O alantoide é uma das membranas extraembrionárias encontradas nos Amniota, que são os animais vertebrados que possuem desenvolvimento fetal encapsulado no âmnio. Os répteis, aves e o grupo monotremado dos mamíferos possuem alantoide associado ao embrião como uma estrutura no interior dos ovos, enquanto os mamíferos marsupiais apresentam um alantoide não fusionado à bolsa amniótica e os mamíferos placentários tem uma diferenciação do alantoide em parte da estrutura que forma o cordão umbilical.
Anatomicamente o alantoide é uma estrutura sacular vascularizada preenchida com líquido translúcido que recebe as excretas líquidas do embrião e auxilia na troca de gases. Os únicos vertebrados que não possuem alantoide são os anfíbios e os peixes não-tetrápodes. Nos ovos dos Amniota ovíparos, o alantoide fica no interior da bolsa amniótica e recebe o oxigênio que consegue ser absorvido pela casca e se dissolve na albumina. Além disso, ele acumula as excretas nitrogenadas do embrião ao longo do desenvolvimento. Esta é a mesma função do alantoide nos marsupiais, como do canguru, estocando os dejetos nitrogenados. Contudo, eles possuem modificações estruturais como a ausência de vascularização e desconexão em relação ao cório, membrana externa da bolsa amniótica.
Nos organismos que se desenvolvem em ovos, o alantoide também intermedia a transferência de cálcio presente na casca para os ossos do embrião. Este processo essencial não somente desenvolve o sistema esquelético embrionário como também facilita a eclosão do neonato, uma vez que enfraquece a casca, reduzindo sua dureza e resistência. Estudos na avicultura tem observado o alantoide como uma estrutura de interesse em que se pode alterar o estado nutricional do embrião. Pela introdução artificial de fontes de carboidratos externas (como glicose) no alantoide de ovos de galinha obteve-se a eclosão de pintos com maior peso corporal. Contudo, este ganho em massa não parece se traduzir em maior peso ao longo do desenvolvimento e nem em aumento corporal do animal, além de trazer riscos provenientes da técnica, como mortalidade embrionária e alteração da capacidade de eclosão. Outra linha de pesquisa envolvendo o alantoide tem como objetivo identificar a presença de vírus em aves migratórias utilizando os ovos como local de testagem da hemaglutinação do líquido alantóico exposto a amostras fecais de adultos. Estudos conduzidos por pesquisadores brasileiros foram capazes de monitorar o vírus influenza através desta técnica.
Em humanos e outros mamíferos placentários, o alantoide é altamente modificado, fusionando-se com outros tecidos embrionários para formar a estrutura base responsável pela vascularização do cordão umbilical. Isto ocorre porque a função original do alantoide, encontrada em aves e repteis por exemplo, passa a ser desempenhada pela placenta. Além disso, o alantoide também se diferencia na estrutura fetal denominada de úraco, que fica na região abdominal (inserção do umbigo) e conecta a bexiga do embrião com outras membranas, responsável assim pela remoção da excreção nitrogenada do corpo em desenvolvimento. O alantoide modificado em úraco pode causar o cisto uracal, uma condição clínica na qual a conexão umbilical com a bexiga permanece mesmo após o nascimento. Essa massa se acumula no abdômen e pode causar desconforto, dores abdominais, febre e até mesmo infecções. Seu diagnóstico aparece quando a criança apresenta algum dos sintomas, confirmado por um ultrassom abdominal identificando o cisto. O tratamento mais comum envolve o uso de antibióticos e, em casos mais severos, a remoção cirúrgica do cisto.
Referências:
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