A produção de conhecimento é uma constante desde os primórdios da civilização humana. A busca pela resolução de problemas, contemporâneos aos cientistas em suas épocas, produziu efeitos benéficos ao conhecimento geral da humanidade sobre diversos fenômenos. Aliando-se ao conhecimento puro e teórico as aplicações tecnológicas, a humanidade conseguiu avançar em diversos campos das ciências, iniciando uma transformação no ambiente que nos rodeia.
O conhecimento sobre a natureza da matéria iniciou-se com discussões filosóficas gregas, perpassando pela determinação qualitativa e quantitativa de valores como a massa atômica. Com o advento da tecnologia, os cientistas puderam perceber a natureza elétrica mensurável do átomo, inaugurando uma nova temporada de caça ao conhecimento atômico. Anos depois, com o advento do fenômeno da radioatividade, descobriram-se miríades de informações relativas ao que ouso conceituar como “intimidade atômica”. É neste ponto da história que se devem observar os esforços de cientistas, no tocante à determinação e produção de novos conhecimentos.
Envolvido em uma disputa URSS x USA, o elemento Rutherfórdio foi detectado concomitantemente, segundo a União Internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC, em inglês), em dois pontos distintos do planeta.
Em um primeiro momento, em 1964, um time de pesquisadores russos, liderados por Georgy Flerov, declarava ao mundo a produção do 104º elemento químico, produzido no Instituto russo de pesquisa nuclear (JINR, em inglês), na cidade de Dubna. Através do bombardeamento no elemento plutônio por um núcleo de neônio, Flerov e seus assistentes obtiveram o isótopo 104Rf259, confirmando seus resultados dois anos depois, em 1966.
No ano de 1969, um grupo de pesquisadores dos Estados Unidos, liderado por Albert Ghiorso, do Laboratório californiano Lawrence Berkeley (LBL, em inglês), realizou três testes sucessivos e efetivos, na produção do elemento rutherfórdio. Inicialmente, Ghiorso e seus assistentes bombardearam átomos de cúrio com átomos de oxigênio, obtendo o isótopo 104Rf260. Em uma segunda tentativa, o grupo fez colidirem átomos de califórnio com átomos de carbono, produzindo outro isótopo 104Rf257. Em um terceiro experimento, ao bombardear átomos de califórnio com átomos de carbono, o grupo de pesquisadores obteve o isótopo 104Rf257.
Abaixo temos algumas possíveis equações de transmutação entre os isótopos do elemento Rutherfórdio:
Grupo russo
94Pu244 + 10Ne20 → 104Rf264
104Rf264 → 104Rf259 + 5 0n1
Grupo estadunidense
96Cm247 + 8O16 → 104Rf263
104Rf263 → 104Rf260 + 3 0n1
98Cf249 + 6C12 → 104Rf261
104Rf261 → 104Rf257 + 4 0n1
98Cf249 + 6C12 → 104Rf261
104Rf261 → 104Rf258 + 3 0n1
Em todas as reações acima se observa a emissão de nêutrons para a estabilização do isótopo de rutherfórdio. Vale ressaltar que são apenas pressupostos teóricos extrapolados e que, por questões de dinamismo científico, os isótopos utilizados podem ser diferentes.
Ambos os grupos declaravam o pioneirismo na produção do elemento rutherfórdio, e esta disputa perdurou por mais de vinte anos. A mudança ocorreu quando a IUPAC concluiu que os dois grupos de pesquisa (russo e estadunidense) demonstraram propriedade ao produzir, quantificar e justificar as suas referidas patentes.
O nome do elemento rutherfórdio deriva da homenagem feita ao químico neozelandês Ernest Rutherford, pelos excelentes serviços prestados na tentativa de explicar o funcionamento do núcleo atômico.
Utilizado principalmente em pesquisas nucleares, o elemento rutherfórdio não participa de metabolismos biológicos, embora a sua radioatividade seja danosa aos mesmos.
Referências:
Aplicativo “Periodic Table” – Real Society of Chemistry (RSC)
KEAN, S. A colher que desaparece. (tradução de Cláudio Carina). Ed. Zahar. 2011.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/elementos-quimicos/rutherfordio/