Introdução
A escola como ambiente de aprendizagem e preparação para a vida individual e coletiva de sua clientela deve manter-se atenta a todos os focos possíveis no que se refere aos acontecimentos internos ou externos – quando essas interferências causam danos ao processo evolutivo do aprendiz ou implica em barreiras psíquicas que comprometam o aprendizado discente. Nesse sentido, estamos a vislumbrar uma escola capaz de receber os diversos problemas inerentes aos seus alunos e oferecer-lhes soluções cabíveis a cada situação.
Parece trivial, mas tenho que frisar a importância da boa formação do docente, que trará capacidades e habilidades de lidar com as diversas ferramentas didáticas direcionadoras do aprendizado efetivo e real. Porém, não estou a falar de uma formação pontual, pois esta está atrelada a um momento específico da vida docente limitando-se a um “prazo de validade”. O único meio de se obter atualização constante é através da formação continuada, sendo que esta funcionará como um antivírus, que a todo instante busca as vacinas capazes de combater os infindáveis males que surgem na rede a cada fração de segundo.
O Bullying
Além das dificuldades de aprendizagem, às vezes ligadas ao contexto no qual o aluno está inserido, ou a qualidades da educação oferecidas na escola que o atendeu, ou ainda por bloqueios psíquicos trazidos de uma criação conturbada de uma família desestruturada, a escola ainda tem que se ater ao grande vilão do momento que atinge milhões de pessoas mundo afora – o Bullying.
Bullying é um termo que vem do inglês bully (valentão, tirano) e como a própria terminologia afirma em seu aspecto etimológico, é um ato de agressão física ou psicológica praticada contra um indivíduo ou grupo de indivíduos projetando neste (s) o constrangimento, injúria, dor física ou psicológica entre outros mais. Esses fatores, que inicialmente parecem inofensivos, em médio prazo começam a desestruturar o agredido de tal forma que, em grande parte dos casos, o levam ao cometimento de crimes tais como agressões físicas graves ou até mesmo o assassinato do agressor.
Não obstante dessa realidade, figura nas estatísticas desse fenômeno moderno vários casos de suicídios cometidos pelos agredidos. No cenário educacional, ocorrem vários problemas que, se não diagnosticados e tratados imediatamente, poderão levar o discente a um grave déficit de atenção, instinto agressor – numa espécie de autodefesa -, desilusão pelo ato de aprender, introspecção, ou seja, poderosas barreiras anti-aprendizagem que o levarão ao fracasso (da mesma forma que a escola).
Acho conveniente lançar algumas perguntas que, creio eu, já devam ter surgido nos pensamentos do leitor atento as explanações anteriores: o que a escola tem a ver com os problemas externos aos seus muros? Como diagnosticar os sintomas trazidos pelos agredidos para o espaço escolar? Após o diagnóstico o que fazer? Devemos castigar o agressor? Mas afinal de contas, o que é o Cyberbullying? São a essas perguntas que procurarei trazer respostas nas linhas posteriores. Aqui está a intenção nuclear deste trabalho.
O Cyberbullying
Da mesma forma e com praticamente as mesmas características do Bullying, o Cyberbullying leva consigo graves tipos de agressões e desrespeitos ao indivíduo amparado pelos princípios morais e legais fixados na carta magna que rege o sistema judiciário brasileiro: a Constituição Federal. O nosso direito de ir e vir nunca foi tão desprezado; a solidariedade humana nunca foi tão escassa; a nossa privacidade nunca foi tão invadida e o individualismo nunca foi tão propagado.
O diferencial entre o Bullying e o Cyberbullying é o fato de o segundo ocorrer no plano virtual, principalmente na rede mundial de computares, através dos sites de relacionamentos. O Bullying é o universo de agressões conferidas contra a pessoa humana, portanto engloba todas as outras ramificações dessa natureza.
É importante que os pais tenham conhecimento das amizades virtuais de seus filhos, pois se isto ocorre naturalmente no plano real, não vejo problema em pais exercerem certo controle sobre a vida virtual dos filhos. Desta forma os pais, principais responsáveis pelo o bem-estar dos filhos, poderão visualizar se algo de errado está acontecendo, como algum tipo de agressão psicológica, por exemplo. Isso poderá ser feito sem mesmo ter acesso ao nome de usuário e/ou senha que os filhos utilizam para acessar a rede. Para isso, os pais deverão também possuir uma conta ativa na qual esteja inserida os seus filhos como “amigos”, além de ficarem atentos aos registros de históricos de navegação produzidos pelos filhos, por assim ampliar o controle sobre os sites acessados – muitas vezes agressivos ou pornográficos.
O Papel da Escola
Sabemos que na realidade a maioria dos pais, em especial nas comunidades rurais, ainda não aderiram à tecnologia virtual, não sabem fazer uso da internet, nem mesmo sabem as funções básicas do computador. Nesses casos, a escola, também responsável pelo bem-estar do aprendiz e pela promoção de informações atualizadas, ficará incumbida de fazer essa espécie de monitoramento. Uma ideia é que os professores tenham na lista de contatos virtuais os seus alunos, assim poderão visualizar o que ocorre nas páginas em que eles gerenciam.
