de transmissão através do leite, considera-se que é necessária uma quantidade ligeiramente superior a 1.000 células da bactéria, para que haja a invasão do epitélio gastrointestinal. Nas gestantes, ocorre a migração transplacentária com a conseqüência infecção do feto (BERNADETTE, 1996).
Na espécie humana, é possível o isolamento da bactéria a partir de indivíduos assintomáticos, provavelmente, como conseqüência da colonização no trato intestinal.
O agente penetra no organismo do suscetível através da ingestão de alimentos contaminados, atinge o trato intestinal aderindo-se à mucosa e invadindo-a, em seguida, é fagocitado por macrófagos.
A mortalidade atinge 25% nos adultos com idade inferior a 60 anos e 40% naqueles com mais de 60 anos; 84% dos casos de listeriose ocorrem abaixo dos 50 anos enquanto que 40% se verificam acima dos 70 anos de idade. Durante os surtos, a mortalidade pode atingir 40% dos acometidos pela infecção; nos casos de meningites essa taxa pode atingir 70% e, nas septicemias, 50%. Vale destacar que a bactéria pode, também ser eliminada no leite dos animais infectados (EVANGELISTA, 2000).
Nas gestantes podem ocorrer abortos espontâneos no segundo ou terceiro trimestre da gravidez, morte neonatal ou nascimento de crianças gravemente doentes, devido à infecção intrauterina e da cervix. Septicemia, causada pela Listeria monocytogenes.
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Em homenagem à Doutora Tatiane Hoshida.
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Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/doencas/listeriose/