Ecologia profunda

Mestre em Dinâmica dos Oceanos e da Terra (UFF, 2016)
Graduada em Biologia (UNIRIO, 2014)

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Conceito cunhado pelo filósofo norueguês Arne Naess em 1973, a Ecologia Profunda prega a harmonia entre natureza e sociedade, e defende que todos os seres vivos possuem valor intrínseco e semelhante entre si, independentemente de seu potencial de uso pelo ser humano.

Surgimento da ecologia profunda

Inspirado pelo filósofo americano Henry Thoreau e pelo acadêmico Aldo Leopold, símbolos da preservação ecológica, Arne Naess elaborou o conceito de Ecologia Profunda em 1973. Esta corrente de pensamento fortaleceu o movimento ambientalista que emergiu durante a década de 60, alertando para os impactos negativos do mundo pós-revolução industrial, cuja economia é baseada no consumo. A ‘Ecologia Profunda’ surgiu das observações de Naess de dois principais tipos de ativismo ecológico, que não são necessariamente excludentes entre si: 1) o movimento ecológico profundo (long-range deep ecology movement em inglês) e 2) movimento ecológico ‘raso’ (shallow ecology movement em inglês). Enquanto o primeiro tem como base o questionamento profundo do comportamento humano, sua ética e considerações sobre o modo como se vive, o segundo consiste em soluções tecnológicas pontuais para problemas ambientais relacionados ao consumo, como a reciclagem, aumento da eficiência automotiva (i.e. combustíveis gerados a partir de energia limpa), agricultura orgânica, entre outros.

Princípios da ecologia profunda

O principal fundamento da ecologia profunda baseia-se no ser humano como parte da natureza, e não dominante sobre esta; no valor intrínseco da natureza, independentemente de sua utilidade para o ser humano; e na igualdade de valor entre todas as espécies. Como resultado, este movimento propõe o fim do utilitarismo ecológico, e a mudança de uma sociedade antropocêntrica (i.e. homem como centro) para biocêntrica ou ecocêntrica (i.e. natureza como centro). Esta mudança é guiada por oito princípios, em conjunto com o fundamento mencionado previamente, descritos a seguir:

  1. Todos os seres vivos possuem valor intrínseco. Esses valores são independentes da utilidade dos seres para propósitos humanos;
  2. A riqueza e diversidade da vida contribuem para a realização desses valores;
  3. O ser humano não tem o direito de reduzir a riqueza e diversidade de seres vivos, a não ser para satisfazer suas necessidades vitais;
  4. Para que a vida humana e não-humana prospere, é necessária uma redução substancial da população humana;
  5. A interferência humana na porção não-humana do mundo é excessiva;
  6. Uma mudança significativa nas políticas globais deve ser feita, principalmente em termos econômicos, políticos e ideológicos;
  7. Os seres humanos devem apreciar sua qualidade de vida ao invés de constantemente buscar um padrão de vida cada vez mais elevado;
  8. Pessoas com visão ecocêntrica devem agir de acordo com esses princípios, ajudando a implementar essas mudanças, a fim de promover o bem-estar de todo o planeta.

Ecologia profunda e a sociedade

Desde a Revolução Industrial, a sociedade adotou um modelo de produção acelerada, baseado no consumo como principal meio de movimentar a economia e promover a ascensão social. De acordo com esta visão, os recursos do planeta são abundantes e sua probabilidade de esgotamento é baixa, e eventuais perdas poderiam ser remediadas por meio de inovação tecnológica. A ecologia profunda representa uma alternativa contrária a esse modelo, e defende que o crescimento econômico e material não são bases necessárias para o desenvolvimento humano. Este movimento prega que os recursos naturais são limitados e destaca a cultura regional de povos tradicionais como um importante pilar do conhecimento ambiental, juntamente com a ciência.

Referências:

Foundation for Deep Ecology. Some Thought on the Deep Ecology Movement. Disponível em: http://www.deepecology.org/deepecology.htm

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