Considerações iniciais
Existem momentos na educação que as habilidades do bom professor não são suficientes para sanar o problema em ação. A diversidade carregada pelos discentes impõem desafios aos docentes, revelando os limites da formação, bem como dos aspectos estruturais da escola.
É fato rotineiro as escolas receberem alunos com Necessidades Educacionais Especiais (NEE). Neste ponto, o desafio se expande. Isso devido à variedade de necessidades que estes alunos podem apresentar, ora físicas, ora psicológicas ou ainda de outras naturezas. Neste momento, o professor, limitado pela sua formação e especialização, a escola, também limitada, tanto pelos aspectos físicos quanto de profissional especializado no atendimento deste tipo de demanda, procuram ajuda em profissionais com habilidade e treinamento em atendimentos destas naturezas, os auxiliares.
As possibilidades
Imagine receber em sua escola alunos cadeirantes ou com capacidade de mobilidade reduzida. Como você assistiria alunos com essas especificidades? Imagine também alunos com deficiência visual ou auditiva. Como atendê-los? Que tal se alunos com deficiência intelectual ou múltipla estudassem em sua escola. Como você lidaria com essas particularidades? Estes fatos tornam clara a necessidade de apoio especializado para condução de situações como estas.
“Na EMEF Maria Lúcia dos Santos, em São Paulo, a coordenadora pedagógica, Mariza Beranger, solicitou apoio a Secretaria de Educação para que os estudantes cadeirantes e com mobilidade reduzida tivessem ajuda para alimentação, higiene e locomoção [...]”. A Secretaria de Educação acabou contratando a auxiliar de vida escolar, Adriana de Jesus. [...] “Ela transfere para a cadeira de rodas as que precisam, evitando lesões, orienta aquelas que têm dificuldades de mastigação e deglutição, e contribui com a higiene e os primeiros socorros”. (CAMILO, 2013)
O depoimento acima representa um importante caso de sucesso, onde a auxiliar promove o bem-estar das crianças com algum tipo de deficiência, dando-lhes suportes variados e lhes proporcionando dignidade no recebimento de uma educação sem preconceitos ou restrições. Para que esse sucesso aconteça, a auxiliar Adriana participa das reuniões pedagógicas para ficar por dentro dos casos especiais que acontecem na sua escola. Detectado o problema, é hora de interferir com os seus conhecimentos especializados. Ao final, todos saem ganhando: aluno, professor, escola, família, poder público, enfim, todos, sem exceção.
Outro caso de sucesso acontece na EM Professor Antônio Amaro, em Cataguases – BH. Lá, o aluno beneficiado com as interferências da auxiliar Mariana Resende é Carlos Emanoel, do 2º ano. Ele é cego. “[...] quando soube que atenderia um cego, ela buscou cursos de capacitação oferecidos pelo Instituto Benjamin Constant, no Rio de Janeiro”. (CAMILO, 2013). Para que a aprendizagem do jovem Carlos possa ser garantida, ela participa das reuniões pedagógicas e solicita os textos que serão trabalhados em aulas com antecedência, para poder transcrevê-los em braile. Além disso, sinalizou toda escola com placas escritas em braile para que Carlos possa se deslocar com tranquilidade por todos os espaços necessários.
Os limites
Um grande fator limitador da aquisição desses profissionais pela escola é a formação. Dificilmente se encontra um profissional que seja especializado em atender os diversos tipos de deficiências. Por este motivo, muitas das vezes um auxiliar com especialidade em um tipo de necessidade é contratado para atender uma outra, o que não produz o êxito esperado.
Existe também uma barreira limitadora advinda dos aspectos legais. O problema é que não existe lei especifica que trate da necessidade do auxiliar. É importante lembrar que “para cada uma dessas situações, há um profissional que melhor atende às necessidades dos alunos – podendo ser um professor auxiliar, um especialista em inclusão, um estagiário de Pedagogia ou Psicologia, ou alguém da área da saúde”. (CAMILO, 2013). A única orientação que algumas secretarias de educação seguem vem do artigo 58 da LDB que afirma que “haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de Educação Especial”. (LDB, art. 58).
As escolas também deverão estar atentas para as devidas adaptações que deverão ser feitas de acordo com a deficiência apresentada pelos seus alunos. Caso a escola não possua recurso próprio para efetivar essas modificações, ela deve procurar ajuda na sua secretaria municipal de educação, que por sua vez, deverá buscar recursos que viabilizem as implantações necessárias, na escola, para garantir o direito legal de o aluno com necessidade especial ter direito a educação de qualidade, no espaço regular de ensino.
Últimas considerações
O clima na escola deverá está propício à recepção dessas medidas que visam o sucesso da aprendizagem dos necessitados de apoio especializado. A equipe diretivo-pedagógica deverá promover reuniões e palestras, sempre com vista na harmonização das partes envolvidas no processo de ensino e de aprendizagem.
O professor, por estar em contato constante com as problemáticas da sala de aula, deverá transmitir as necessidades dos discentes para a equipe diretivo-pedagógica, e esta, por sua vez, deverá viabilizar, se necessário, a contratação de pessoal especializado junto à secretaria de educação. Uma vez que o auxiliar seja contratado, ele deverá ser inserido na rotina da escola, frequentar a sala de aula, conversar com o professor regente, participar ativamente das reuniões pedagógicas, ou seja, conhecer o seus elementos de trabalho para poder contribuir com interferências especificamente resolutivas.
O trabalho de inserção do especialista em NEE é conjunto, exige a participação de todos os membros da educação. Nesta ótica, pode-se pensar na família como importante aliada na implementação de medidas de apoio aos seus membros com deficiência. Ela poderá fornecer informações sobre a rotina do aluno, suas principais necessidades, seus limites, suas possibilidades etc.
Importante também é o diálogo com os alunos, em busca da compreensão e aceitação das diferenças dos seus colegas, isto é, um processo de conscientização com foco na quebra do preconceito. Um movimento de revolução da educação deverá marchar com militantes armados com a solidariedade, muita boa vontade e conhecimento de causa. O sucesso da aprendizagem sempre dependeu, e depende, disso.
“Dividir os problemas torna-os menores e, portanto, mais fáceis de resolver.”
(Robison Sá)
Referência bibliográfica:
CAMILO, Camila. O espaço dos auxiliares. Revista Nova Escola, n. 264, p. 96-98, 2013.