Partimos da noção de que ideologias são ideias que se articulam para defender um interesse específico. São formas específicas de ver e explicar o mundo. Consequentemente, entendemos ideologias econômicas como formas de ver e explicar a economia a partir de um ponto de vista dotado de interesses. Existem infinitas formas de explicar a economia, logo, infinitos conjuntos de ideologias econômicas. Nos centraremos apenas naquelas que marcaram vigorosamente a história da modernidade: o liberalismo, o keynesianismo e o marxismo.
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Liberalismo
O pensamento liberal foi importante para a consolidação do capitalismo e da modernidade, pois era a "filosofia" que melhor expressava os anseios da burguesia, combatendo o absolutismo e os interesses da aristocracia. Ele pregava a liberdade individual, a democracia representativa e o direito à propriedade privada. O liberalismo econômico se estrutura a partir do século XVII, durante a Revolução Industrial, e está centrado na ideia de que a economia, tal como a natureza, é regida por leis imutáveis. O mercado produziria um equilíbrio natural, cuja harmonia só é perturbada quando há intervenção de agentes externos - como o Estado. Nessa concepção, a atuação livre de indivíduos e corporações seria suficiente para produzir uma sociedade justa. Segundo o liberalismo clássico, o papel do Estado deveria se limitar a proteger a propriedade e garantir a livre-concorrência entre as empresas. Com o desenvolvimento do capitalismo, o surgimento de grandes monopólios e a concentração da propriedade, o liberalismo enfrenta em contradições. Entretanto, ele ainda é a ideologia econômica dominante, que mais influencia a forma como vemos a economia em seus princípios mais básicos. Quando se trata de explicar grandes crises econômicas, como a de 2008, os liberais tendem a responsabilizar o excesso de regulamentação pública sobre o mercado.
Keynesianismo
Formulado durante a Grande Depressão, que se estendeu da década de 30 até a Segunda Guerra Mundial, o pensamento keynesiano surge como um antídoto que prometia salvar o capitalismo de suas crises. Suas ideias se baseiam na adoção das políticas econômicas sugeridas por John Maynard Keynes para solucionar o desemprego e a estagnação econômica. Contrariando o liberalismo ortodoxo, Keynes propunha maior intervenção do Estado como agente regulador do mercado, que, por si só, era incapaz de produzir equilíbrio. Essas políticas foram adotadas durante a década de 1930 por Roosevelt nos Estados Unidos, gerando uma situação favorável de estabilidade e pleno emprego. O keynesianismo concebeu, nos países desenvolvidos, o que ficou conhecido como Estado de Bem-Estar Social, que provia um padrão básico de vida para a população através, por exemplo, da criação do salário mínimo e da garantia de serviços públicos básicos. Esse sistema mostrou seus limites a partir do final dos anos 1960, o que permitiu a fortalecimento de teorias liberais, que se reergueram no cenário mundial através do chamado neoliberalismo.
Marxismo
Por fim, o marxismo é uma corrente de pensamento que se estrutura a partir das ideias de Karl Marx e Friedrich Engels. Os principais fundamentos da sua interpretação a cerca da economia e das teorias econômicas se encontra na obra O Capital. Neste livro complexo Marx elabora a teoria da mais-valia, segundo a qual a exploração do trabalho humano consistiria a fonte de acumulação do capital. Isso é, no capitalismo, o lucro dos donos dos meios de produção seria resultado da expropriação do trabalho alheio. Essa forma de produção, permeada de contradições internas, tornaria o capitalismo um sistema extremamente instável, marcado por lapsos de crescimento seguidos de momentos de estagnação. Logo, a leitura que o marxismo faz das crises é que elas são inerentes ao capitalismo e devem se repetir incessantemente, até que esse sistema seja superado e dê lugar a uma nova forma de organização política e social. O marxismo foi essencial para desnaturalizar as teorias clássicas do liberalismo, declarando seu caráter ideológico na defesa do mercado e da empresas privadas.
Bibliografia:
SANDRONI, Paulo. (Org.) Novíssimo dicionário de economia. São Paulo: Ed. Best Seller, 1999