Selecionamos as questões mais relevantes da prova de vestibular PUC-Campinas 2016/1 Direito. Confira! * Obs.: a ordem e número das questões aqui não são iguais às da prova original.
Personagem frequente dos carros alegóricos, d. Pedro surgia, nos anos 1880, ora como Pedro Banana ou como Pedro Caju, numa alusão à sua falta de participação nos últimos anos do Império. Mas é só com a queda da monarquia que se passa a eleger um rei do Carnaval. Com efeito, o rei Momo é uma invenção recente, datada de 1933. No século XIX ele não era rei, mas um deus grego: zombeteiro, pândego e amante da galhofa. Nos anos 30 vira Rei Momo e logo depois cidadão. Novos tempos, novos termos. (SCHWARCZ, Lilian Mortiz. As barbas do Imperador: Dom Pedro II , um monarca nos trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 281)
O conceito de carnavalização, aplicado às artes e aos processos culturais, indica uma operação que o dicionário define como subversão ou marginalização de padrões ou regras (sociais, morais, ideológicas) em favor de conteúdos mais ligados aos instintos e aos sentidos, ao riso, à sensualidade. O poeta Manuel Bandeira, ao publicar seu segundo livro, Carnaval (1919), fez ver que desejava:
moderar os excessos libidinosos que marcaram a poesia de Libertinagem.
se libertar do aspecto depressivo que dava o tom aos versos de A cinza das horas.
denunciar as festas momescas, alinhando-se com o espiritualismo de Murilo Mendes e Jorge de Lima.
dissolver a disciplina do verso clássico, prestigiando a voga pré-modernista do poema em prosa.
reagir à opressão política que caracterizou a sociedade brasileira dos anos 1910.
A crítica galhofeira a autoridades e a pessoas de prestígio foi uma arma contundente de que se valeu:
o poeta barroco Gregório de Matos, em sua poesia satírica.
Claúdio Manuel da Costa, nas cartas que escreveu ao mandatário de Minas Gerais.
o poeta Carlos Drummond de Andrade, nos ácidos versos de Claro enigma.
Clarice Lispector, na prosa provocadora de A hora da estrela.
a geração de 45, reagindo contra os chamados “papas” do modernismo.
Na Grécia Antiga, o deus que correspondia às características apontadas no texto era Dionísio, em homenagem a quem eram:
sacrificadas as bacantes, virgens que simbolizavam a fertilidade e tinham a função de servir a Dionísio na eternidade para que esse garantisse fartura, prosperidade e alegria aos homens.
realizadas celebrações chamadas de política do pão e vinho, onde diversão e farta comida eram propiciadas aos camponeses a fim de inibir possíveis revoltas.
dedicadas anualmente as Olimpíadas, uma vez que se considerava que não havia prazer maior do que a superação, pelo homem, de seus limites terrenos.
atribuídas vitórias obtidas nas guerras médicas por Atenas ou Esparta, cidades-estado que competiam pelo comércio de vinho e azeite com o Oriente.
promovidas festividades regadas a vinho, comida e apresentações artísticas, que se difundiram primeiro no meio rural e depois no meio urbano, com grande prestigio popular.
(...) os mitos e o imaginário fantástico medieval não foram subitamente subtraídos da mentalidade coletiva europeia durante o século XVI. (...) Conforme Laura de Mello e Sousa, “parece lícito considerar que, conhecido o Índico e desmitificado o seu universo fantástico, o Atlântico passará a ocupar papel análogo no imaginário do europeu quatrocentista”. (VILARDAGA, José Carlos. Lastros de viagem: expectativas, projeções e descobertas portuguesas no Índico (1498-1554). São Paulo: Annablume, 2010, p. 197)
Se no século XVI a presença de mitos e do imaginário fantástico se fazia notar nas artes e na literatura europeia, como em Os Lusíadas, de Camões, no Brasil isso não ocorria porque:
as tendências literárias mais sistemáticas no país privilegiavam as formas clássicas.
predominava entre nós a inclinação para as teses do Indianismo.
nossas manifestações literárias consistiam em descrições informativas e textos religiosos.
os jesuítas opunham-se a qualquer divulgação de literatura calcada em mitos pagãos.
não era do interesse do colonizador permitir a difusão da alta cultura europeia entre nós.
O imaginário que povoou as crenças dos viajantes no contexto da expansão marítima europeia pressupunha a:
presença de perigos mortais advindos de forças sobrenaturais no então denominado Mar Sangrento ou Vermelho em função do número de tragédias que ocorriam durante sua travessia.
certeza de que o chamado Mar Oceano se conectava ao Pacífico, por meio de uma passagem que posteriormente seria nomeada como Estreito de Gibraltar.
existência de monstros marinhos, ondas gigantescas e outros tipos de ameaça no chamado Mar Tenebroso, como era conhecido o Atlântico.
dúvida em relação à possibilidade de circunavegação da terra, pois a primeira volta completa ao mundo só ocorreu no final do século XVI, quando Colombo prosseguiu em sua busca de uma rota para as Índias.
necessidade de que em toda expedição houvesse um padre e um grande crucifixo, artifícios que impediriam qualquer ameaça durante a travessia, inclusive epidemias como o escorbuto, causadas pela falta de higiene.
