Selecionamos as questões mais relevantes da prova de vestibular PUC-Campinas 2016/1 Direito. Confira! * Obs.: a ordem e número das questões aqui não são iguais às da prova original.
Nos poemas indianistas, o heroísmo dos indígenas em nenhum momento é utilizado como crítica à colonização europeia, da qual a elite era a herdeira. Ao contrário, pela resistência ou pela colaboração, os indígenas do passado colonial, do ponto de vista dos nossos literatos, valorizavam a colonização e deviam servir de inspiração moral à elite brasileira. (...) Já o africano escravizado demorou para aparecer como protagonista na literatura romântica. Na segunda metade do século XIX, Castro Alves, na poesia, e Bernardo Guimarães, na prosa, destacaram em obras suas o tema da escravidão. (Adaptado de: NAPOLITANO, Marcos e VILLAÇA, Mariana. História para o ensino médio. São Paulo: Atual Editora, 2013, p. 436-37)
Passagens muito representativas da tendência literária da segunda metade do século XIX, referida no texto, encontram-se em obras de Castro Alves e de Bernardo Guimarães, respectivamente:
nos versos ríspidos das Cartas chilenas e no prefácio a Iracema.
nas sátiras contra a aristocracia baiana e nos Contos fluminenses.
nos versos em tom épico de Os escravos e no romance A escrava Isaura.
nas estrofes líricas de Espumas flutuantes e nos contos de Noite na taverna.
nos poemas de feição neoclássica e no romance Casa de pensão.
Também no Brasil o século XVIII é momento da maior importância, fase de transição e preparação para a Independência. Demarcada, povoada, defendida, dilatada a terra, o século vai lhe dar prosperidade econômica, organização política e administrativa, ambiente para a vida cultural, terreno fecundo para a semente da liberdade. (...) A literatura produzida nos fins do século XVIII reflete, de modo geral, esse espírito, podendo-se apontar a obra de Tomás Antônio Gonzaga como a sua expressão máxima. (COUTINHO, Afrânio. Introdução à Literatura no Brasil. Rio de Janeiro: EDLE, 1972, 7. Ed. p. 127 e p. 138)
É correto afirmar que, no século a que o texto de Afrânio Coutinho se refere, a mineração, ao atuar como polo de atração econômica:
foi responsável pela entrada no país de uma grande quantidade de produtos sofisticados que incentivou a criação de uma estrutura para o desenvolvimento da indústria nacional.
reforçou os laços de dependência e monopólio do sistema colonial ao garantir aos comerciantes portugueses o comércio de importação e exportação e impedir a concorrência nacional.
promoveu a descentralização administrativa colonial para facilitar o controle da produção pela metrópole e fez surgir o movimento de interiorização conhecido como bandeirismo de contrato.
iniciou o processo de integração das várias regiões até então dispersas e desarticuladas e fez surgir um fenômeno antes desconhecido na colônia: a formação de um mercado interno.
alterou qualitativamente o sistema social pois, ao estimular a entrada de imigrantes, promoveu a transformação dos antigos senhores de terras e minas em capitães de indústria brasileira.
Considere a foto abaixo.
O conhecimento histórico permite afirmar que a construção do convento, retratado na foto, coincidiu com um período de prosperidade em Portugal, proporcionado principalmente:
pelo maior desenvolvimento da América portuguesa: a exploração do ouro em Minas Gerais dinamizou as atividades econômicas na colônia.
pela pesada carga tributária imposta sobre a população portuguesa e pela riqueza acumulada pelo Estado com o tráfico de escravos africanos.
pela transferência da Corte portuguesa para o Brasil, que contribuiu para que o comércio externo da colônia fosse feito sem intermediação inglesa.
pelo desenvolvimento da nova agroindústria de exportação na colônia portuguesa na América: cultura cafeeira no Vale do rio Paraíba.
pela participação da Igreja católica no processo de colonização, que favoreceu a exploração econômica da colônia pelo Estado metropolitano.
Considere o manifesto abaixo.
Manifesto dos Baianos, agosto de 1798
(...) considerando os muitos e repetidos latrocínios feitos com os títulos de imposturas, tributos e direitos que são cobrados por ordem da Rainha de Lisboa (...) e no que respeita à inutilidade da escravidão do mesmo Povo tão sagrado e digno de ser livre, com respeito à liberdade e qualidade ordena, manda e quer que para o futuro seja feita nesta cidade e seu termo a sua revolução para que seja exterminado para sempre o péssimo jugo da Europa. (In: KOSHIBA, Luiz e PEREIRA, Denise M. F. História do Brasil, no contexto da história ocidental. São Paulo: Atual, 2003, p.157)
Com base no manifesto pode-se afirmar que, para os conjurados baianos:
os movimentos de rebeldia favoreciam a divulgação das ideias liberais europeias e denunciavam a exploração metropolitana das riquezas da colônia.
o rompimento com a metrópole não significava apenas a autonomia política, mas também a manutenção da estrutura econômica tradicional no país.
a independência não era apenas a ruptura dos laços coloniais, mas também a alteração da ordem social, a começar pela abolição da escravatura.
a rebelião não era apenas uma manifestação contra a metrópole, mas também uma forma de demonstrar o amadurecimento da consciência colonial.
autonomia política era a melhor maneira de eliminar as desigualdades sociais e construir uma nação baseada nos princípios do socialismo utópico.
