A surdez e a deficiência auditiva eram, até pouco tempo, vistas como limitadores para a educação como um todo, e para a educação física especificamente. Segundo Santana (2021, p.1) “a inclusão dos surdos é um complexo fenômeno que engloba questões de cunho moral, conceitual, legal, entre outros. Neste caminho, a principal conquista dos surdos foi, sem dúvida, a oficialização da sua língua como língua oficial brasileira, que é fator de identificação, cultura e socialização para os surdos. Já o esporte teve vultuoso papel no processo de organização e de transformação subjetiva dos surdos, o que (...) o caracteriza como ferramenta de modificação dos ambientes físicos e psicossociais por onde os surdos transitam, à medida que promove a autoestima dos indivíduos, a autonomia dos grupos e o reconhecimento dos demais. Sendo o esporte uma ferramenta de inserção social, os surdos percebem naturalmente que houve grande contribuição das práticas esportivas no processo de organização e de transformação subjetiva destes indivíduos.” Assim, o reconhecimento da pessoa surda e de toda a cultura que ela carrega se apresenta como um passo fundamental para o estabelecimento dos surdos como cidadãos no Brasil.
Nas aulas de Educação Física, os professores podem trabalhar como jogos e esportes adaptados, além de trabalhar com os esportes já reconhecidos por confederações, que resultam nos jogos paralímpicos. Uma das diretrizes aos professores é o de substituição dos elementos sonoros, que estariam presentes no jogo ou no esporte, por elementos visuais. Isso cobre as dificuldades de adaptação de atividades para um deficiente auditivo ou surdo.
Segundo Silva et.al. (2014) “crianças surdas ou com perda auditiva apresentam problemas relacionados à coordenação motora, a noção espaço-temporal e ritmo. Contudo, essas decorrências podem ser sanadas ou amenizadas com atividades que estimulem o desenvolvimento motor, necessárias desde os primeiros meses de vida, seguidos de atividades físicas orientadas na fase escolar, o que implica na importância do diagnóstico precoce dessa deficiência.” Assim, todos os esportes podem ser trabalhados, desde que o professor/treinador/técnico se utilize de fala paulatina – para facilitar a leitura labial – e substitua os estímulos auditivos pelos visuais. Além disso, no que se refere à jogos e outras atividades nas aulas de Educação Física, é fundamental o trabalho de coordenação motora, tanto grossa quanto fina, com jogos de pega vareta, passa anel, jogar com bola contra a parede, jogar a bola para cima e pegar, desenhar no chão e andar sobre a linha, apenas para citar algumas possibilidades.
Uma atividade que muitos poderiam achar inusitada, mas que tem benefícios significativos tanto para surdos quanto para deficientes auditivos é a dança. A dança pode parecer estranha à primeira vista, dada que ela depende de música e, para ter acesso a essa música, seria preciso ouvir. O estudo “A dança e o deficiente auditivo: estudo de caso” mostra que “a prática de dança proporciona aos deficientes auditivos uma nova forma de expressão e comunicação, pois a dança utiliza todo o corpo para transmitir sua mensagem a partir de movimentos simples, dessa forma o contato com a dança permitiu a aluna uma maior expressão, seja em aula seja em grupo social, revelando seu grande potencial.”
Assim, é possível perceber que há inúmeras possibilidades de trabalho com pessoas deficientes auditivas e/ou surda. O desenvolvimento de coordenação motora, de capacidades motoras e de habilidades físicas, ritmo e noção espaço-temporal se mostram fundamentais para o desenvolvimento tanto de surdos quanto de deficientes auditivos.
Referências:
SANTANA, A.L.O. et.al. Exercício físico e surdez: uma revisão integrativa. Research, Society and development, v.10, n.9, 2021. Disponível em: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v10i9.17723. Acesso em 03/03/2022.
SILVA, E.F.C. et.al. A dança e o deficiente auditivo: estudo de caso. X Congresso brasileiro de atividade motora adaptada, 2016. Disponível em https://www.fef.unicamp.br/fef/sites/uploads/fef_inscricao/cbamas2016/paper-64705921216a43305edf850cb300c0c0.pdf. Acesso em 03/03/2022.
SILVA, F.D., et.al. Educação Física inclusiva para alunos com deficiência auditiva: orientações, recomendações e peculiaridades durante as aulas. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 190, Marzo de 2014. Disponível em: https://www.efdeportes.com/efd190/educacao-fisica-com-deficiencia-auditiva.htm. Acesso em 03/03/2022.