Selecionamos as questões mais relevantes da prova de vestibular UFPR 2019 - C. Gerais. Confira! * Obs.: a ordem e número das questões aqui não são iguais às da prova original.
Com respeito à globalização e a seus impactos sobre o setor industrial, identifique como verdadeiras (V) ou falsas (F) as seguintes afirmativas:
( ) Os investimentos e inovações no setor de transportes e as políticas de abertura comercial, praticadas dos anos 1990 em diante, impulsionaram processos de realocação das indústrias em escala internacional.
( ) Desde 1978, quando retornou à economia de mercado, a China vem experimentando processos de industrialização, urbanização e de aumento da desigualdade de renda.
( ) A industrialização chinesa representa um desafio para o Brasil, porque a China está deixando de importar produtos industriais brasileiros e deverá se tornar um competidor internacional na indústria automobilística e em outros setores importantes para o Brasil.
( ) Nas últimas décadas, os investimentos industriais atraídos pelo custo da mão de obra na China e na Índia agravaram a pobreza de largas parcelas da população desses países, o que implicou o aumento do número de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza em escala mundial.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta, de cima para baixo.
F – V – F – V.
F – V – V – V.
V – F – F – V.
V – F – V – F.
V – V – V – F.
O meio rural brasileiro protagoniza, desde longa data, uma série de questões, algumas das quais contadas em “verso e prosa”, como no clássico Urupês, em que Monteiro Lobato tece uma crítica social ao “Brasil agrário” por meio do imortalizado Jeca Tatu, um personagem indolente, desleixado, ingênuo e desprovido de educação. A respeito do assunto, assinale a alternativa correta.
O Jeca Tatu não apenas simbolizava o caipira numa perspectiva negativa, como também um país pobre, injusto e atrasado, baseado em uma economia agroexportadora.
O descaso do governo com os moradores do campo, somente lembrados pelas autoridades públicas nos tempos das eleições, está na raiz do êxodo rural, destacadamente no Sudeste do país, na primeira metade do século XX.
A chegada de imigrantes de origem europeia, notadamente italianos, alemães e ucranianos, promoveu, a um só tempo, a modernização do campo no Brasil meridional e a superação da figura social do Jeca.
Apesar de adoção de modelos urbanos de administração dos negócios agrários, penetração de equipamentos urbanos no espaço rural e irradiação do modelo de consumo urbano no campo já serem uma realidade no Centro-Sul, o Nordeste permanece agrário e rural.
A população rural no Brasil até a primeira metade do século XX assemelhava-se à figura do Jeca Tatu, o que explica a modernização tardia do campo brasileiro.
Os avanços científicos e tecnológicos têm possibilitado uma compreensão crescente sobre a dinâmica climática global. Apesar desses avanços, grande parte da população mundial ainda não tem acesso aos conhecimentos e tecnologias à disposição e, para a compreensão e predição dos fenômenos naturais que vivenciam, muitos continuam se baseando em conhecimentos populares tradicionais passados de geração em geração. Essas habilidades tradicionais de prognóstico do tempo “se efetivam no contato contínuo do homem com o ambiente, reforçadas pela inteligência, atenção, sensibilidade e experiência, que variam muito de um indivíduo para outro” (Sartori, 2002).
A respeito do assunto, identifique como verdadeiras (V) ou falsas (F) as seguintes afirmativas:
( ) A observação de sinais da natureza para a previsão das chuvas é bastante difundida entre os sertanejos do Nordeste do Brasil, conhecidos como “profetas do tempo”.
( ) A compreensão fenomenológica do clima e do tempo restringe-se às áreas rurais, que permitem o contato direto do ser humano com a natureza.
( ) A observação da fauna e da flora, seja através da presença ou ausência de espécies, da floração e frutificação, são elementos comuns e recorrentes de referência para a compreensão fenomenológica do clima e do tempo.
