Selecionamos as questões mais relevantes da prova de vestibular URCA 2017/2. Confira! * Obs.: a ordem e número das questões aqui não são iguais às da prova original.
“Em 3 de janeiro de 1992, realizou-se no auditório de um edifício público em Moscou um encontro de estudiosos russo e norte-americanos. Duas semanas antes a União Soviética tinha deixado de existir e a Federação Russa se tornara um país independente... Em 18 de abril de 1994, duas mil pessoas se concentraram em Serajevo, agitando as bandeiras da Arábia Saudita e da Turquia. Ao desfraldarem essas bandeiras, em vez das da ONU, da OTAN e dos Estados Unidos, esses habitantes de Serajevo se identificavam com seus companheiros muçulmanos e indicavam ao mundo quem eram seus verdadeiros amigos... Em 16 de outubro de 1994, em Los Angeles, 70 mil pessoas desfilaram debaixo de “um mar de bandeiras mexicanas”, em protesto contra a Proposta 187, uma disposição submetida a plebiscito que negaria benefícios estaduais aos imigrantes ilegais e a seus filhos.” (HUNTINGTON, Samuel P. O Choque de Civilizações. Rio de Janeiro: Objeitva, 1996, p. 1718).
Considerando o mundo pós-Guerra Fria identificado nas passagens textuais acima, assinale a alternativa que expressa corretamente sua(s) característica(s):
A política mundial é, ao mesmo tempo, multipolar e multicivilizacional;
A modernização econômica produz cada vez mais uma civilização universal ocidentalizada;
A influência Ocidental está em alta, gerando declínio do poderio econômico, militar e político das civilizações asiáticas;
As civilizações ocidentais se submetem cada vez mais às civilizações orientais, enquanto ocorre um declínio demográfico e religioso do mundo islâmico;
As pretensões universalistas do Ocidente o levam a um ambiente de paz e harmonia com outras civilizações, a exemplo do Islã e da China.
“Quantos “cariris” cabem no espaço hoje conhecido pelo mesmo nome? Quantos nomes, vozes e histórias ajudaram a construí-lo como lugar incomum e plural para tantas gerações de intelectuais, artistas, políticos e religiosos? Cariri, espaço simbólico, monumentalizado em narrativas, cantado e poetizado por homens como José Bernardino da Silva, Patativa do Assaré, Manoel Caboclo; esculpido em formas belas e estranhas como as da escola de artistas populares inaugurada por Noza, Ciça do Barro Cru, Nino e tantos outros que se destacaram ao longo do século XX; xilogravado por Stêncio Diniz, José Lourenço, Nilo, dentre outros. Tantas cores, palavras e nuances que, encontrar uma síntese de definição tem sido tarefa complexa a qual muitos dedicaram a vida.” (MENESES, Sônia. Apresentação do livro Cariri, Cariris: outros olhares sobre um lugar (in) comum. MENESES, Sônia (org.). Crato: Universidade Regional do Cariri (URCA); Recife: Imprima, 2016.
Considerando o trecho acima da historiadora Sônia Meneses, é correto afirmar sobre o Cariri e sua história e território:
A palavra Kariri denota a designação de grupos indígenas que, quando da chegada dos colonizadores, habitavam o sul da América Portuguesa e migraram para o sul do atual território do Ceará para fugir dos conflitos com os colonizadores espanhóis;
Considerando o uso feito pela população local no seu cotidiano, a designação Cariri significa exclusivamente os vales altiplanos da Chapada do Araripe;
Segundo a tradição historiográfica fundada pelos historiadores Irineu Pinheiro e José de Figueiredo Filho, o Cariri é uma área à parte do Nordeste, diferente por sua natureza, pelo clima e vegetação, em relação ao restante do sertão nordestino;
A criação do ICC (Instituto Cultural do Cariri) pode ser considerada um marco na produção historiográfica do Cariri, pois o Instituto foi fundado por um grupo de intelectuais preocupados em negar as obras de Irineu Pinheiro e José de Figueiredo e criar uma “nova identidade” para a região;
Um fator importante para o processo de construção da identidade do caririense foi a participação nos movimentos políticos do início do século XIX, quando os principais núcleos familiares da região, tendo como liderança a Dona Bárbara de Alencar, se colocaram em defesa da monarquia portuguesa (1817) e da monarquia brasileira (1824);
“Naquelas eras faziam os poderosos a justiça a seu modo. Ora pelo bacamarte, ora a cacete, ou por outros processos originais, a mangas de gibão, por exemplo. Eram as mangas de gibão uns vasos de couro de bode bem curtido, de meio metro de comprimento e de cerca de dez centímetros de diâmetro, cosidos com uma delgada correia ou por meio fio de algodão bem encerados com cera de abelha. A uma das extremidades adaptavam um cano de taquara” (PINHEIRO, Irineu. O Cariri. Fortaleza: Edições UFC, 2010, p. 188).