Durante a Idade Média, havia um imaginário vinculado às cruzadas, pautado pela concepção de que:
os nobres tinham a missão sagrada de proteger a população europeia dos “infiéis” que, após a tomada da Península Ibérica, vinham impondo violentamente sua crença e cobrando altos impostos a toda a cristandade.
os vassalos deveriam morrer por meio do “bom combate” pois, ainda que não houvesse esperança alguma de reconquistar Jerusalém, o sacrifício humano fortaleceria a fé católica e o poder do Papa.
a Guerra Santa iniciada pelos muçulmanos era uma provação que os cristãos deveriam enfrentar para que a tragédia da Peste Negra e outros castigos divinos não voltassem a incidir sobre o Ocidente.
a longa peregrinação e os combates militares movidos pela fé, a fim de recuperar a Terra Santa, assegurariam, a todos os participantes, o perdão de seus pecados e a purificação de suas almas.
o enriquecimento obtido através de pilhagens deveria ser inteiramente destinado às ordens mendicantes instaladas no Oriente e às famílias pobres muçulmanas como prova do não apego aos bens materiais pela Igreja católica.
Nos poemas indianistas, o heroísmo dos indígenas em nenhum momento é utilizado como crítica à colonização europeia, da qual a elite era a herdeira. Ao contrário, pela resistência ou pela colaboração, os indígenas do passado colonial, do ponto de vista dos nossos literatos, valorizavam a colonização e deviam servir de inspiração moral à elite brasileira. (...) Já o africano escravizado demorou para aparecer como protagonista na literatura romântica. Na segunda metade do século XIX, Castro Alves, na poesia, e Bernardo Guimarães, na prosa, destacaram em obras suas o tema da escravidão. (Adaptado de: NAPOLITANO, Marcos e VILLAÇA, Mariana. História para o ensino médio. São Paulo: Atual Editora, 2013, p. 436-37)
No sistema colonial português, o trabalho compulsório indígena:
foi empregado em pequena escala nas missões e em regiões onde não se dispunha de outra mão de obra, até a expulsão da Companhia de Jesus, no século XVII, momento em que a Coroa Portuguesa regulamentou essa forma de exploração.
mostrou-se menos vantajoso aos proprietários de terras, nas grandes lavouras, considerando, entre outros fatores, as rebeliões e fugas frequentes, favorecidas pelo conhecimento da região e a eficácia do tráfico negreiro no abastecimento de mão de obra.
assumiu formas distintas ao longo do processo de colonização, sendo empregado sistematicamente nas Entradas e Bandeiras mediante acordos entre brancos e indígenas, os quais previam a divisão das riquezas eventualmente encontradas.
causou grande polêmica ao longo do período colonial principalmente quando se tratava de escravidão, prática combatida por jesuítas como José de Anchieta e André João Antonil, que defendiam que sequer os negros deveriam ser escravizados.
existiu na forma de trabalho semi-servil, com o consentimento da Igreja, quando se entendia que os indígenas da região não poderiam ser “pacificados” ou catequizados sem uso da força, ou seja, quando se praticava a chamada Guerra Santa.
A escravidão, com características diferenciadas, também existiu na Roma Antiga, onde, a partir do século IV a.C., houve a:
repulsa dos cidadãos romanos a escravos que não fossem de cor branca ou de regiões diferentes da Europa, uma vez que outras raças eram consideradas bárbaras e não confiáveis.
ocorrência de grandes revoltas bem sucedidas, integradas por escravos fugidos e ex-escravos, a exemplo da liderada pelo gladiador Espártaco.
concentração de escravos nas colônias, uma vez que na capital, após a instituição do Direito Romano, passaram a vigorar restrições a essa prática.
intensificação dos casos em que um plebeu se tornava escravo pelo não pagamento de suas dívidas e impostos, apesar deste segmento social possuir alguns direitos políticos.
presença crescente de escravos provenientes do aprisionamento em guerras de conquista, em virtude da expansão territorial.
Por muito tempo vigorou, nos livros didáticos, uma simplificação dos conceitos colonização de exploração e colonização de povoamento. Tal simplificação se baseava na hipótese de que:
o primeiro conceito denunciava a exploração da mão de obra nativa e escrava em larga escala nas zonas agrícolas em todo o continente, enquanto o segundo enaltecia a fundação de núcleos urbanos, como aqueles surgidos nas zonas de mineração, considerados espaços mais democráticos e suscetíveis à mobilidade social.
na América Portuguesa teria predominado a exploração predatória e a devastação ambiental, sem qualquer preocupação com a ocupação do território, enquanto, na América Espanhola, o povoamento planejado teria sido o foco central da empresa colonizadora.
o modelo de exploração era atribuído à colonização ibérica, e o modelo de povoamento à colonização inglesa, buscando diagnosticar os contrastes entre atraso e desenvolvimento e minimizando alguns elementos complicadores como o fato de que nas colônias britânicas também existiu a plantation e intensa exploração.
essa diferenciação havia sido instituída no discurso oficial das próprias metrópoles e amplamente ratificada pelos missionários religiosos que atuaram nas Américas, a fim de reforçar a ideia de que a catequização fazia parte de um processo de povoamento com resultados civilizatórios, diferente da ação dos primeiros aventureiros.
o primeiro conceito remetia ao período compreendido entre os séculos XV e XVIII, quando teria predominado a extração de matérias primas e metais preciosos no continente, enquanto o segundo valorizava a ampla imigração europeia dos séculos XIX e XX, considerada altamente benéfica para o desenvolvimento das ex-colônias.
Entende-se do texto que o Indianismo, no Brasil, identificou-se como um movimento romântico que:
se dedicou a expressar com fidedignidade o processo de aculturação dos nativos brasileiros.
traduziu os aspectos típicos e essenciais da cultura indígena, exaltando-os em si mesmos.
se opôs aos rumos tomados pela Abolição, uma vez que se considerava prioritária a atenção aos indígenas.
idealizou o caráter dos indígenas, tomando-o como paradigma de moralidade a ser seguido.
valorizou a bravura dos nossos indígenas, para melhor sublinhar as fraquezas da cultura civilizada.