Os detergentes são substâncias orgânicas ou inorgânicas que reduzem a tensão superficial de um líquido, favorecendo seu espalhamento e umedecimento das superfícies e promovendo um contato mais íntimo entre a água e o objeto a ser limpo. Trata-se de uma mistura complexa de compostos químicos, que tem como composto básico ativo um agente tensoativo, e outros componentes complementares (aditivos, anticorrosivos, promotores de espuma, peptizantes, agentes sequestrantes, entre outros).
Tensoativos são moléculas que apresentam em sua estrutura uma cauda com característica apolar, insolúvel em água (hidrofóbica) e a outra extremidade com característica polar, solúvel em água (hidrofílica). Por isso, esse tipo de molécula é polar e apolar ao mesmo tempo. Assim, o detergente consegue interagir tanto com substâncias polares (água), quanto com as apolares (sujeira), ocorre então a formação de micelas (gotículas de gordura aprisionadas por moléculas de detergente).
Os detergentes são produtos sintéticos produzidos a partir de derivados do petróleo. Os primeiros detergentes apresentavam problemas com relação à degradação pelo meio ambiente. Eles não eram degradados e permaneciam nas águas dos rios, lagos, etc. por um longo período de tempo, produzindo densas camadas de espuma e tornando-se altamente poluidores. A presença desses detergentes também dificultava os processos de tratamento de águas residuais. Nessa época o principal tensoativo presente nos detergentes era o alquilbenzeno sulfonato ramificado (ABS). Os ABS eram de difícil degradação, pois sua utilização originava tensoativos com cadeias ramificadas e, por isso, de difícil degradação pelos microrganismos presentes na água.
Por causa dos problemas ambientais causados por esse tipo de detergente, surgiu a necessidade de substituir esse produto por outros que fossem degradados mais facilmente no meio ambiente. A biodegradabilidade é um processo que causa modificações químicas ou físicas, realizado por microrganismos em condições de umidade, luz, calor, oxigênio e nutrientes adequados.
Basicamente, a diferença entre um detergente biodegradável e um não biodegradável está na cadeia carbônica que os constitui. Enquanto os biodegradáveis possuem cadeias sem ramificações (linear), os que não são biodegradáveis apresentam cadeias carbônicas ramificadas. Os detergentes biodegradáveis devem ser formados a base de sulfonato de alquila linear (ALS), em substituição ao alquilbenzeno sulfonato (ABS). Os ALS não possuem a presença do anel benzeno em sua estrutura molecular, possuindo, portanto, uma cadeia orgânica linear, o que permite a decomposição através da ação de microrganismos.
Em 1977 no Brasil, o Ministério da Saúde decretou que as empresas deveriam parar de fabricar seus produtos contendo substâncias não biodegradáveis, cerca de onze anos após a proibição desses produtos na Europa e nos Estados Unidos. Foi decretado um prazo de quatro anos para que as empresas se adequassem e fabricassem apenas produtos biodegradáveis. Mas no final do ano de 1980, 80% dos detergentes produzidos e consumidos no Brasil ainda não eram biodegradáveis. Desde 1982, todos os detergentes comercializados no Brasil devem conter tensoativo biodegradável, de acordo com as exigências da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
Algumas marcas de detergentes se rotulam como biodegradáveis, mas é importante verificar essa informação de forma mais criteriosa, pois infelizmente algumas empresas tentam atrair seus clientes com falsos apelos ecológicos. É importante destacar também que o fato de um detergente ser biodegradável não impede que ocorra o aumento da concentração de poluentes no esgoto sanitário. Isso por que a biodegradabilidade permite que as substâncias sejam degradadas por processos naturais, mas esses processos requerem tempo e oxigênio, reduzindo a quantidade de oxigênio dissolvido presente nos corpos d’água, o que também é uma forma de poluição. Portanto, além de optar por produtos verdadeiramente biodegradáveis e produtos caseiros, é importante também reduzir o consumo de produtos de higiene pessoal e de limpeza de maneira geral.
Referências Bibliográficas:
Gonçalves, E. et al. Tensoativos Biodegradáveis. Gestão em Foco, Edição nº: 07/Ano: 2015.
Ferreira, D. C. Avaliação da biodegradabilidade de detergentes comerciais. In: VII ENTEC - Encontro de Tecnologia da Uniube, 2011, Uberaba. Artigo Técnico, Uberaba: 2011.