Sobre as práticas políticas no cairiri, nos primeiros anos da República (1889-1930), assinale a única alternativa CORRETA:
A abundância e fertilidade da terra evitou os conflitos entre os proprietários fundiários da região, sendo comum se unirem contra os agressores que vinham de outras regiões;
Em épocas de conflitos por motivos locais, o governo do Estado evitava se envolver, fazendo apenas o papel de árbitro entre os contendores;
Apesar do poderio da terra garantir a exploração da mão-de-obra barata dos despossuídos, para os conflitos armados, os poderosos “coronéis” buscavam força militar nas regiões vizinhas para evitar o desperdício da força de trabalho nas contendas armadas;
Era comum a constituição das comunas caririenses, nos primeiros anos da República. Verdadeiros “feudos” políticos, eram autênticos senhores de poder político e militar baseado principalmente na propriedade da terra;
A eleição de Campos Sales para a presidência do Brasil pôs fim às práticas dos comerciantes e fazendeiros do Cariri auxiliarem seus parentes nas eleições locais e nas lutas armadas.
“Por quase um século e meio, a bandeira tricolor francesa forneceu abertamente o modelo para as bandeiras da maioria dos Estados recém-independentes ou unificados no mundo... Em comparação, eram muito poucas as bandeiras nacionais que mostravam a influência direta das estrelas e listas, mesmo se considerarmos a presença de uma única estrela no topo do canto esquerdo como um sinal de derivação da bandeira dos Estados Unidos” (HOBSBAWM, Eric. Ecos da Marselhesa. São Paulo: Companhia das Letras, 1996).
Considerando as influências francesa e norte-americana nos processos de independência, unificação e revolucionários dos séculos XVIII a XX, conforme destaca o texto, assinale a alternativa CORRETA:
A Revolução Francesa dominou a história, a linguagem e o simbolismo da política ocidental até o período da Primeira Guerra Mundial, incluindo-se países pobres que viram que as esperanças de seus povos estavam na modernização dos Estados europeus;
A Revolução Francesa foi absorvida pelo movimento da Revolução Americana porque os revolucionários norte-americanos se identificaram com os revolucionários do Ancien Régime;
Mais do que a Revolução Francesa, a Revolução Norte Americana via-se como um fenômeno global, pioneiro e exemplo a ser seguido;
Os movimentos de independência do final do século XVIII e início do século XIX, na América Latina, foram os poucos do ocidente que se deixaram levar exclusivamente pela Revolução Americana enquanto negligenciaram a inspiração francesa;
Ao final do século XIX a Europa consistia majoritariamente de repúblicas que se inspiravam na Revolução Norte-Americana, o que influenciaria diretamente na eclosão da 1ª Guerra Mundial.
“De meados do século XII a cerca de 1340, o desenvolvimento da cristandade latina atinge o seu apogeu. Nesse apogeu a França ocupa o primeiro lugar e o grande movimento de urbanização está no auge. As cidades são uma das principais manifestações e um dos motores essenciais dessa culminação medieval.” (LE GOFF, Jacques. O apogeu da cidade medieval.)
Observando o texto do historiador acima e considerando o período histórico da Europa, por ele destacado, pode-se corretamente afirmar:
A Europa vivenciava um período de retração econômica, enquanto as cidades entravam em processo de decadência;
A Igreja Católica foi-se adaptando à nova realidade, enquanto triunfava sobre as ameaças heréticas e construía seus grandes templos;
Aos poucos ia se constituindo uma nova sociedade voltada para o uso da terra e a ruralização da sociedade;
Manifestava-se um desequilíbrio entre a nobreza que não acreditava na vida urbana e a burguesia que buscava uma vida rural semelhante à nobreza;
Triunfavam as cidades desordenadas que se contrapunham e não se submetiam aos monarcas.
“É uma cidade de traçado moderníssimo, com largas ruas e extensas avenidas (...) Desde trinta anos atrás é Curitiba iluminada a Luz elétrica. Outros serviços importantes foram inaugurados mais tarde: telefones, corpo de bombeiros, águas e esgotos, guarda civil, bondes elétricos ligando o centro urbano aos mais afastados bairros.” (Trecho do Amanak Laemmert, de 1922, sobre a cidade de Curitiba, In: Revista Nosso Século, v. 4, p. 43.)