( ) A observação das condições atmosféricas, através da direção do vento, tipos de nuvens e variação da temperatura, integra os elementos de referência para a compreensão fenomenológica do clima e do tempo.
V – V – F – V.
V – F – V – V.
F – F – V – V.
F – V – V – F.
F – V – F – F.
Em um texto chamado “Resposta à questão: o que é esclarecimento?”, Kant afirma que o “esclarecimento é a saída do homem da menoridade”. Afirma também que a “menoridade é a incapacidade de servir-se do próprio entendimento sem direção alheia” e que “o homem é o culpado por esta incapacidade, quando sua causa resulta na falta, não do entendimento, mas de resolução e coragem para fazer uso dele sem a direção de outra pessoa”.
(KANT, Resposta à questão: O que é esclarecimento? In: MARÇAL, J.; CABARRÃO, M.; FANTIN, M. E. (Org.). Antologia de Textos Filosóficos. Curitiba: SEED-PR, 2009, p. 407.)
Por sua vez, Foucault afirma: “Houve, durante a época clássica, uma descoberta do corpo como objeto e alvo do poder. Encontraríamos facilmente sinais dessa grande atenção dedicada então ao corpo – ao corpo que se manipula, se modela, se treina, que obedece, responde, se torna hábil ou cujas forças se multiplicam [...]”, referindo-se a um corpo (homem) que s e torna ao mesmo tempo analisável e manipulável.
(FOUCAULT, Michel. Os corpos dóceis. In: FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. Trad. Ligia M. Pondé Vassalo. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 1987,p. 125.).
Com base nos dois textos e no pensamento desses filósofos, considere as afirmativas abaixo:
1. O Esclarecimento seria uma espécie de menoridade intelectual e corresponderia à afirmação da religião como ponto de partida para o homem tomar suas principais decisões.
2. Enquanto Kant se preocupa em avaliar o quanto os indivíduos são responsáveis por se deixarem dirigir por outros, Foucault trata de mostrar os modos como a sociedade torna o homem manipulável.
3. Tanto Kant quanto Foucault se questionam pelo nível de autonomia do homem, ambos, porém, a partir de abordagens diferentes e chegando a conclusões diferentes.
4. Fica claro no texto de Foucault que a idade clássica favorece o autoconhecimento e a autonomia de pensamento.
Assinale a alternativa correta.
Somente a afirmativa 2 é verdadeira.
Somente as afirmativas 1 e 4 são verdadeiras.
Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras.
Somente as afirmativas 1, 3 e 4 são verdadeiras.
As afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras.
Quando soube daquele oráculo, pus-me a refletir assim: “Que quererá dizer o Deus? Que sentido oculto pôs na resposta? Eu cá não tenho consciência de ser nem muito sábio nem pouco; que quererá ele então significar declarando-me o mais sábio? Naturalmente não está mentindo, porque isso lhe é impossível”. Por longo tempo fiquei nessa incerteza sobre o sentido; por fim, muito contra meu gosto, decidi-me por uma investigação, que passo a expor.
(PLATÃO. Defesa de Sócrates. Trad. Jaime Bruna. Coleção Os Pensadores. Vol. II. São Paulo: Victor Civita, 1972, p. 14.)
O texto acima pode ser tomado como um exemplo para ilustrar o modo como se estabelece, entre os gregos, a passagem do mito para a filosofia. Essa passagem é caracterizada:
pela transição de um tipo de conhecimento racional para um conhecimento centrado na fabulação.
pela dedicação dos filósofos em resolver as incertezas por meio da razão.
pela aceitação passiva do que era afirmado pela divindade.
por um acento cada vez maior do valor conferido ao discurso de cunho religioso.
pelo ateísmo radical dos pensadores gregos, sendo Sócrates, inclusive, condenado por isso.
