Selecionamos as questões mais relevantes da prova de vestibular Unespar 2016. Confira! * Obs.: a ordem e número das questões aqui não são iguais às da prova original.
Platão, filósofo grego e um dos pensadores mais influentes da história da filosofia, deixou quase toda sua filosofia escrita em forma de diálogos. Na maioria deles, Sócrates é a personagem principal que debate com demais interlocutores os temas relevantes que constituem, de certa forma, o todo da filosofia de Platão. A forma de diálogo pode ser caracterizada como:
A demonstração de que Platão e os autores de sua época desconheciam outra forma de escrita;
Apenas uma forma que facilitava lembrar o texto, visto que se tratava de uma cultura da oralidade;
Uma estratégia adequada que privilegiava a construção do pensamento de forma dialética através da maiêutica socrática;
A demonstração de que Platão não dominava completamente os problemas que ele discutia e, por isso, precisava recorrer às ideias de outras pessoas;
Uma estratégia pedagógica para facilitar o uso das obras na Academia, escola fundada por Platão.
A República de Platão é uma das obras mais lidas e reconhecidas da História da humanidade. Seu tema principal é:
A construção de uma cidade ideal, que Platão implanta de fato em uma terra distante de Atenas, como nos narra depois em sua Carta Sétima;
O conceito de verdade construído na Alegoria da Caverna, o que demonstra que toda a construção da cidade não passa de uma metáfora e que o tema que interessa realmente a Platão não é política, e sim conhecimento;
A arte e sua necessária submissão à ciência, como fica claro nos livro III e X em que Platão argumenta não ser a arte uma atividade racional;
A ética e a política, embora Platão argumente que a cidade ideal não pudesse ser construída. Ela precisava ser pensada a fim de iluminar os governantes;
Uma política que deve ser submetida não aos desígnios das vontades subjetivas mas a um governo estabelecido em bases racionais.
Aristóteles foi um dos pensadores mais importantes da história da filosofia no Ocidente, tanto por sua contribuição para a própria filosofia quanto para as ciências, que partiram de muitas questões apresentadas pelo filósofo para desenvolver suas investigações. Ele deixou duas obras dedicadas aos problemas das ciências práticas: Ética a Nicomaco e A Política. É de conhecimento de todos que, mesmo tendo sido aluno de Platão, Aristóteles construiu seu próprio pensamento e que, muitas vezes, apresentou ideias contrárias às de seu mestre. Um exemplo disso é sua Ética a Nicomaco. Marque a alternativa que melhor caracteriza a obra aristotélica.
Trata-se de uma ética baseada no comportamento dos animais;
Trata-se de uma ética baseada na lógica e, portanto, defende que as ações são consequências do pensamento;
Trata-se de uma ética pautada nas virtudes que o homem tem por natureza e naquelas que ele desenvolve ao longo da sua vida;
Trata-se de uma ética fundamentada nos valores aristocráticos da sociedade grega da época;
Trata-se de uma ética experimental e, portanto, resultante das experiências que o homem faz, enquanto animal político.
A filosofia moderna é marcada pela necessidade de afirmar a importância de um método para a investigação, fato que não afeta apenas as preocupações dos filósofos, mas também dos cientistas que começavam a esboçar, de forma mais metódica, produção de conhecimento. O método mais celebrado entre os filósofos da época foi aquele desenvolvido por René Descartes, conhecido como o pai do Racionalismo moderno. Contudo, o filósofo Francis Bacon colocou importantes críticas a respeito da validade do método de Descartes. Assinale a alternativa que melhor represente a contribuição de Descartes e a de Bacon, respectivamente.
O método cartesiano consistia em criticar sistematicamente a lógica e acreditar na evidência da verdade na mente subjetiva. Já o de Bacon tratava de ignorar o mundo empírico em busca de verdades racionais;
O método cartesiano propõe colocar em dúvida tudo aquilo que pode conter erros, até atingir verdades fundamentais que possuam absoluta evidência racional. O de Bacon, parte do reconhecimento de que a ciência da época não progredia em função de uma lógica que não era adequada ao conhecimento do mundo empírico, e apenas este conhecimento deveria importar em detrimento de raciocínios metafísicos;
Descartes propunha que se desconfiasse das verdades estabelecidas, uma vez que nenhuma verdade é possível para o intelecto humano, e Bacon propunha buscar a verdade apenas no mundo empírico, sem considerar argumentos racionais;
Uma frase emblemática de Descartes é “não há nada no intelecto que não tenha passado antes pelos sentidos”, e seu método consiste numa arqueologia das sensações que dão origem a um conceito. Já Bacon é conhecido por ser o pai do método científico, que preconiza que a investigação deve ser realizada através da experimentação;
Descartes divide seu método em fases e diz que precisamos conhecer primeiro as diferentes lógicas para depois aplicá-las ao conhecimento da verdade. Bacon critica justamente a preponderância da lógica aristotélica no conhecimento elaborado pela ciência, até então.
