Selecionamos as questões mais relevantes da prova de vestibular PUC-Campinas 2016/1 Direito. Confira! * Obs.: a ordem e número das questões aqui não são iguais às da prova original.
No fim de 1944 estávamos em regime de ditadura no Brasil, como todos sabem. Uma ditadura que já se ia dissolvendo, porque o ditador de então começara a acertar o passo com as chamadas Potências do Eixo; mas quando os Estados Unidos entraram na guerra e pressionaram no mesmo sentido os seus dependentes, ele não só passou para o outro lado, como teve de concordar que o país interviesse efetivamente na luta, como aliás pedia a opinião pública, às vezes em manifestações de massa que foram as primeiras a quebrar a rotina disciplinada de tranquilidade aparente nas grandes cidades. (CÂNDIDO, Antonio. Teresina etc. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980, p. 107-108)
O tema da II Guerra esteve presente na obra de alguns poetas brasileiros. Em alguns casos, a tendência política ou mesmo partidária do autor se deixava mostrar, tal como nestes versos de Carlos Drummond de Andrade:
O bonde passa cheio de pernas pernas brancas pretas amarelas.
Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo.
Que fazer, exausto, em país bloqueado, enlace de noite, raiz e minério?
A fuga do real, ainda mais longe, a fuga do feérico, mais longe de tudo, a fuga de si mesmo.
Ai tempo de ódio e mãos descompassadas. Como lutar, sem armas, penetrando com o russo em Berlim?
No imediato pós-guerra, precisamente no ano de 1945, um grupo de poetas − a chamada geração de 45 − acabou se caracterizando por abraçar:
uma recomposição de valores estéticos clássicos e tradicionais, em reação a teses centrais do Modernismo de 22.
manifestos e programas de tendências várias da vanguarda europeia.
uma nova onda nacionalista, da qual emergiriam grupos como o dos poetas concretos e o da poesia Praxis.
a missão claramente ideológica de promover a conscientização política das camadas populares.
certo proselitismo religioso, recuperando a tradição medieval da poesia mística e dos hinos de fé.
Com base numa ideia central de Lucien Goldmann, o crítico e historiador Alfredo Bosi propõe, para a moderna ficção brasileira, enquadramentos como estes: I. romances de tensão mínima: as personagens não se destacam visceralmente da estrutura social e da paisagem que as condicionam. Exemplos, as histórias populistas de Jorge Amado. II. romances de tensão crítica: o herói opõe-se e resiste agonicamente às pressões da natureza e da exploração social. Exemplos, os romances de Graciliano Ramos. III. romances de tensão transfigurada: o herói procura ultrapassar o conflito que o constitui existencialmente pela transmutação mítica ou metafísica da realidade: Exemplos, Guimarães Rosa e Clarice Lispector. (Apud História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1970)
O termo populista é atribuído por parte da historiografia brasileira a líderes como Getúlio Vargas, uma vez que era parte de sua estratégia de governo, o:
trabalhismo, que pressupunha a garantia de benefícios aos trabalhadores concomitante ao cerceamento da livre organização e intenso controle de sindicatos.
paternalismo, por meio de políticas assistencialistas para diminuir a pobreza e amplas reformas no campo, colocando em cheque o apoio da burguesia ao presidente.
nacionalismo, cujo resultado foi a plena identificação, pelo povo, de sua imagem à da nação e a inexistência de qualquer oposição.
queremismo, mediante o qual Vargas, por meio do culto à personalidade, estreitou laços com as camadas mais pobres da sociedade e instituiu o Estado Novo.
peleguismo, que consistia na criação de grandes centrais sindicais que atendiam a todos os interesses dos trabalhadores mas promoviam compra de votos e troca de favores.
Durante o processo de industrialização na Europa, a exploração social foi intensa devido às duras condições de trabalho impostas, contra as quais emergiram movimentos operários significativos no século XIX, caso do:
Bolchevismo, que aglutinou trabalhadores urbanos em uma entidade Internacional que pregava a aliança operário-camponês.
Cartismo, que reivindicava o sufrágio universal e teve origem na Carta ao Povo, manifesto enviado ao parlamento inglês com apoio de diversos setores sociais.
Taylorismo, que defendia a atuação de um conselho de operários no gerenciamento das fábricas, a fim de assegurar sua participação nos lucros.
Ludismo, que promovia a destruição de máquinas, a implantação do socialismo e a anulação dos cercamentos para que os operários retornassem ao campo.
Anarcossindicalismo, que defendia o livre coletivismo em substituição aos sindicatos e corporações de trabalhadores.
