A balança comercial mede a relação entre as importações e exportações de um país, e faz parte da balança de pagamentos (soma total das transações econômicas entre um país e seus parceiros comerciais pelo mundo). Quando o valor das exportações é superior ao de importações, diz-se que o país tem um superávit e torna-se credor do estrangeiro, tendo uma balança comercial “favorável”. Já quando o valor das importações supera o de exportações, diz-se que o país tem um déficit em sua balança comercial e estaria em dívida com o estrangeiro, tendo uma balança comercial “desfavorável”.
Quando uma empresa brasileira vende seus produtos no exterior, o comprador estrangeiro paga em Dólar, a moeda internacional de troca. Como por lei a única moeda corrente no Brasil é o Real, a empresa brasileira que recebeu o pagamento do comprador estrangeiro precisará trocar seus dólares por reais. Quem compra esses dólares da empresa são os bancos, através de suas corretoras. Os bancos venderão esses dólares para os importadores, que usarão esta moeda internacional de troca para comprar produtos estrangeiros. Em resumo, as exportações permitem as importações.
Para o economista Leandro Roque, apesar de as exportações serem muito importantes, não faz sentido ter obsessão com as exportações e ser contra as importações. As exportações de soja, laranja e aço brasileiros são benéficas porque trazem dólares que permitem que os consumidores do país possam adquirir televisores, notebooks, smartphones, carros e diversos outros produtos. E, quanto maior a exportação de soja, café e outros produtos, menor será a oferta destes no mercado interno, o que eleva os preços para os brasileiros os comprarem.
Portanto, quando a balança comercial apresenta um superávit recorde no país, significa que os consumidores brasileiros foram privados de uma maior oferta de bens, tanto aqueles produzidos nacionalmente e que foram exportados, como os produzidos no exterior e que não puderam ser importados por restrições governamentais. “O padrão de vida de um país é determinado pela abundância de bens e serviços. Quanto maior a quantidade de bens e serviços ofertados, e quanto maior a diversidade dessa oferta, maior será o padrão de vida da população”, explica o economista Donald Boudreaux.
Entretanto, os governos insistem no objetivo de uma balança comercial “favorável”. Isso acontece, dentre outros fatores, especialmente quando o Banco Central adota a política de manter mais dólares guardados, porque o governo usa dólares para compor suas reservas internacionais e intervir no mercado de câmbio caso haja uma crise. Quando ocorre uma crise financeira internacional, os investidores internacionais tendem a fugir para ativos considerados seguros, que historicamente são o Dólar, os títulos do Tesouro Americano e o ouro: eles vendem a moeda na qual estão investidos para fazerem isso. Quanto maior forem as reservas internacionais, mais seguro os investidores estarão de poderem restituir reais por dólares quando necessário.
E as importações significam a saída de dólares do país. Assim, os interesses do Banco Central se combinam com o dos exportadores, e o incentivo para uma balança comercial superavitária vem tanto através de políticas governamentais que atrapalham as importações, como através de subsídios para as empresas que exportam.
Resumidamente, porém, o que mantém a economia mais saudável é uma política monetária não inflacionista por parte do Banco Central, assim como o respeito à propriedade privada e a liberdade para empreender, o que permite a acumulação de capital dos cidadãos locais, mantém a moeda nacional valorizada e atrai investimentos estrangeiros, que acaba trazendo mais dólares para o país sem restringir a oferta de bens via importações.
Uma moeda valorizada é importante porque em longo prazo, o que determina o câmbio é o poder de compra das moedas, quanto cada uma delas esta sendo inflacionada por seus bancos centrais. Além disso, as exportações promovem crescimento econômico se em troca a população do país exportador receber bens, serviços e ativos que melhorem sua qualidade de vida e sua capacidade de produção. Portanto, o país não precisa fazer esforços para ter uma balança comercial superavitária.
REFERÊNCIAS:
BOUDREAUX, Donald. Exportar muito e importar pouco não gera crescimento e é o caminho para a pobreza. Disponível em: <https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2827>. Acesso em 30 de março de 2019.
Econlib. Balance of Trade and Balance of Payments. Disponível em: <https://www.econlib.org/library/Topics/HighSchool/BalanceofTradeandBalanceofPayments.html>. Acesso em 30 de março de 2019.
Instituto Mises Brasil. Por que ainda há histeria em relação a déficits na balança comercial?. Disponível em: <https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2477>. Acesso em 30 de março de 2019.
ROQUE, Leandro. Falando claramente sobre balança comercial, investimento estrangeiro e câmbio. Disponível em: <https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1087>. Acesso em 30 de março de 2019.
SANDRONI, Paulo (org). Novíssimo Dicionário de Economia. São Paulo: Editora Best Seller, 1ª edição, 1999, 40-41p.