Leia o trecho abaixo, retirado do ensaio “Do padrão do gosto”, de David Hume.
“É com boa razão, diz Sancho ao cavaleiro narigudo, que pretendo julgar de vinhos: esta é uma qualidade hereditária em nossa família. Dois de meus parentes foram certa vez chamados a opinar sobre um barril de vinho supostamente excelente, pois era antigo e de boa safra. Um deles o saboreia, considera e, após madura reflexão, declara que o vinho é bom, não fosse por um ressaibo de couro que percebera nele. O outro, depois de usar as mesmas precauções, também dá veredicto favorável ao vinho, com a ressalva de um gosto de ferro que facilmente distinguira ali. Não pode imaginar o quanto ambos foram ridicularizados por seus juízos. Mas quem riu por último? Esvaziado o barril, encontrou-se no fundo dele uma velha chave de ferro presa a uma correia de couro.” (HUME, 2011, p. 180)
Assinale a alternativa que mais se aproxima da ideia exposta no texto acima.
Segundo Hume, a beleza é uma característica difícil de perceber e por isso é necessário construir um método preciso;
Segundo Hume, o paladar é o mais impreciso dos sentidos e por isso houve a diferença no julgamento narrado na história de Dom Quixote;
Para Hume, a construção do padrão do gosto depende de entender que a beleza é uma característica das coisas mesmas;
Para Hume, a construção do padrão do gosto depende de entender que a beleza é uma característica subjetiva e não das coisas mesmas;
Segundo Hume, a beleza é um conceito que só pode ser construído pela experiência.
“A existência precede a essência” é uma inversão feita por Sartre de uma hierarquia milenar de valores defendida pela filosofia tradicional. Marque a alternativa que melhor explica o sentido desta inversão.
Sartre é um filósofo existencialista, pois acredita que o homem nasce sem nenhuma pré-determinação no que diz respeito a seu ser, isto é, sem uma essência. Essências são apenas significados estabelecidos a partir da existência humana, isto é, são criadas pelo homem;
Para Sartre, o homem é uma existência temporal e livre, de maneira que apenas precisa lidar com escolhas e consequências das suas escolhas. As essências são apenas aquelas estabelecidas por Deus e o homem só as conhecerá depois de sua morte;
Sartre, cujo relacionamento amoroso não monogâmico com Simone de Beauvoir causou escândalo na década de 1930, era um filósofo ateu que criticava, na verdade, a crença religiosa em essências intangíveis, sendo sua principal bandeira o combate à religião cristã;
Sartre escreve sua teoria do homem a partir de uma visão transcendentalista, mas defende que o ser individual, a existência, é mais importante que a essência;
Para Sartre, todas as pessoas nascem como existências livres, mas à medida que vão fazendo escolhas se comprometem de tal modo, que já não é possível exercer a liberdade.
Os filósofos da Escola de Frankfurt, reconhecidamente influenciados pelo pensamento de Karl Marx, voltaram suas pesquisas para questões relacionadas às artes e à comunicação, tais como a música, o cinema e ao rádio. O amplo desenvolvimento técnico e tecnológico permitiu uma aceleração na forma de veicular a produção cultural e, ao investigar isso, Adorno e Horkheimer criaram o termo indústria cultural. Sobre a influência exercida por Marx, assinale a opção que mais se aproxima da questão descrita acima.
Mais-valia como instrumento de desenvolvimento de uma economia capitalista;
A transformação das obras de arte em mercadoria;
O desenvolvimento tecnológico que facilitou a produção musical, por exemplo;
A crítica ao capitalismo como um sistema excludente;
A exploração das forças de trabalho proletariado pelos donos dos sistemas de produção.
