Assim como não há escolha entre comer demais e ter indigestão (já que a segunda é causada pela primeira), não há escolha entre expansão monetária e recessão: as duas são inseparáveis, aponta o economista Friedrich Hayek.
O declínio da economia é a recessão, a qual está atrelada à queda de produção e dos lucros, aumento do desemprego, crescimento dos índices de falências e concordatas (acordos comerciais feitos por insolventes com credores para evitar falências). Pode ser superada ou estender-se de forma prolongada, transformando-se em depressão ou crise econômica, e está ligada ao processo dos ciclos econômicos.
As recessões econômicas costumam prejudicar mais fortemente as indústrias de bens de capital, que são aquelas indústrias que produzem e vendem ferramentas e matérias-primas para outras indústrias. Já as indústrias de bens de consumo, que vendem produtos acabados para o público em geral, costumam ser menos atingidas por recessões.
Um empreendedor sofre severas perdas quando erra nas estimativas de seus custos e receitas futuros. No decorrer de uma recessão, um grande número de empresários ou até mesmo a maioria erram seriamente ao estimar as condições futuras de seus negócios. Em 1912, o economista Ludwig von Mises mostrou que esses empresários erram por serem enganados pelo governo quando este expande a oferta de dinheiro e crédito. As políticas de ceder dinheiro facilmente aos empresários leva-os a cursos de produção desastrosos.
Quando o banco central tenta estimular a economia através do aumento de dinheiro e crédito nos bancos comerciais, esses bancos acabam por ter mais condições de emprestarem dinheiro aos empreendedores, que agora terão mais possibilidade de investirem.
E qual o problema em condições expandidas de investimento? Quando os empresários estão com os cintos apertados, eles precisam escolher entre quais instrumentos são mais viáveis para a obtenção de lucro, e, portanto, medem com mais clareza seus custos de oportunidade. Quando a oferta de crédito proporcionada pelo banco central em conluio com os bancos comerciais aumenta as possibilidades de investimento dos empresários, eles agora têm uma menor “taxa de escassez” de possibilidades, e os investimentos que em uma situação de aperto pareceriam pouco viáveis, acabam se tornando mais atrativos.
O dinheiro fácil resulta em investimentos fáceis, que no futuro se mostram desastrosos. “É o dinheiro fácil que engana os empresários. Projetos que anteriormente pareciam muito caros, que provavelmente não renderiam lucros, de repente parecem menos caros”, explica Brian Summers.
Imagine que a Companhia X tenha pensado num novo empreendimento, mas quando ela calcula seus custos esperados de construção, equipamentos, salários, e juros para pagar o empréstimo necessário para começar, percebe que as receitas que espera ganhar com o novo negócio provavelmente não cobririam os custos, e acaba desistindo do projeto. Quando o banco central proporciona taxas de juros mais baixas para os bancos comerciais oferecerem aos seus clientes, a Companhia X acaba tendo mais facilidade para investir no empreendimento que outrora lhe parecia insustentável. Nos primeiros períodos do negócio as coisas parecem prosperar, mas depois elas passam a declinar.
Como a Companhia X, outras empresas são atraídas pelo crédito fácil, desenvolvendo projetos que anteriormente consideravam demasiadamente caros. Quando seus negócios começam a quebrar, elas vão à falência ou tornam-se insolventes, e os índices de demissões decorrentes passam a ser enormes.
Assim, as recessões econômicas são resultantes principalmente da expansão do crédito, que induz os empreendedores a investirem em negócios pouco sustentáveis, criando um “boom” na indústria de bens de capital e fazendo os preços subirem. Quando o aumento dos preços faz o governo reduzir a expansão do crédito, a economia (especialmente a indústria de bens de capital excessivamente ampliada) sofre recessão.
REFERÊNCIAS:
HAZLITT, Henry. How Inflation Breeds Recession. Disponível em: <https://fee.org/articles/how-inflation-breeds-recession/>. Acesso em 14 de abril de 2019.
IORIO, Ubiratan Jorge. Ação, tempo e conhecimento: A Escola Austríaca de Economia. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises, 1ª edição, 2011. 234p.
SANDRONI, Paulo (org). Novíssimo Dicionário de Economia. São Paulo: Editora Best Seller, 1ª edição, 1999, 512p.
SUMMERS, Brian. Easy Money: Prelude to Recession. Disponível em: <https://fee.org/articles/easy-money-prelude-to-recession/>. Acesso em 14 de abril de 2019.