Ainda existe o grande e inaceitável problema que é o diagnóstico que aponta grande parte dos professores como leigos nas Novas Tecnologias. Na ocorrência desse fato, deverá prevalecer o olhar acurado dos profissionais da educação. Estes deverão estar atentos aos vários sinais emitidos pelos agredidos, que mudam por completo o comportamento na sala de aula, até mesmo na relação interpessoal com os colegas. Mas não só o agredido deverá ser encontrado, também o agressor. Nesse último caso, os professores também poderão visualizar sinais por ele emitidos, caracterizados pela mudança de comportamento.
É sempre importante lembrar que a prevenção ainda é o melhor remédio contra qualquer “doença”. Neste sentido, a escola deverá atuar na promoção da conscientização dos seus alunos através de palestras, debates, seminários, exposições, apresentação de notícias relacionadas ao tema e considerações sobre o produto final entre a inconsequência do agressor e as sequelas deixadas no agredido, além dos desastres causados como consequências dessas desprezíveis ações.
Diariamente as aulas deverão ter um caráter preventivo, não só contra o Bullying ou o Cyberbullying, mas também contra qualquer que seja o tipo de agressão contra os seres que, como nós, habitam esse planeta (humanos, animais irracionais, árvores etc). Teremos, nessa ótica, a interligação dos conteúdos transversais com os conteúdos disciplinares da área em estudo, promovendo o ensino por excelência, ou ainda, transdisciplinar. “Instaure um ambiente marcado por valores como justiça, tolerância e generosidade e baseado no respeito entre todos (educadores, estudantes, gestores e comunidade) [...] Mantenha espaços em que todos possam expressar suas opiniões e angústias [...] Oriente o jovem sobre como se proteger e usar a internet de maneira responsável.” (Salla, 2012)
Não menos importante é lembrar aos alunos que o Cyberbullying é ainda mais nocivo que o Bullying, pois sua disseminação é muito maior, sendo capaz de atingir o mundo inteiro em uma pequena fração de segundos. Além disso, após ser lançada na rede, não se terá mais controle sobre a agressão, por mais que o agressor arrependa-se ela já pode ter sido compartilhada por centenas de pessoas, que em pouco tempo se tornarão milhares, milhões, e assim por diante.
Resumo que o papel da escola é o de diagnosticar, mas acima de tudo prevenir. Nas próximas linhas tentarei relacionar alguns sinais emitidos pelos envolvidos nas agressões.
Fiquem atentos aos sinais
Todo educador, diretor, coordenador pedagógico, equipe administrativa e pessoal de apoio deverão manter um olhar sempre atento ao que se passa em sua escola. Muitas das vezes alunos sofrem com agressões, sejam elas físicas ou psicológicas, virtuais ou reais, por estranhos, amigos, mas muitas das vezes por familiares. São vários os casos de agressões realizadas no seio da família, em grande parte por madrastas, padrastos ou irmãos de criação. Não importa como a agressão se concretiza, é papel da escola combatê-la. Uma escola que não confronta manifestações incompatíveis com os padrões aceitáveis de humanidade e respeito é uma escola omissa.
São vários os sinais emitidos pelos agredidos. Pode se observar que aquele aluno que antes era tão sociável, sorridente, comunicativo e dócil, agora tornou-se introspectivo, triste, calado e agressivo. Se essas características estão visíveis em algum de seus alunos, professor, isso é sinal de que algo está errado. É possível também que alunos agredidos percam a concentração e o prazer por estudar. Estes alunos desenvolverão um déficit de atenção caso não seja assistido pelos profissionais da educação que diagnosticaram o seu problema, isso poderá levá-los ao fracasso da aprendizagem. Nesse último caso, os professores poderão perceber um aluno desligado da aula, como se os seus pensamentos estivessem em outro plano (no problema em ação).
Considerações Finais
Como disse anteriormente, os sinais são muitos e variam muito de indivíduo para indivíduo. Cabe aos professores, conhecedores da realidade exibida na sala de aula, diagnosticá-los e corrigi-los o mais breve possível, caso contrário as sequelas deixadas nos alunos poderão ser irreversíveis. O Cyberbullying é uma mazela trazida com a difusão das novas tecnologias, que mais auxiliam do que prejudicam. Como toda mazela ele (Cyberbullying) deverá ser corrigido, eliminado. Isso só será possível através da educação, da promoção de saberes que contemplem os valores de uma sociedade culturalizada e pautada nos princípios de cidadania e respeito mútuo.
Agredir alguém é batizar-se com ignorante, desconhecedor do que se supõe por certo ou errado. Aí está o papel da escola – conscientizar os seus alunos sobre fatos prejudicadores do bom funcionamento planetário, baseado no convívio social pacífico e sustentado na ideia absoluta da paz e da generosidade humana.
“Agredir alguém é testemunhar a própria ignorância; é ser lobo por desconhecer as qualidades do cordeiro.” (Robison Sá)
Referência Bibliográfica
SALLA, Fernanda. O que fazer contra o cyberbullying. Revista Nova Escola, São Paulo, n. 260, p. 45-48, 2013.