Mas, logo em seguida, adverti que enquanto eu queria assim pensar que tudo era falso, cumpria necessariamente que eu, que pensava, fosse alguma coisa. E, notando que esta verdade: eu penso, logo existo, era tão firme e tão certa que todas as mais extravagantes suposições dos céticos não seriam capazes de abalar, julguei que podia aceitá-la, sem escrúpulo, como o primeiro princípio da Filosofia que procurava.
(DESCARTES. Discurso do método. Col. Os Pensadores. Trad. J. Guinsburg e Bento Prado Júnior. São Paulo: Nova Cultural, 1991, p. 46.)
O texto citado corresponde a uma das passagens mais marcantes da filosofia de Descartes, um filósofo considerado por muitos intérpretes como o pai do racionalismo. Com base no texto e na ideia geral de racionalismo, é correto afirmar:
O racionalismo tem como garantia de verdade a experiência.
Descartes é um filósofo empirista, visto que faz experiências de pensamento.
Descartes inaugura um tipo de busca pela verdade que se ampara no exercício.
A expressão “penso, logo existo” é uma das suposições dos céticos sobre o conhecimento.
Descartes não buscava um princípio seguro, pois duvidava de todas as coisas.
A estética corresponde ao ramo da filosofia que se ocupa das manifestações artísticas, buscando apontar, por exemplo, os diferentes critérios e modos como em diferentes momentos ou culturas se percebe e classifica algo como belo, sublime ou agradável. Trata-se, assim, de uma forma de conhecimento que não nega a razão, ao certo, mas que coloca em relevo a forma como ela se relaciona com a imaginação e com a sensibilidade.
A partir do exposto acima, é correto afirmar:
Juntamente com a razão, a imaginação e a sensibilidade são fatores indispensáveis para a nossa apreensão do mundo e das coisas.
A estética é o campo da filosofia que se ocupa da relação entre o pensamento e a religião.
Na estética, a razão predomina sobre a sensibilidade e a imaginação.
O sublime e o agradável devem ser apreendidos de forma objetiva pelo raciocínio lógico.
Na estética não há lugar para a razão, visto que ela se baseia na sensibilidade e na imaginação.
Considere as três premissas abaixo:
1. Devemos proibir legalmente apenas o que é moralmente incorreto.
2. Os filhos mentirem para os pais é moralmente incorreto.
3. Todavia, os filhos mentirem para os pais não deve ser legalmente proibido.
A partir dessas premissas, é correto inferir que:
Não é verdade que devemos proibir legalmente apenas o que é moralmente incorreto.
Os filhos mentirem para os pais não é moralmente incorreto.
Tudo o que é moralmente incorreto é ilegal.
Nem tudo que é moralmente incorreto deve ser legalmente proibido.
Deveria ser proibido que os filhos mentissem para os pais.
Quando se conquistam Estados habituados a reger-se por leis próprias e em liberdade, há três modos de manter a sua posse: primeiro, arruiná-los; segundo, ir habitá-los; terceiro, deixá-los viver com suas leis, arrecadando um tributo e criando um governo de poucos, que se conserve amigos. [...] Quem se torna senhor de uma cidade tradicionalmente livre e não a destrói será destruído por ela. Tais cidades têm sempre por bandeira, nas rebeliões, a liberdade e suas antigas leis, que não esquecem nunca, nem com ocorrer do tempo, nem por influência dos benefícios recebidos. Por muito que se faça, quaisquer que sejam as precauções tomadas, se não se promovem o dissídio e a desagregação dos habitantes, não deixam eles de se lembrar daqueles princípios e, em toda oportunidade, em qualquer situação, a eles recorrem [...]. Assim, para conservar uma república conquistada, o caminho mais seguro é destruí-la ou habitá-la pessoalmente.
(MAQUIAVEL, N. O príncipe. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 21-22.)
Com base nessa passagem, extraída da obra O Príncipe, de Maquiavel, assinale a alternativa correta.
