A pecuária é uma atividade essencial para a economia e segurança alimentar da civilização humana. Contudo, a poluição causada pela pecuária tem grande impacto na atmosfera, solo e água. Para se ter uma ideia da dimensão do impacto poluidor da pecuária, segundo a Organização de Alimentos e Agricultura (FAO) das Nações Unidas, 18% de todas as emissões dos gases do efeito estufa globais são provenientes dos rebanhos domesticados. Esse número é comparável às emissões do setor de transportes, o que gera um grande debate sobre nossas relações com os animais e os nossos hábitos de consumo.
Dentre os principais efeitos ambientalmente negativos e geradores de contaminantes associados a pecuária, podemos destacar as emissões de gases poluidores, a destruição de ecossistemas naturais, degradação do solo e de recursos hídricos e o manejo dos resíduos sólidos. O Brasil, que é um pais que utiliza menos de 5% de carvão mineral em sua matriz energética e produz muita energia através de hidroelétricas, é considerado pouco poluidor se comparado a outras nações de economia e população similar. Contudo, um dos maiores desafios para a administração pública em relação a redução das emissões de gases do efeito estufa está associada ao fato de possuirmos o maior rebanho bovino comercial do mundo.
Estima-se que somente no ano de 2016, o rebanho brasileiro emitiu mais de 390 milhões de toneladas de dióxido de carbono, sendo o equivalente a 17% do total de emissões deste gás em nosso país. Esses números assombrosos estão associados não somente ao processo de digestão do pasto que ocorre no corpo de cada animal, mas também ao transporte e distribuição desses animais (vivos ou após o seu abate) e o desmatamento recorrente da expansão da fronteira agropecuária que segue fragmentando e reduzindo bioma essenciais para a manutenção da biodiversidade e da regulação climática global, como a floresta amazônica e o cerrado.
A pecuária extensiva, praticada com o gado solto, gera grande degradação do solo através da compactação e erosão, além de poder causar contaminação de recursos hídricos locais por meio dos dejetos dos animais contendo hormônios e patógenos. O monitoramento da manada e investimentos na manutenção dos locais de pastagem podem amenizar estes efeitos de degradação ambiental.
Quanto ao manejo de resíduos sólidos, como dejetos e carcaças, é necessário entender que os resíduos produzidos na pecuária possuem escalas muito grandes de volume, dezenas de vezes superior do que a geração de esgoto doméstico por exemplo. Com isso, surge o desafio considerável de manejar e destinar corretamente desses resíduos. O uso tradicional dos dejetos da pecuária é a adubagem e fertilização do solo. Se por um lado isso representa uma vantagem econômica na economia de fertilizantes químicos, por outro é preciso cautela antes de aplicar os desejos amplamente.
Comumente o esterco usado como adubo passa por alguns processos simples de tratamento para se tornar mais seguro. Muitas vezes, a desidratação auxilia a reduzir as populações de bactérias presentes, além de favorecer a compactação do solo na aplicação. Outras técnicas empregadas para reduzir a carga de micro-organismos e patógenos no esterco são a diluição seriada, o uso de lagoas de digestão e a compostagem. Esta técnica, que utiliza dejetos associados a camadas de solo, permite a produção de verdadeiros reatores de decomposição, que podem ser utilizados em pequena escala para consumir restos de comida do lixo doméstico ou até mesmo para a geração de adubo de alta qualidade para uso agrícola. Estabelecer uma usina de manejo dos dejetos em fazendas de criação intensiva de gado é vital para reduzir os impactos da pecuária sobre o meio ambiente.
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Referências:
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