Uma das pragas agrícolas mais conhecidas e recorrentes em toda a história humana é a nuvem de gafanhotos. Ela consiste no agrupamento massivo da forma adulta deste inseto, e se forma quando uma quantidade anormalmente grande de indivíduos se movem juntos. Estas nuvens podem chegar a conter centenas de milhões de gafanhotos, o que ameaça consideravelmente plantações inteiras. Os fatores que levam a sua formação ainda não são claros, sendo objeto de estudo de muitos biólogos e entomologistas.
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Eventos históricos
Citados até mesmo na Bíblia como uma das pragas que assolou o Egito, as nuvens de gafanhotos não são muito recorrentes, mas quando ocorrem se tornam marcos históricos. Um exemplo seria uma das maiores nuvens de gafanhotos já documentada que ocorreu no Kansas em 1874, afetando dezenas de estados nos Estados Unidos. A nuvem de insetos chegou a cobrir uma área de mais de 5 milhões de km2, o que equivale à área dos seis maiores estados brasileiros combinada (Amazonas, Pará, Mato Grosso, Minas Gerais, Bahia e Mato Grosso do Sul). Os efeitos econômicos e sociais desse evento foram devastadores, fazendo o ano de 1874 ser lembrado como “O Ano do Gafanhoto”. Desde 1950, países do norte e leste da África e do Oriente Médio sofrem com nuvens de gafanhotos esporadicamente, ameaçando a segurança alimentar de centenas de milhões de pessoas.
Ocorrência geográfica
Embora seja rara em alguns locais do planeta, as nuvens de gafanhoto ocorrem em todos os continentes. Na história recente, as mais graves e maiores delas foram registradas na África, México e Israel. Contudo, América do Sul, Austrália, Ásia e Europa também sofrem com a ocorrência deste evento em menor escala. Cada nuvem é formada por diferentes espécies de gafanhotos que vivem em vários habitats. Um exemplo é o gafanhoto da espécie Schistocerca cancellata, que formou em 2020 uma nuvem com quase 100 milhões de indivíduos no Paraguai, causando estragos em diversos países vizinhos. A última enorme nuvem de gafanhotos que afetou a Somália, Etiópia e Quênia entre 2019 e 2020 pertencia a espécie Schistocerca gregaria, conhecida como gafanhoto do deserto. É importante saber qual espécie forma essas nuvens pois, dependendo da espécie, os indivíduos adultos podem viver de dois a cinco meses e atuarem como vetor de doenças animais e humanas, agravando o problema.
Formação e efeitos das nuvens
As nuvens de gafanhoto parecem ocorrer com mais frequência em locais que unem alguns fatores favoráveis, sendo os principais um clima quente e úmido e a presença de grandes campos de monoculturas. A reprodução deste inseto parece ser estimulada por maiores temperaturas, o que se torna especialmente preocupante diante do cenário de aquecimento global. Além disso, grandes plantações de milho e outros vegetais de interesse humano formam campos abertos sem barreiras físicas, como árvores. Esses cultivos recebem uma grande carga de agrotóxicos, o que afasta ou elimina possíveis competidores ou predadores naturais dos gafanhotos. Em casos muito graves, as nuvens de gafanhotos podem consumir mais de 130.000 toneladas de biomassa vegetal por dia, trazendo enorme impacto econômico e agravando situações de fome e pobreza local.
Combate e prevenção
Em vários casos, as autoridades tentam combater as nuvens de gafanhotos com a dispersão de inseticidas químicos, iniciativa que na maior parte das vezes falha e pode causar graves danos ambientais. Em alguns casos não há nada que se possa fazer além de aguardar a passagem dos insetos pela região, mas um modo de combate alternativo que tem apresentado certa efetividade tem sido monitorar o deslocamento da nuvem e utilizar inseticidas químicos, como esporos de fungo, que afetem de maneira mais específica os gafanhotos. Segundo apontam muitos especialistas, a melhor prevenção para evitar a formação de nuvens de gafanhotos é o continuo monitoramento e controle das populações desses insetos. Com ações rápidas, coordenadas e pontuais, aparentemente é possível evitar a formação das superpopulações que se tornam tão problemáticas.
Referências:
https://www.historynet.com/1874-the-year-of-the-locust.htm
Devi, S., 2020. Locust swarms in east Africa could be “a catastrophe”. The Lancet, 395(10224), p.547.
https://www.nationalgeographic.com/animals/2020/05/gigantic-locust-swarms-hit-east-africa/
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/ecologia/nuvem-de-gafanhotos/