O Brasil já explorou o pau-Brasil, o açúcar, o ouro, o café e tantos outros produtos. Mas foi no século XIX que as diferenças entre o uso da terra para o plantio da cana e para o plantio do café ficaram evidentes e o café emergiu como um potencial produto a ser explorado para o mercado exterior. É preciso lembrar que neste período o país passava por uma transformação nas relações de trabalho e, seguindo os moldes ingleses, procurava aprofundar o capitalismo industrial, ainda incipiente no Brasil. É, portanto, neste século XIX que a produção de café no Brasil vai ganhar protagonismo nas relações econômicas e vai gerar, também, um novo ator político: os cafeicultores paulistas. Com poder econômico e político eles organizaram a proclamação da república e estiveram à frente dela até a ascensão de Getúlio Vargas ao poder com a Revolução de 1930. Por isso é fundamental compreender como se deu o desenvolvimento da economia cafeeira no Brasil.
No início do século XIX já havia produção de café no Rio de Janeiro. No entanto, este produto só ganhou projeção com o plantio no oeste paulista, que estimulou a produção cafeeira. Assim, as plantações de café foram paulatinamente ganhando o interior do estado de São Paulo, iniciando por Taubaté, em 1836. Depois foi a vez das principais e mais tradicionais produtoras de café iniciarem seus investimentos no grão: Campinas e Rio Claro, em 1854. Essas duas cidades foram responsáveis pelo desenvolvimento do café no oeste paulista e geraram conhecimento sobre a lida com esse tipo de terra e a divisão do trabalho no plantio do café. Caminhando um pouco mais para o interior a produção passou para Rio Preto e Araraquara, já no final do século, em 1886. Somente no século XX, em 1920, é que o grão passou a ser cultivado em São José do Rio Preto. Com a tomada do oeste paulista o café ganhou projeção e conseguiu disputar o domínio econômico no Brasil, até então marcado pela produção açucareira.
Na disputa com o açúcar o café tinha muitas vantagens, e a principal dela era a exploração das terras. Enquanto a produção de café tinha longa durabilidade, exigindo um replantio somente após 40 anos, o açúcar exigia demais da terra, esgotando-a em apenas 3 anos. Além disso os engenhos para a produção e refinamento do açúcar eram muito caros, aumentando significativamente os custos da sua produção, enquanto a produção de café era mais simples e, portanto, mais barata, necessitando, inclusive, de menos mão-de-obra que a produção açucareira. Havia, também, uma demanda mundial por café, afinal, no mundo moderno, em transformação, o tempo parecia correr mais rápido, seguindo o ritmo das máquinas, e assim, as bebidas estimulantes, especialmente aquelas a base de cafeína, eram muito consumidas. Na esteira do processo de modernização cabe lembrar que a produção açucareira dependia de um número significativo de sujeitos escravizados, enquanto o café já conseguia se adequar mais às demandas de trabalho daquele tempo.
Eram utilizados empreiteiros, contratados individualmente, para que organizassem o trabalho nas terras. Os trabalhadores contratados pelos empreiteiros eram, em geral, homens livres, que assinavam contratos individuais com os empreiteiros; estes eram, usualmente, herdeiros de escravos, mas que não possuíam terras. Em contrapartida o fazendeiro que explorava estes trabalhadores deveria disponibilizar moradia e sementes para o plantio. Além disso eles permitiam o cultivo de subsistência.
A economia cafeeira no Brasil foi importante para as relações políticas, sociais e econômicas do período. Cabe aqui lembrar que a produção do café produziu e foi afetada pelas ferrovias, que partiam das regiões de produção de café em direção à capital e a Santos. Encurtando as distâncias os donos de fazendas de café passaram a construir seus casarões na cidade de São Paulo, pois sua presença na capital era possibilitada pela Companhia Paulista de Estradas de Ferro. A partir da década de 1870 esses fazendeiros começaram a construir suas mansões na Avenida Paulista, que é marca do processo de modernização da época.
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Referências:
DEAN, Warren. Rio Claro: um sistema brasileiro de grande lavoura. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.
FAUSTO, Bóris. História do Brasil. SP: EdUSP, 1995.
FLORENTINO, Manolo; GOES, José Roberto A paz nas senzalas: famílias escravas e tráfico atlântico no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997.
SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloisa. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.