Selecionamos as questões mais relevantes da prova de vestibular UNICAMP 2017. Confira! * Obs.: a ordem e número das questões aqui não são iguais às da prova original.
Além de escrever Dom Quixote das crianças, Monteiro Lobato também leva o “cavaleiro errante” para o Sítio do Pica-Pau Amarelo.
Lá na varanda Dom Quixote conversava com Dona Benta sobre as aventuras, e muito admirado ficou de saber que sua história andava a correr mundo; escrita por um tal de Cervantes. Nem quis acreditar; foi preciso que Narizinho lhe trouxesse a edição de luxo ilustrada por Gustavo Doré. O fidalgo folheou o livro muito atento às gravuras, que achou ótimas, porém falsas. – Isso não passa duma mistificação! – protestou ele. – Esta cena aqui, por exemplo. Está errada. Eu não espetei este frade, como o desenhista pintou – espetei aquele lá. – Isto é inevitável – disse Dona Benta. – Os historiadores costumam arranjar os fatos do modo mais cômodo para eles; por isto a História não passa de histórias. (Adaptado de Monteiro Lobato, O Picapau Amarelo. São Paulo: Brasiliense, 2004, p. 18.)
Na cena narrada:
Dona Benta mostra a Dom Quixote que a história dele não é, de forma alguma, uma mistificação.
Dona Benta convence Dom Quixote de que as gravuras não refletem a História dos fatos.
Dona Benta concorda com Dom Quixote e critica o fato de a História ser fruto de interesses.
Dona Benta opõe-se a Dom Quixote e critica a forma como a história dele é narrada nos livros.
Na tira acima, o autor retoma um célebre lema retirado do Manifesto Comunista (1848), de Karl Marx e Friedrich Engels: “Operários do mundo, uni-vos!”.
Considerando os sentidos produzidos pela tirinha, é correto afirmar que nela se lê:
uma apologia ao Manifesto Comunista, atenuada pela onomatopeia que imita o som (“zzzzzz”) das abelhas.
uma paródia do lema do Manifesto Comunista, baseada na semelhança fonética entre “uni-vos” e “zuni-vos”.
uma parábola para explicar o Manifesto Comunista por meio da semelhança fonética entre “uni-vos” e “zuni-vos”.
uma fábula que recria o lema do Manifesto Comunista, com base na linguagem onomatopaica das abelhas (“zzzzzz”).
Em depoimento, Paulo Freire fala da necessidade de uma tarefa educativa: “trabalhar no sentido de ajudar os homens e as mulheres brasileiras a exercer o direito de poder estar de pé no chão, cavando o chão, fazendo com que o chão produza melhor é um direito e um dever nosso. A educação é uma das chaves para abrir essas portas. Eu nunca me esqueço de uma frase linda que eu ouvi de um educador, camponês de um grupo de Sem Terra: pela força do nosso trabalho, pela nossa luta, cortamos o arame farpado do latifúndio e entramos nele, mas quando nele chegamos, vimos que havia outros arames farpados, como o arame da nossa ignorância. Então eu percebi que quanto mais inocentes, tanto melhor somos para os donos do mundo. (…) Eu acho que essa é uma tarefa que não é só política, mas também pedagógica. Não há Reforma Agrária sem isso.” (Adaptado de Roseli Salete Galdart, Pedagogia do Movimento Sem Terra: escola é mais que escola. São Paulo: Expressão Popular, 2008, p. 172.)
No excerto adaptado que você leu, há menção a outros arames farpados, como “o arame da nossa ignorância”. Trata-se de uma figura de linguagem para:
a conquista do direito às terras e à educação que são negadas a todos os trabalhadores.
a obtenção da chave que abre as portas da educação a todos os brasileiros que não têm terras.
a promoção de uma conquista da educação que tenha como base a propriedade fundiária.
a descoberta de que a luta pela posse da terra pressupõe também a conquista da educação.
(Disponível em https://www.facebook.com/SignosNordestinos/?fref=ts. Acessado em 26/07/2016.)
Do ponto de vista da norma culta, é correto afirmar que “coisarˮ é:
uma palavra resultante da atribuição do sentido conotativo de um verbo qualquer ao substantivo “coisaˮ.
uma palavra resultante do processo de sufixação que transforma o substantivo “coisaˮ no verbo “coisarˮ.
uma palavra que, graças a seu sentido universal, pode ser usada em substituição a todo e qualquer verbo não lembrado.
uma palavra que resulta da transformação do substantivo “coisaˮ em verbo “coisarˮ, reiterando um esquecimento.
Assinale a alternativa correta.
A pergunta lançada no último quadrinho (“Você sabe quem inventou o avião?ˮ) remete-nos a Santos Dumont, portanto confirma o que se diz no primeiro e segundo quadrinhos.
A pergunta lançada no último quadrinho (“Você sabe quem inventou o avião?ˮ) retifica a afirmação do primeiro quadrinho (“Não há lei que o brasileiro não burle.ˮ).
A afirmação do segundo quadrinho (“Há a lei da Gravidade.ˮ) refere-se a uma lei da física que nenhum brasileiro é capaz de burlar, como se admite no primeiro quadrinho.
A pergunta lançada no último quadrinho (“Você sabe quem inventou o avião?ˮ) é retórica, já que não há uma resposta para ela nem no primeiro nem no segundo quadrinhos.
