É cada vez mais evidente a necessidade de se buscar alternativas sustentáveis para o desenvolvimento. O aquecimento global e as conseqüentes mudanças do clima já passaram, a muito tempo, de meras previsões a realidades duramente catastróficas exigindo uma mudança de postura urgente que, entretanto, pode ser conseguida através de iniciativas bastante simples.
É sabido que, mesmo em um país tropical como o Brasil os gastos energéticos de uma família média de 4 pessoas são bastante altos. Somemos a isso os gastos nas indústrias e outros tipos de estabelecimentos e teremos um consumo de energia elétrica sempre crescente que exige cada vez mais investimentos e, conquanto ainda utilizemos uma forma de energia considerada “limpa”, a energia hidroelétrica, sabemos que ainda assim há impactos significativos aos ecossistemas. Desta forma, a utilização e desenvolvimento de fontes alternativas de energia para suprir essa demanda crescente se torna um imperativo impossível de ser ignorado.
É desta forma que surgem alternativas criativas com o intuito de tornar viável para todas as classes de indivíduos o uso de fontes de energia verdadeiramente sustentáveis, ou seja, com nenhum impacto ambiental, como o aquecedor solar confeccionado a partir de materiais recicláveis.
Felizmente a idéia se encontra espalhada por diversos estados do Brasil com projetos sendo implantados desde o Paraná, onde a Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEMA) criou oficinas para ensinar a técnica a qualquer interessado, até o nordeste, onde o Instituto de Meio Ambiente (IMA) implantou medidas parecidas em Alagoas. Mas, como funciona esse aquecedor?
O aquecedor solar de baixo custo feito com materiais reciclados é confeccionado a partir de garrafas pet do tipo cristal (transparentes) e caixas de leite Tetra Pack pós-consumo. Para a confecção (veja detalhes em: http://www.meioambiente.pr.gov.br/arquivos/File/meioambiente/solar.pdf) de um aquecedor com capacidade para o aquecimento de água para 4 pessoas são necessárias 240 garrafas pet, 200 embalagens Tetra Pack, 44 metros de canos de PVC de 20 mm ½ polegada e 80 conexões T em PVC de 20 mm ½ polegada. A instalação toda ocupará uma área de 4m².
Os canos de PVC pintados de preto serão o caminho por onde a água irá circular no sistema e se aquecer. O aquecimento da água se dá pelo aquecimento dos próprios canos que passarão por dentro das garrafas pet transparentes com as embalagens treta Pack, também pintadas de preto. As embalagens tetra Pack têm a função de aumentar a superfície de absorção de calor dos canos e as garrafas pet têm a função de reter o calor criando uma espécie de “efeito estufa”.
Para que o sistema funcione corretamente é necessário observar o local de instalação do coletor solar que deve ser abaixo do reservatório de água (caixa d´água), não excedendo porém a diferença de 3 metros de altura no máximo e, no mínimo 30 centímetros. Isso, porque a circulação da água se dará pelo princípio de “termo sifão” onde a água fria, mais pesada, irá descer pelos canos e chegar até a parte inferior do coletor solar. À medida que a água se aquece ela sobe pelos canos e chega novamente ao reservatório fechando ciclo de aquecimento da água. O ângulo de inclinação do coletor solar irá varia de acordo com a latitude do local onde será instalado com o intuito de aproveitar o máximo possível da incidência solar sobre o local.
Se o abastecimento de água do local for confiável pode-se usar um mesmo reservatório para a água quente e para a água fria. Porém, se não for, recomenda-se a instalação de um reservatório separado para a água fria.
Algumas adaptações devem ser feitas no chuveiro e na tubulação que leva a água até eles. Os chuveiros comumente usados em residências são do tipo em que a água é aquecida pelo próprio chuveiro e, portanto, há apenas uma tubulação para a água que o abastece. No caso de usarmos um aquecedor solar, será necessário instalar uma tubulação paralela a que já existe, assim teremos um registro para a água quente e um para a água fria (misturador). Pode-se ainda optar por técnicas de isolamento térmico do reservatório de água quente a fim de que a mesma possa ser utilizada mesmo durante a noite.
Um estudo de alunos do curso de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) 1 constatou que o aquecimento deste tipo de aquecedor feito de materiais reciclados se comparado a aquecedores solares comerciais do tipo termoplástico com reservatório de 22 litros, é praticamente o mesmo. Ou seja, uma vez que a eficiência do sistema alternativo é praticamente a mesma do sistema convencional o primeiro torna-se mais vantajoso na medida em que implica em custos quase zero para implantação e manutenção. Possibilitando assim, que mesmo famílias de baixa renda que não possuem recursos para a implantação do sistema convencional possam usufruir do projeto ganhando também em qualidade de vida. Além das famílias que vivem no meio rural onde quase sempre o difícil acesso impossibilita a chegada de energia elétrica.
O coletor solar feito de materiais reciclados tem uma vida útil de aproximadamente 20 anos.