O atual sistema de formação de professores não é adequado à formação de profissionais que serão capazes de formar sujeitos críticos, pesquisadores, capazes de investigar sua realidade e utilizar das informações que recebe para modificá-la, requisitos que se espera na atual conjectura social. A prática pedagógica em sala de aula, quando tratamos do conhecimento científico, não faz surgir nos alunos o efeito necessário, uma vez que o seu próprio desinteresse aponta para esse caminho.
Aquela nossa sadia curiosidade da infância em relação aos mistérios humanos, históricos e sociais, muitas vezes alimentado pelas relações familiares e de amizade, logo se dilui em um emaranhado de fórmulas matemáticas e conceitos astronomicamente distantes de sua realidade quando percorre seus primeiros passos em uma escola regular. Esta criança descobre então que não poderá compreender a realidade, pois esta é demasiadamente complexa para seu intelecto, e sua curiosidade logo cede lugar à apatia frente ao que não entende. E esta chama natural, infelizmente, quando apagada, dificilmente poderá ser restabelecida.
O método tradicional de aulas, com transmissão de conhecimento já estabelecido, empregado em uma sala de aula no tratamento das questões das Ciências da Natureza e suas Tecnologias, força uma crescente desestimulação do educando. Em algumas situações, podem apresentar proposições tais como: o recorrente desperdício de sua natureza pensante quando propõe aos alunos a memorização uma infinidade de dados que não poderão ser aplicados em sua vida real e a supervalorização de uma exatidão hoje reconhecidamente inexistente na ciência.
Este primeiro aspecto, visível já nos primeiros anos de estudos formais, reverte-se contra a natureza humana, uma vez que, em geral, não estimula a criatividade do aluno e seu potencial de inovação e adaptação, mas lhe oferece um método consolidado, do qual não poderá distanciar-se com risco do erro a possibilidade de deparar-se com o “monstro” da reprovação. Mas, quando se pratica em demasia a busca de alternativas já existentes e jamais parte-se para a imaginação e para o improviso na resolução de problemas, em um curto período essas ferramentas não mais poderão ser alteradas, pois serão as únicas conhecidas para todo e qualquer fim. Assim, quando se enfrenta com um problema científico, não é a capacidade de interpretá-lo, de forma lógica e racional, que é avaliada pelo educador, mas apenas se o educando dispõe das informações necessárias à sua resolução. Hoje, entretanto, percebemos que as ferramentas indispensáveis em qualquer processo de formação cognitiva são a interpretação e o raciocínio lógico, as quais, quando devidamente trabalhadas, capacitam o cidadão a não apenas resolver aos problemas que lhe serão oferecidos nos processos de ensino e aprendizagem, mas a tomar as melhores decisões em seu contexto social. Uma vez que não formemos sujeitos pensantes, nada poderão fazer com as informações que durante anos recebem sobre ciências naturais.
Referências:
CAPRA, F.; The Web of Life. Cultrix & Amana-Key, São Paulo, 1996.
KUHN, T. S.; The Structure of Scientific Revolutions, University of Chicago Press, Chicago, 1962.
MALDANER, Otavio A. A formação inicial e continuada de professores de Química: professores/pesquisadores. 3 ed.. Ijuí: Editora Unijuí, 2006.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/educacao/como-os-alunos-se-manifestam-sobre-seu-interesse-pelas-aulas-de-quimica-parte-ii/