A sobrepesca exerce grande impacto sobre a vida marinha, e gera o declínio de populações selvagens de peixes como o atum, bacalhau, arenque, sardinha, entre outros.
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Histórico e causas
O início do século XIX é marcado pelos primeiros registros da pesca predatória. Durante este período, populações de baleias foram dizimadas pelo ser humano que buscava extrair seu óleo e gordura para utilização em lamparinas e na preparação de alimentos, respectivamente. No entanto, foi em meados do século 20 que a sobrepesca se tornou um problema permanente, o qual ameaça atualmente cerca de 70% dos estoques pesqueiros mundiais. A partir de 1950, políticas e subsídios favoráveis à operação pesqueira foram adotados em peso pelo setor governamental de vários países ao redor do globo, com o objetivo de aumentar a capacidade de pesca, viabilizando um salto na produção de alimentos ricos em proteínas e sua maior acessibilidade pela população mundial. Estes incentivos financeiros e políticos, aliados ao desenvolvimento de tecnologias voltadas para a otimização da produção e captura, resultaram em um forte desenvolvimento da indústria pesqueira, que suplantou a pesca artesanal. Tais medidas também afetaram severamente o estoque pesqueiro: em 1989, aproximadamente 90 milhões de toneladas de peixes estavam sendo extraídas dos oceanos, valor que, somado ao bycatch, está cerca de 20% acima do potencial pesqueiro marinho projetado por pesquisadores durante a década de 60. Por sua vez, a manutenção dos altos níveis de captura até os dias atuais, levou ao declínio do estoque pesqueiro de diversas espécies, colocando-as em risco de extinção. Como consequência, o valor de mercado das espécies comercializadas foi afetado, assim como pescadores artesanais que subsistem exclusivamente do recurso pesqueiro. Projeções realizadas por pesquisadores apontam, inclusive, que caso seja mantido o atual ritmo de exploração das espécies, todas as pescarias ao redor do globo entrarão em colapso até o ano 2048. Além dos subsídios políticos e inovação tecnológica, a sobrepesca também é fomentada pela pesca ilegal (i.e. não regulamentada, e, portanto, não-rastreável), que é fonte de aproximadamente 30% da biomassa total de espécies de alto valor comercial como o bacalhau e atum.
Definição e tipos
A pesca predatória é definida como a retirada de indivíduos de uma população natural em uma velocidade superior à capacidade de recuperação do estoque. Isto significa que, em uma população sobre explorada, a quantidade de peixes removida é maior do que o ganho de novos indivíduos a partir da reprodução de seus integrantes, levando ao declínio e, em casos mais acentuados, à extinção da população. Matematicamente, este referencial é dado pela Produção Máxima Sustentável (PMS), que corresponde à metade da abundância máxima possível de uma população, levando-se em conta a capacidade de suporte do meio (i.e. a limitação no crescimento imposta por recursos como habitat e alimento). Abaixo deste ponto, o crescimento dos indivíduos ocorre a taxas elevadas, garantindo a continuidade reprodutiva da população; acima, o crescimento se torna lento e a população é taxada como sobre explotada.
As populações podem estar susceptíveis à dois tipos de pesca predatória: a) de recrutamento e b) crescimento. A primeira ocorre quando há uma redução significativa no número de indivíduos adultos, comprometendo a reprodução e, consequentemente, o recrutamento de indivíduos (i.e. peixes jovens que são adicionados a população) nos anos posteriores. Espécies r-estrategistas como a sardinha, o arenque e a anchoveta, são alguns dos alvos desse tipo de distúrbio. Já a sobrepesca de crescimento tem ênfase na captura de indivíduos jovens, mantendo os níveis de recrutamento, e é comumente observada em populações de espécies K-estrategistas, que possuem um longo tempo de crescimento, como espécies de bacalhau e grandes linguados.
Impactos
Reduções no tamanho das populações de peixes e seus indivíduos (i.e. menor comprimento e biomassa) são alguns dos impactos causados pela sobrepesca. Mudanças na idade de maturação das espécies, ou seja, a idade (ou comprimento) em que os peixes tornam-se aptos a reproduzir, também foram constatadas em várias populações sobre exploradas, onde os indivíduos passaram a se reproduzir em uma idade mais jovem em comparação aos integrantes de populações em equilíbrio. A sobrepesca também gera impacto através da captura acidental de espécies que não são o alvo da pescaria comercial (bycatch em inglês), o que ocorre quando os petrechos de pesca utilizados apresentam baixa seletividade.
Referências:
Biologia Marinha. Pereira, R. C., & Soares-Gomes, A. (2002). Rio de Janeiro: Interciência, 2, 608.
Overfishing. National Geographic. Disponível em: https://www.nationalgeographic.com/environment/oceans/critical-issues-overfishing/
Overfishing. WWF. Disponível em: https://www.worldwildlife.org/threats/overfishing