No dia 21 de setembro de 2015, Sérgio Rodrigues, crítico literário, comentou que apontar no título do filme Que horas ela volta? um erro de português “revela visão curta sobre como a língua funciona”. E justifica: “O título do filme, tirado da fala de um personagem, está em registro coloquial. Que ano você nasceu? Que série você estuda? e frases do gênero são familiares a todos os brasileiros, mesmo com alto grau de escolaridade. Será preciso reafirmar a esta altura do século 21 que obras de arte têm liberdade para transgressões muito maiores? Pretender que uma obra de ficção tenha o mesmo grau de formalidade de um editorial de jornal ou relatório de firma revela um jeito autoritário de compreender o funcionamento não só da língua, mas da arte também.” (Adaptado do blog Melhor Dizendo. Post completo disponível em http://www.melhordizendo.com/a-que-horas-ela-volta-em-que-ano-estamos-mesmo/. Acessado em 08/06/2016.)
Entre os excertos de estudiosos da linguagem reproduzidos a seguir, assinale aquele que corrobora os comentários do post.
Numa sociedade estruturada de maneira complexa a linguagem de um dado grupo social reflete-o tão bem como suas outras formas de comportamento. (Mattoso Câmara Jr., 1975, p. 10.)
A linguagem exigida, especialmente nas aulas de língua portuguesa, corresponde a um modelo próprio das classes dominantes e das categorias sociais a elas vinculadas. (Camacho, 1985, p. 4.)
Não existe nenhuma justificativa ética, política, pedagógica ou científica para continuar condenando como erros os usos linguísticos que estão firmados no português brasileiro. (Bagno, 2007, p. 161.)
Aquele que aprendeu a refletir sobre a linguagem é capaz de compreender uma gramática – que nada mais é do que o resultado de uma (longa) reflexão sobre a língua. (Geraldi, 1996, p. 64.)
Caligrafia (Arnaldo Antunes)
Arte do desenho manual das letras e palavras. Território híbrido entre os códigos verbal e visual. A caligrafia está para a escrita como a voz está para a fala. A cor, o comprimento e espessura das linhas, a disposição espacial, a velocidade dos traços da escrita correspondem a timbre, ritmo, tom, cadência, melodia do discurso falado. Entonação gráfica. Assim como a voz apresenta a efetivação física do discurso (o ar nos pulmões, a vibração das cordas vocais, os movimentos da língua), a caligrafia também está intimamente ligada ao corpo, pois carrega em si os sinais de maior força ou delicadeza, rapidez ou lentidão, brutalidade ou leveza do momento de sua feitura. (Adaptado de https://www.arnaldoantunes.com.br. Acessado em 12/07/2016.)
Em Caligrafia, o autor:
estabelece uma relação de causa e efeito entre caligrafia e voz.
sugere uma relação de oposição entre caligrafia e voz.
projeta uma relação de gradação entre caligrafia e voz.
apreende uma relação de analogia entre caligrafia e voz.
“Uma peripécia, uma reviravolta nas circunstâncias, de uma hora para outra transforma uma sequência rotineira de acontecimentos numa história.” (Jerome Bruner, Fabricando histórias. Direito, literatura, vida. São Paulo: Letra e Voz, 2014, p.15.)
Levando-se em conta a noção acima proposta por Jerome Bruner, qual é a peripécia que ocorre no terceiro ato da peça Lisbela e o prisioneiro?
O disparo de arma de fogo em direção a Frederico Evandro, realizado por Lisbela, e a descoberta posterior de que as balas do revólver eram de festim.
O encontro furtivo de Lisbela e Leléu na prisão, que torna possível a fuga do casal de amantes e produz o desenlace do drama.
A fuga de Leléu da prisão, que somente foi possível devido às artimanhas de Lisbela ao pedir que seu pai desse uma corda para o prisioneiro.
O retorno heroico de Frederico Evandro à prisão, com o intuito de salvar Leléu e assassinar o Tenente Guedes.
O romance Memórias póstumas de Brás Cubas é considerado um divisor de águas tanto na obra de Machado de Assis quanto na literatura brasileira do século XIX. Indique a alternativa em que todas as características mencionadas podem ser adequadamente atribuídas ao romance em questão.
Rejeição dos valores românticos, narrativa linear e fluente de um defunto autor, visão pessimista em relação aos problemas sociais.
Distanciamento do determinismo científico, cultivo do humor e digressões sobre banalidades, visão reformadora das mazelas sociais.
Abandono das idealizações românticas, uso de técnicas pouco usuais de narrativa, sugestão implícita de contradições sociais.
Crítica do realismo literário, narração iniciada com a morte do narrador-personagem, tematização de conflitos sociais.
No conto “Amor”, de Clarice Lispector, após ver um cego mascando chicletes, a personagem passa por uma situação que, segundo o narrador, ela própria chama de “crise”:
“O que chamava de crise viera afinal. E sua marca era o prazer intenso com que olhava agora as coisas, sofrendo espantada. O calor se tornara mais abafado, tudo tinha ganho uma força e vozes mais altas.” (Clarice Lispector, Laços de Família. Rio de Janeiro: Rocco, 2009, p.23.)
Essa crise, que transforma a relação da personagem com o mundo e com a família:
nasce do colapso da vontade de viver da personagem, em razão do doloroso prazer com que passou a ver as coisas.
revela o conflito vivido pela personagem entre o tipo de vida que havia escolhido e as coisas que passou a desejar.
constitui, para a personagem, uma alteração no modo de vida que antes a fazia sofrer e do qual agora havia se libertado.
remete à excitação da personagem por ter conseguido harmonizar sua antiga vida com os novos desejos e sensações.