O poder emanado do príncipe deve ter a capacidade de não apenas levar a cabo os planos de expansão de seu próprio governo, mas sobretudo criar condições para que esse poder mantenha-se de forma plena e garanta a legitimidade da própria dominação.
A passagem refere-se em especial às repúblicas que ainda não passaram por um processo de amadurecimento de suas instituições democráticas. Repúblicas que dependem de orientação externa e de outras nações na formação da sua própria identidade política, a fim de suplantar o ódio típico dessas repúblicas.
Para Maquiavel, “habitar” a república conquistada é uma possibilidade mais condizente com a posição do Príncipe. Considerando que o autor tinha laços com o pensamento humanista, “destruir” uma república conquistada implicaria lançar mão da força militar, com a qual Maquiavel não concordava.
No mundo moderno e contemporâneo, o Príncipe, garantidor da ordem e da segurança pública, pode e deve intervir como argumento de preservar as instituições democráticas e republicanas, mesmo que para isso seja necessário o uso da força.
O Príncipe pode, por meio de pleito eleitoral, plebiscito ou consulta popular, agir em nome do povo e garantir a soberania de seu Estado. Pode invadir as nações que coloquem em risco a sua própria liberdade. Pode combater o ódio das outras repúblicas, e que essa nação seja destruída ou habitada pelo Príncipe, a fim de assegurar a ordem democrática.
Sobre a questão do etnocentrismo, Roque de Barros Laraia escreve que “o fato de o indivíduo ver o mundo através de sua cultura tem como consequência a propensão em considerar o seu modo de vida mais correto e o mais natural. Tal tendência, denominada etnocentrismo, é responsável em seus casos extremos pela ocorrência de numerosos conflitos sociais. O etnocentrismo, de fato, é um fenômeno universal. É comum a crença de que a própria sociedade é o centro da humanidade, ou mesmo sua única expressão.[...] A dicotomia ‘nós e os outros’ expressa em níveis diferentes essa tendência. Dentro de uma mesma sociedade, a divisão ocorre sob a mesma forma de parentes e não parentes. Os primeiros são melhores por definição e recebem um tratamento diferenciado.[...] Comportamentos etnocêntricos resultam também em apreciações negativas dos padrões culturais de povos diferentes. Práticas de outros sistemas culturais são catalogadas como absurdas, deprimentes e imorais”.
(LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 2001, p. 73-74.)
Em resumo, Laraia tenta nos mostrar que:
o etnocentrismo é um conceito amplamente difundido nas ciências humanas, mas incapaz de explicar de forma pormenorizada a construção das identidades nacionais, das práticas culturais e as relações formadas pelo “estranhamento” do contato entre diferentes grupos sociais. Afinal, quem dispõe dos instrumentos de análise pode escolher, conforme seus critérios próprios, como catalogar o outro.
a cultura tem um papel fundamental na elaboração de visões de mundo, e que o problema maior em considerar o etnocentrismo está no fato de que esse conceito não possui uma perspectiva cultural, mas apenas política, muito embora o autor não deixe claro essa contradição, já que ele próprio é etnocêntrico.
um dos pontos centrais que define o etnocentrismo, conceito amplamente difundido nos estudos antropológicos, é compreender como determinadas práticas culturais constituídas pelo “estranhamento” se tornam elementos fundamentais na construção das identidades de grupo, comunitárias, societárias e nacionais. Identidades que, por sua vez, estruturam-se por distinção, em que o observador assume para si e seu grupo a centralidade cognitiva.
para entendermos o real significado do etnocentrismo nas culturas ocidentais, será necessário pressupor que a dicotomia entre o “nós e os outros” é um aspecto que deve ser superado por todos que desejam construir uma visão genuinamente etnocêntrica.
não há problema em observar, agir e interagir a partir da seus próprios referenciais culturais. O conceito de etnocentrismo possui certa legitimidade, pois resguarda na centralidade cultural aquilo que uma raça tem de mais puro quando confrontada com outra.