Manifestações socioculturais do período de que trata o texto assumem grande importância para o crítico Afrânio Coutinho na medida em que:
representaram a libertação de nossa literatura dos vínculos estéticos com a tradição europeia.
exprimiram um sentimento nativista que iria desembocar num nacionalismo libertário.
deram voz a correntes superiores de pensamento, ligadas ao movimento da Contrarreforma.
documentaram o primeiro estágio do complexo processo de colonização do Brasil.
reagiram contra a derrocada do império português, que não interessava ao país naquele momento.
Considera-se um aspecto importante da poesia arcádica e neoclássica de Tomás Antonio Gonzaga no seguinte segmento crítico:
na Lira dos vinte anos, combinam-se magistralmente as tendências lírica e satírica do poeta.
sua arte religiosa exalta a intuição anímica, identificada como uma visão dos olhos da alma.
seus poemas mais característicos devem ser elencados entre os da mais alta expressão dos ideais românticos.
seus versos sofridos evocam o remorso do monge devorado pelos mais abjetos impulsos carnais.
persiste nos versos de Marília de Dirceu um ânimo sossegado, o equilíbrio iluminista de uma felicidade caseira.
O universo ficcional de Machado de Assis é povoado pelos tipos sociais que se mesclavam na sociedade fluminense do século XIX: proprietários, rentistas, comerciantes, homens pobres mas livres e escravos. Cruzam seus interesses e medem-se em seus poderes ou em sua falta de poder. É essa a configuração das personagens das obras-primas Memórias póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro. A tragédia do negro escravizado está exposta em contos violentos, e o capricho dos senhores proprietários dá o tom a narradores como Brás Cubas e Bento Santiago, o Bentinho, que contam suas histórias de modo a apresentar com ar de naturalidade a prática das violências pessoais ou sociais mais profundas. (TÁVOLA, Bernardim da, inédito)
Atente para os seguintes segmentos do romance Dom Casmurro:
I. “Vendeu as fazendolas e os escravos, comprou alguns que pôs ao ganho ou alugou, uma dúzia de prédios, certo número de apólices, e deixou-se estar na rua de Matacavalos (...)” II. “Tinha o dom de se fazer aceito e necessário; dava-se por falta dele, como de pessoa da família. (...) Minha mãe dava-lhe de quando em quando alguns cobres.”
Esses segmentos retratam tipos sociais, aqui representados, respectivamente:
pela proprietária D. Glória e pelo agregado José Dias.
pelo seminarista Bentinho e pelo funcionário Pádua.
pelo conselheiro Aires e pelo advogado Tio Cosme.
pelo capitalista Jacobina e pelo agregado Escobar.
pela viúva D. Severina e pelo político Rubião.
Também em prosadores românticos do século XIX encontram-se exemplos de tipos da sociedade fluminense, que protagonizam situações também típicas de uma exemplar sociedade burguesa. É o que se constata, por exemplo, no romance:
O Guarani, de José de Alencar, no qual se consagram os ideais de coragem e lealdade, com profundas raízes na aristocracia medieval.
Senhora, de José de Alencar, no qual se confrontam os interesses materiais e os ideais sublimes dos personagens envolvidos numa caprichosa trama.
Inocência, do Visconde de Taunay, cuja protagonista é a encarnação da mulher idealizada segundo os códigos sociais da época.
Memorial de Aires, de Machado de Assis, quando o autor, ainda jovem, aplica-se na análise dos costumes da Corte.
Esaú e Jacó, de Machado de Assis, no qual o memorialismo de um velho diplomata recupera figuras da antiga sociedade do Rio de Janeiro.
A tragédia do negro escravizado, no Brasil, deixou marcas profundas na sociedade brasileira. Durante a primeira República a maioria absoluta da população negra continuou excluída da vida política, tendo colaborado para essa exclusão o fato de que:
a legislação republicana oficializou medidas segregacionistas em nível nacional.
a população negra livre não era contemplada pelo sistema clientelista.
os negros optaram por permanecer no campo, não se inserindo nas cidades.
os analfabetos, mendigos e soldados não podiam votar.
as organizações políticas ou culturais que agregassem negros eram proibidas.
Violências sociais abundaram no período regencial, momento em que eclodiram rebeliões populares que foram duramente reprimidas, caso da:
Guerra de Canudos, que implicou a resistência armada, na Bahia, de milhares de famílias em torno do líder religioso Antonio Conselheiro, resultando em grande massacre.
Farroupilha, conflito iniciado no Rio Grande do Sul, que durou cerca de dez anos e foi motivado pela revolta contra a política de impostos vigente e por anseios separatistas de parte da elite.
Sabinada, originada no Maranhão, em regiões paupérrimas de cultivo de algodão e protagonizada por trabalhadores livres e escravos, que contaram com apoio de parte da elite local.
Guerra dos Palmares, conflito desencadeado pela repressão aos quilombolas liderados por Zumbi dos Palmares, com apoio de pequenos agricultores da região de Alagoas.
Revolta da Chibata, que mobilizou um grande contingente de escravos revoltados contra os maus tratos e a prática das chicotadas em praça pública, na cidade do Rio de Janeiro.