Ao lado de Jorge Amado, outros escritores incumbiram-se de retratar aspectos marcantes da historia e da cultura da região em que nasceram. Entre eles, destaca-se o nome de José Lins do Rego:
cuja obra-prima, o conjunto das novelas de Corpo de baile, retrata a aliança entre jagunços e trabalhadores rurais no Centro-Oeste brasileiro.
cujo romance maior, Fogo morto, espelha as personalidades de três protagonistas que vivem diferentes experiências nas terras marcadas pela economia açucareira.
cuja obra recupera a saga de poderosas famílias gaúchas, envolvidas em permanentes conflitos e disputas pelo poder político local.
cujas caraterísticas como escritor aproximam-no do experimentalismo romanesco cultivado por Oswald de Andrade, em Memórias sentimentais de João Miramar.
cuja obra, apesar do cenário tosco e primitivo das pequenas vilas mineiras, afirma-se como profunda análise psicológica de seus angustiados protagonistas.
Na literatura de Graciliano Ramos, a luta contra as pressões da natureza e da exploração social ocorre de modo exemplar em:
I. Sagarana, em que a violência do meio e dos homens traz também consigo um voto de esperança na regeneração do espírito, tal como ocorre com os protagonistas. II. Caetés, romance em que o autor, retomando a dicção do indianismo romântico, dispõe-se a narrar a saga de uma tribo oprimida. III. Vidas secas, romance “em quadros”, como já foi classificado, no qual se relata o esforço de sobrevivência de Fabiano e de sua família.
Atende ao enunciado o que está APENAS em:
I.
II.
III.
I e II.
II e III.
Comparando-se a linguagem, o meio social retratado e os temas frequentados, poucos pontos comuns há entre Clarice Lispector e Guimarães Rosa, entre eles:
a tendência para situar as narrativas no espaço urbano.
a análise psicológica que suspende a progressão das ações.
a fidelidade às linhas centrais da estética modernista de 22.
a criação de um estilo surpreendente e inconfundível.
a preocupação em argumentar em favor de teses sociológicas.
A década de 1950 foi marcada pelo anseio de modernização do país, cujos reflexos se fazem sentir também no plano da cultura. É de se notar o amadurecimento da poesia de João Cabral, poeta que se rebelou contra o que considerava nosso sentimentalismo, nosso “tradicional lirismo lusitano”, bem como o surgimento de novas tendências experimentalistas, observáveis na linguagem renovadora de Ferreira Gullar e na radicalização dos poetas do Concretismo. As linhas geométricas da arquitetura de Brasília e o apego ao construtivismo que marca a criação poética parecem, de fato, tendências próximas e interligadas. (MOUTINHO, Felipe, inédito)
A inauguração de Brasília, símbolo da modernização empreendida durante o período de governo de JK, foi acompanhada de uma série de impactos imediatos, dentre os quais podemos citar:
a mudança da capital federal, medida que causou muita polêmica pois o projeto havia sido inusitado na história do Brasil, e os funcionários federais recusavam- se a mudar para o centro-oeste.
o fim do isolamento econômico do centro-oeste, por meio da inauguração de uma extensa rede viária e de um grande parque industrial nas imediações da capital.
a migração de pequenos agricultores do sul do país para Goiás e Mato Grosso, estimulados por incentivos estatais para o plantio da soja e a agropecuária voltada à exportação.
a transformação da localidade em fundamental polo turístico nacional, em função da curiosidade estrangeira em conhecer a primeira cidade planejada da América Latina.
o crescimento de cidades satélites muito além da proporção imaginada por Lucio Costa em seus primeiros planejamentos, em função da grande população de trabalhadores atraída à região.
Constituem exemplo do construtivismo e do rigor da poesia de João Cabral os seguintes versos:
A falta que me fazes não é tanto à hora de dormir Quando dizias “Deus te abençoe”, e a noite abria em sonho. É quando, ao despertar, revejo a um canto A noite acumulada de meus dias (...)
Preso à minha classe e a algumas roupas, vou de branco pela rua cinzenta. Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Catar feijão se limita com escrever: joga-se os grãos na água do alguidar e as palavras na da folha de papel; e depois, joga-se fora o que boiar.
Quando o enterro passou Os homens que se achavam no café Tiraram o chapéu maquinalmente
O arranha-céu sobe no ar puro lavado pela chuva e desce refletido na poça de lama do pátio. Entre a realidade e a imagem, no chão seco que as separa, quatro pombas passeiam.
O anseio pela renovação da linguagem poética ao longo da década de 50, presente tanto na poesia de Ferreira Gullar como na dos poetas concretos, manifestou-se sobretudo como um empenho em:
reforçar o aspecto discursivo do verso, por meio da valorização dos nexos sintáticos.
espacializar as palavras, reconhecendo em cada uma a autonomia de um signo.
dotar os versos da musicalidade expressiva dos modernos simbolistas europeus.
engajar as palavras num discurso de denúncia e de combate político.
experimentar novas formas fixas de poema, combatendo assim a livre discursividade.