Spread bancário e sua influência na sociedade contemporânea
No que se relaciona a taxa de juros, a preocupação da sociedade é constante, havendo em noticiários, jornais e telejornais de todo o país, notícias quase que diárias de temas correlacionados ao assunto, podendo-se citar mesmo de grande euforia econômica o período em que o Copom decide fixar a taxa de juros básica da Economia.
É de grande relevância e influência na sociedade em tantos pontos diferentes o estabelecimento das taxas de juros, sendo cada vez mais necessário, portanto, compreender os meandros de formação dos juros e do porquê que assumem relevância tão grande em nosso meio, especialmente no que tange aos juros praticados pelas instituições financieras, que nesse âmbito assumem a nomenclatura de spread bancário.
Faz-se necessário entender o Spread bancário, portanto, e isto porque não raro se apresenta a necessidade de utilização de bancos para a efetivação de variados atos, como pagamento de contas de água, luz, telefone etc., seja para receber salários e firmar empréstimos, formar poupança, fazer investimentos, ou até mesmo se valer das diversas modalidades de empréstimos cedidas por estas instituições, sempre aparecendo a figura da taxa de juros e do spread bancário.
Resumidamente, então, o presente artigo se prestará a entender o spread bancário, demonstrando sua importância, composição e influência na sociedade, iniciando pelo básico conceito de juros. Nas palavras do doutrinador e professor Silvio Rodrigues, “Juro é o preço do uso do capital. Vale dizer, é o fruto produzido pelo dinheiro”, e ainda, sob o pálio dos ensinamentos de De Plácido e Silva, “Juros, no sentido atual, são tecnicamente os frutos do capital, ou seja, os justos proventos ou recompensas que deles se tiram, consoante permissão e determinação da própria lei, sejam resultantes de uma convenção ou exigíveis por faculdade inscrita em lei”.
Partindo dessa premissa, de que juro é a remuneração do dinheiro, passemos a estudar o Spread bancário. Em recentes entrevistas e noticiários, o presidente Lula manifestou séria preocupação quanto ao assunto, exigindo das instituições financeiras que reduzissem o spread bancário, uma vez que este se encontrava entre as maiores taxas do mundo, sendo o teor de suas manifestações a que segue, vejamos:
"A taxa Selic é menos preocupante hoje do que a taxa do spread. É preciso reduzir o spread", "A redução do spread bancário neste momento é uma obsessão minha. Nós precisamos fazer o spread bancário voltar à normalidade no país", "Nós estamos numa fase em que o BC e a Fazenda estão estudando isso e obviamente que quem tem bancos públicos como tem o Brasil pode através dos bancos públicos começar essa tarefa de reduzir as taxas dos spreads bancários".
Mas por que será que o spread bancário é tão alto e por que a tentativa de reduzi-lo tem sido obsessão do Governo? Para esclarecer, mister se faz antes de mais nada entender o que seja Spread bancário, qual seu conceito. Nesse sentido, a definição mais aceita é a de que Spread bancário é a diferença entre a taxa de captação que os bancos empregam e a taxa que aplicam no empréstimo.
Ou seja, se o banco capta dinheiro dos investidores a uma taxa de 10% ao ano, por exemplo, e empresta esse mesmo dinheiro a uma taxa de 30% ao ano, seu Spread será de 20% (30% - 10%). Para reduzi-lo, portanto, se o problema fosse tão-somente aritmético, bastaria que o banco emprestasse dinheiro a uma taxa de juros inferior, reduzindo-a para que assim, o Spread também fosse reduzido.
Contudo, não é tão simples assim. Com esse spread (diferença da taxa de empréstimo e da taxa de captação), o banco tem de arcar com diversos custos e suportar riscos, como pagamento de impostos, pagamentos de custos administrativos, custos com a inadimplência, sendo que apenas com as sobras eventuais após o pagamento dessas diversas despesas é que o banco retirará seu lucro.
