Por Débora Carvalho Meldau
O Vírus da Imunodeficiência Felina (FIV) faz parte da família Retroviridae, subfamília Lentirinae e gênero Lentivirus. É um vírus envelopado, que apresenta cerca de 100 nm de diâmetro, possui como material genético uma fita de RNA simples e contêm a enzima transcriptase reversa que produz um DNA de fita dupla, a partir do RNA. O FIV é cosmopolita e pertence à mesma subfamília do vírus da imunodeficiência humana (HIV), no entanto, é espécie-específico, afetando somente os animais pertencentes a família Felidae, como por exemplo, o gato doméstico, tigre, leão, onça pintada, entre outros.
Este vírus afeta felinos de todas as idades, sendo mais comum em animais mais velhos. Nos gatos, por exemplo, em idade superior a cinco anos. Este fato pode ser justificado pelo período de latência prolongado do vírus, característica do gênero Lentivírus. Não há predisposição racial para a infecção pelo o FIV, mas em relação ao sexo, os machos são mais acometidos, já que a transmissão se dá através da saliva pelo ato da mordedura e estes, são mais susceptíveis devido às brigas territoriais ou para acasalamento.
Existem outras fontes de infecção, como, a transfusão sanguínea, transmissão vertical (da mãe para o filho), que pode ser através da placenta ou através do leite durante a amamentação. Especula-se que a transmissão pode ocorrer devido ao prolongado contato entre os animais que compartilham vasilhas de água e comida.
Após entrar no organismo, as primeiras células que este vírus infecta, são os linfócitos, células responsáveis pela defesa que estão presentes nos linfonodos. Em seguida, o vírus espalha-se pelos linfonodos do corpo, levando a um aumento destes nódulos. Após algum tempo, o animal pode desenvolver febre e uma redução nas contagens de células brancas do sangue. A princípio, este decréscimo é resultado da falta de neutrófilos (células que auxiliam na defesa do organismo contra infecções bacterianas) e também, a perda de determinados linfócitos importantes para o sistema imune. Com o passar do tempo, o animal pode ter anemia.
Os sinais clínicos são divididos em fases:
- Fase aguda: inicia-se após quatro a seis semanas após a infecção. Este estágio é caracterizado por febre, leucopenia (durante quatro a nove semanas). No entanto, alguns animais não apresentam sinais clínicos. Em alguns casos, os animais apresentam anemia, celulite, diarréia e enfermidades mieloproliferativas.
- Fase de portador assintomático: quando o animal sobrevive à fase aguda, há a evolução para esta fase que dura de meses a anos. Há uma diminuição dos neutrófilos, de alguns tipos de linfócitos.
- Fase de persistente linfadenopatia generalizada: mesmo tendo linfadenopatia, o animal apresenta-se sadio. Este estágio dura meses ou anos, sendo que nele, os animais apresentam sinais sutis da doença, como febre, inapetência, perda de peso e comportamento alterado.
- Fase do Complexo relacionado à AIDS (CRA): há a manifestação de doenças de natureza crônica, como doenças dermatológicas, entéricas ou respiratórias. Estes animais apresentam também gengivites, estomatites, periodontites; em menor grau, há a perda de peso, sinais de infecção no trato respiratório superior, otite externa, abscessos, febre, diarréia, alterações nas células sanguíneas, neoplasias, doenças neurológicas e algumas infecções oculares (uveíte e glaucoma).
- Fase terminal – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida: após o quarto estágio, na maior parte dos casos, os animais evoluem progressivamente, desenvolvendo uma síndrome semelhante a AIDS. Neste caso, os animais desenvolvem linfoma, insuficiência renal ou criptococose.
O diagnóstico desta doença é feito através de exames clínicos e laboratoriais. Este último, geralmente é feito através de detecção de anticorpos para proteínas virais. Métodos sorológicos de diagnóstico, quase não são utilizados, pois o nível de vírus circulante encontra-se abaixo do limite de detecção destes exames. Outros dois testes laboratoriais também são utilizados, testes imunoenzimáticos e o teste de Western blotting. Resultados falso negativos podem ocorrem em animais na fase inicial e final da doença, já resultados falso positivos podem acontecer em filhotes com até 6 meses de vida devido à anticorpos maternos.
Não há muito a se fazer para tratar esta doença, o animal que se infecta passará o resto da vida com o vírus em seu organismo. É feito o tratamento sintomático que não elimina efetivamente as infecções, tratando apenas as infecções oportunistas.
O controle e a profilaxia são feitos através da vacinação, com uma vacina existente desde 2002, mas que ainda deixa muito a desejar, pois o FIV é um retrovírus, sendo assim, possui uma capacidade recombinante, produzindo novas variantes virais. É recomendado também manter os gatos dentro de casa e, de preferência castrá-lo, para que haja uma diminuição de brigas entre estes animais, evitando assim, a transmissão deste vírus. Com relação aos felídeos selvagens, o preconizado é evitar o contato com gatos domésticos e em locais de alta incidência, realizar uma vacinação estratégica.
Fontes:
SANGEROTI, D.;MEDEIROS, F.; PICCININ, A. A AIDS felina. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária, ano VI, n° 10, 2008.
http://www.vet.ohio-state.edu/assets/pdf/education/courses/vcs724/lectures/sherding/fiv.pdf
http://www.webanimal.com.br/gato/index2.asp?menu=fiv.htm
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/doencas/virus-da-imunodeficiencia-felina/