Em 1962, o físico norte-americano Thomas Kuhn publicou o livro A estrutura das revoluções científicas, obra que contribui para a construção de uma história das ideias e das ciências e foi fundamental para o desenvolvimento da filosofia da ciência. Segundo Kuhn, a estrutura básica do desenvolvimento de uma disciplina científica passa pelas seguintes etapas:
Hipóteses → ciência normal → crise → revolução → novas hipóteses → nova ciência normal → nova crise → nova revolução;
Hipóteses → ciência normal → revolução → novas hipóteses → nova ciência normal → nova revolução;
Fase pré-paradigmática → ciência normal → crise → solução → nova fase pré-paradigmática → nova ciência normal → nova crise → nova solução;
Hipóteses → método → crise → revolução → novas hipóteses → novo método → nova crise → nova revolução;
Fase pré-paradigmática → ciência normal → crise → revolução → nova fase pré-paradigmática → nova ciência normal → nova crise → nova revolução.
O aborto é permitido no Brasil apenas em três situações: se a gravidez é decorrente de estupro, se há risco de morte para a mãe ou se o feto é anencefálico. A legalidade do aborto em decorrência do estupro é garantida por lei desde a década de 1940. Recentemente assistimos a uma enorme polêmica em torno do Projeto de Lei 5069 de 2013, da autoria do Deputado Federal Eduardo Cunha, que pretende dificultar o atendimento às vítimas de estupro, exigindo que passem por exame de corpo de delito para comprovar a violência sexual, além de punir, com até 3 anos de prisão, o funcionário da saúde que forneça informação ou profilaxia de gravidez sem esta condição. Na prática, além de fazer uma mulher violentada passar pelo constrangimento de ser encaminhada à segurança pública antes de receber atendimento de saúde, isto transformaria o próprio conceito de violência sexual de forma radical. Na legislação brasileira, hoje, violência sexual corresponde a qualquer atividade sexual não consentida, e a partir desta mudança, apenas seriam considerados violência sexual aqueles casos que incluem violência física. Uma das consequências mais nefastas deste projeto, é fragilizar ainda mais a condição de meninas e adolescentes violentadas cotidianamente por seus próprios familiares, um crime raramente denunciado e pouco combatido no país. Considerando que a cada dez minutos uma pessoa é estuprada no Brasil (dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública), este projeto de lei nos joga em um espanto assombroso e nos faz pensar: a quem interessam estas mudanças?
Às próprias mulheres que ganham, em caso de gravidez, a obrigatoriedade de que o pai (estuprador) registre o filho e assuma o seu sustento;
Às forças conservadoras que vêm emergindo na política brasileira, que em nome da proibição do aborto, além de atender à sua religiosidade fanática e à sua falsa moral, aproveitam para destilar ódio contra a liberdade e os direitos conquistados pelas mulheres, desde o último século, e encontrar formas perversas de aumentar o seu poder;
À sociedade brasileira como um todo, pois este tipo de lei é de caráter exemplar e ajudará a construir uma nação mais ética e justa. Os valores que estão em jogo não são dignos de serem questionados mesmo nas situações mais extremas;
Aos partidos de esquerda, historicamente ligados às Igrejas e cujos valores conservadores aliados às políticas populistas são a força que utilizam para manter-se no poder;
Nenhuma das alternativas anteriores.
No Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), realizado em 2015, uma questão causou polêmica ao apresentar a obra O segundo sexo, escrita pela filósofa francesa Simone de Beauvoir, em 1949. Apesar de se tratar de uma obra extremamente importante, sobretudo por defender a necessidade de se pensar a mulher como uma questão filosófica, esta não é sua única obra, assim como ela não é a única filósofa. A invisibilidade da mulher, na filosofia e também nas ciências, não pode ser explicada apenas por um motivo porque engendra um processo histórico-político que atravessa os séculos. Assinale a alternativa que não se relaciona corretamente com esse processo de invisibilidade da mulher.
Por ser naturalmente selecionada para a maternidade, a mulher não conseguiu desenvolver seu intelecto e sua cognição na mesma proporção que o homem;
A história da filosofia ocidental é marcada por valores que foram construídos de forma arbitrária e que precisam ser discutidos seriamente, a fim de evitar que se transformem em verdade absoluta com o passar dos séculos;
A invisibilidade da mulher está associada a um projeto político de concentração e manutenção das estruturas de poder;
A clássica separação entre corpo e alma, com privilégio para a última, reforça uma negligência consciente em relação ao corpo, que poderia ser um espaço de debate sobre gênero e sexualidade;
A cultura machista, que se faz presente em diversas atividades no modo de vida ocidental e capitalista, contribui para o desinteresse e o silêncio em relação à produção intelectual das mulheres.