Nesse passo, oportuno demonstrar que o Spread bancário se decompõe em diversas parcelas. Segundo estudo da Febraban, o percntual das parcelas é o que segue: impostos diretos (20,6%); impostos indiretos e contribuições ao Fundo Garantidor de Créditos (7,9%); despesas administrativas (14,1%); despesas com inadimplência (17%); e margem líquida (40,1%).
Em outro estudo do Banco Central, revelou-se que o spread brasileiro é composto por vários itens: custo administrativo (13,5% do total), inadimplência (37,35%), compulsório (3,59%), tributos (8,09%), outros impostos (10,53%) e margem líquida dos bancos (26,93%). Em outubro de 2009, atítulo de exemplo, portanto, dos 28,4 pontos do spread a margem (lucro) das instituições foi de 7,65 pontos porcentuais. (Fonte: Agência Sindical).
Ademais, quanto maior for a insegurança inspirada pela inadimplência de um páis tanto maior será o Spread bancário. Isto porque, segundo explicação do Banco central, a insegurança jurídica em relação aos contratos de crédito, ao colocar em risco o recebimento dos valores pactuados, retrai a oferta de crédito e aumenta o spread, por um lado, pressionando os custos administrativos das instituições financeiras, inchando em especial as áreas de avaliação de risco de crédito e a área jurídica; por outro lado, reduz a certeza de recebimento da instituição financeira, mesmo numa situação de contratação de garantias, pressionando o prêmio de risco embutido no spread, tudo isso fazendo com que o Spread aumente significativamente.
Portanto, do que restou exposto, verifica-se que a redução do Spread não é tão simples assim, pois que depende de uma série de elementos diversos, sendo que cada fator econômico pode influenciar de maneira significativamente em sua composição, impedindo a almejada redução.
Em termos numéricos, atualmente o Brasil se encontra em 2º lugar no que tange à taxa média do Spread, apontando 35,4 pontos percentuais, apenas peredendo para o Zimbábue, primeiro colocado no ranking, com 75 pontos percentuais, sendo certo que a Holanda que menor taxa de Spread possui, -0,6 pontos percentuais, consoante recente dado divulgado pelo site InfoMoney, que apresenta a tabela abaixo com as maiores e menores taxas de Spread.
Taxa média de spread | |||
País | Maiores taxas | País | Menores taxas |
Zimbábue | 75 pontos percentuais | Holanda | -0,6 ponto percentual |
Brasil | 35,4 pontos percentuais | Reino Unido | 0,2 ponto percentual |
Madagascar | 33,2 pontos percentuais | Irã | 0,3 ponto percentual |
Paraguai | 27,2 pontos percentuais | França | 0,7 ponto percentual |
Malauí | 21,8 pontos percentuais | Eslováquia | 0,8 ponto percentual |
Fonte: Fórum Econômico Mundial |
Destarte, esperando terem ficadas esclarecidas as dúvidas acerca da impossibilidade de redução das taxas de Spread, bem como esperando terem sido sanadas dúvidas acerca de seu conceito e composição, concluímos que muitos são os fatores econômicos que influenciam na definição das taxas de juros, sendo dificultosa sua redução especialmente em países que possuem índices de inadimplência elevados.
Bibliografia:
1.Livros:
RODRIGUES, Sílvio. Direito civil – parte geral das obrigações. Saraiva, 1986.
SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. Forense, 1987.
ROSSETI, José Paschoal. Introdução à Economia. Atlas,1980.
BARROS, Benedicto Ferri de. Mercado de Capitais e ABC de Investimentos. Atlas, 1970.
BETING, Joelmir. Os fatos e as versões da Economia. Na prática a teoria é outra.
2.Sites:
http://www.bcb.gov.br/
https://web.archive.org/web/20220714001241/https://febraban.org.br/
http://web.infomoney.com.br/
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/economia/spread-bancario/