Coevolução

Por Júlia de Almeida Costa Montesanti

Mestre em Ecologia e Evolução (Unifesp, 2015)
Graduada em Ciências Biológicas (Unifesp, 2013)

Categorias: Ecologia, Evolução
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Coevolução é o nome dado ao processo pelo qual duas ou mais espécies evoluem simultaneamente em resposta às pressões seletivas exercidas pela outra. Este processo pode explicar por que algumas espécies são coadaptadas, isto é, adaptadas mutuamente, como ocorre em insetos polinizadores e flores. Coadaptações podem surgir através de outros processos que não a coevolução. Duas linhagens podem evoluir de forma independente e se tornarem pré-adaptadas antes que estabeleçam uma relação. Dessa forma, coadaptações isoladamente não são suficientes para assegurar que houve coevolução. Para garantir que este processo ocorreu seria preciso demonstrar que os ancestrais das formas coadaptadas evoluíram juntos, o que é bastante complexo de fazer na prática. Outras evidências que podem ajudar a sustentar a ocorrência de coevolução podem advir de comparações com espécies relacionadas.

A coevolução de dois táxons pode resultar em cofilogenias, que são filogenias que possuem praticamente o mesmo padrão de ramificação. Mas é importante ressaltar: nem toda cofilogenia pode ser explicada por coevolução e nem sempre a coevolução resulta em cofilogenias. A congruência nas filogenias de dois táxons pode ocorrer por evolução sequencial – quando mudanças em um táxon levam a mudanças no outro, mas sem a recíproca – ou mesmo sem que os táxons interajam entre si – por especiação alopátrica, por exemplo. Além disso, há casos em que a coevolução não resulta na formação de grupos filogenéticos. Um exemplo é o que parece ter ocorrido com borboletas e plantas. Cada família de borboletas se alimenta de uma gama restrita de plantas, que em geral não tem uma relação filogenética próxima, mas produzem o mesmo tipo de defesa química. A explicação provável é que estes insetos podem ter desenvolvido mecanismos de desintoxicação aos compostos produzidos por um determinado tipo de planta, o que abriu oportunidades para explorarem outras plantas quimicamente semelhantes.

Foto: Lisaveta / Shutterstock.com

Ainda pensando na relação inseto-planta, as adaptações existentes entre insetos polinizadores e flores são provavelmente resultantes de coevolução. Uma flor pode abrigar seu néctar num lugar que restringe seu acesso por insetos com línguas longas.  Insetos que possuem adaptações especializadas num determinado tipo de flor provavelmente irão procurar apenas flores do mesmo tipo. Isso é benéfico tanto para a planta, porque favorece a dispersão do seu pólen para outras flores da mesma espécie, como para os insetos, que sofrem pouca concorrência.  A seleção natural pode então favorecer flores que guardam seu néctar em locais cada vez mais profundos e insetos com línguas cada vez mais longas.

Mas nem sempre a coevolução promove o benefício mútuo. Em outros casos este processo é antagônico, isto é, enquanto uma parte se beneficia, a outra sofre algum prejuízo. Quando parasitas e hospedeiros, competidores ecológicos, ou predadores e presas evoluem um em relação ao outro, se um dos opostos não desenvolve alguma adaptação em resposta ao seu antagonista, ele pode ser extinto. Sendo assim, a coevolução antagônica pode levar à extinção de uma das partes ou a um equilíbrio que pode ser estático (as espécies chegam a um conjunto de condições ótimas e ali permanecem) ou dinâmico, conhecido como “Rainha Vermelha”. No modo Rainha Vermelha a seleção natural atua de forma contínua e alternada em cada espécie, em respostas sucessivas às adaptações desenvolvidas pela espécie antagônica, levando a uma espécie de corrida armamentista na qual as espécies desenvolvem adaptações cada vez mais poderosas.

Referências:

Ridley, Mark. Evolução. 3ª Edição. Porto Alegre: Artmed. 2006.

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