Sobre o processo de modernização das cidades brasileiras nos primeiros trinta anos do século XX, assinale a alternativa CORRETA:
O ciclo do café e o processo de industrialização do Brasil, neste período, é suficiente para explicar o crescimento destas cidades;
As transformações não ocorriam apenas no espaço físico, o modo de pensar e de se comportar também mudaram, notadamente com a influência norte-americana que foi se sobrepondo aos comportamentos europeus;
Com o processo de modernização das cidades diversos problemas urbanos desapareceram tais como o jogo, a infância abandonada, os alugueis, os suicídios, os acidentes automobilísticos;
Mesmo com o processo de modernização neste período, somente após os anos de 1930, é que novidades como o automóvel, a iluminação elétrica, o aparecimento de grandes edifícios e o cinema passaram a fazer parte da vida de grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro;
O processo de embelezamento de grandes centros como Rio de Janeiro e São Paulo trouxe benefícios tanto para as áreas centrais como periféricas, bem como para os mais ricos e os mais pobres.
Sobre o movimento historicamente conhecido como Inconfidência Mineira de 1788-9, pode-se corretamente afirmar:
O conflito em Minas Gerais foi o resultado das divergências sócio-econômicas entre Minas Gerais e Portugal e da contradição de grupos de interesses coloniais e metropolitanos;
O movimento, de fato, é sem significância, e não mereceria fazer parte da História do Brasil, sendo seu significado adquirido apenas por conta da propaganda republicana em torno da figura de Tiradentes;
Apesar de ocorrer no século XVIII, a Inconfidência Mineira, por seu caráter local, não deve ser analisada considerando fatos da época como a Independência dos Estados Unidos, a Revolução Francesa e a haitiana;
A Inconfidência Mineira pode ser explicada, dentre outros fatores, pelo crescimento da indústria portuguesa que passou a demandar cada vez mais o ouro brasileiro como forma de pagamento das matérias-primas necessárias;
A Inconfidência Mineira agregou participantes de diversas partes da colônia, insatisfeitos por conta do rigoroso controle sobre o comércio das especiarias do Pará e Maranhão, sobre o tráfico negreiro e sobre as missões jesuíticas.
“Século XXI: maior tolerância e quebra de tabus são a marca da primeira década. Bancas de jornais exibem “mulheres frutas” de todos os tamanhos. Nas propagandas, casais seminus lambem os beiços e trocam olhares açucarados. Nas novelas de televisão, em horário, nobre, nenhum personagem hesita em retificar suas preferências sexuais, em expô-los e em expor-se. Na frente das câmaras, segredos pessoais são revelados sem constrangimento. Práticas antes marginalizadas estão nas telas. A Internet abriu um universo de possibilidades para o sexo. Nos sites, “ricos e famosos” falam abertamente de sua vida particular. A privacidade entrou na rede social” (DEL PRIORY Mary. Histórias íntimas: sexualidade e erotismo na história do Brasil. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2011, p. 10)
Considerando as temáticas abordadas pela historiadora Mary Del Priory, assinale a única afirmativa correta nos itens a seguir.
No Brasil, entre os séculos XVI e XVIII, a vida quotidiana era completamente desregulada. Fazer sexo, andar nu ou ter reações eróticas eram completamente liberados pelas leis e pela Igreja. O sentimento de individualidade sobrepunha-se ao de coletividade;
No Brasil colonial, as regras e os ritos vindos da Europa foram consolidadas entre índios e escravos que facilmente assimilaram os conceitos de vergonha, pudor e castidade;
O banho gozou de pouco prestígio entre as civilizações antigas, pois estava associado ao prazer. Com o cristianismo, os banhos passaram a ser incentivados para os religiosos, sobretudo os jovens, pois simbolizavam a pureza da alma;
Durante a Idade Média, homens e mulheres se banhavam juntos, sem cobrirem suas partes pudendas, inclusive nos banhos públicos;
Na fase da colonização brasileira pelos portugueses, enquanto nossos índios davam exemplo de higiene, banhando-se nos rios, os europeus eram perseguidos pelas leis das reformas católica e protestante que lhes interditavam nadar nus.
Há um consenso entre os historiadores de que entre as civilizações europeias da Antiguidade, a grega legou elementos essenciais para constituição do mundo ocidental tal qual o vivenciamos hoje. Assim, podemos corretamente assinalar sobre esta sociedade que:
Cidades como Esparta, Atenas e Mileto foram importantes centros que nos legaram a concepção de democracia de governo e do método de racionalidade lógica da Filosofia;
Os gregos viviam em um grande país unificado conhecido como Hélade, o que explica a denominação de helenos;
Esparta, Atenas e Tebas foram as principais cidades da Hélade e foram formadas por povos vindos da África e da Ásia;
Cada cidade da Grécia tinha uma cultura própria, a exemplo do alfabeto e da língua diferenciados;
Os historiadores definem de Período Clássico a partir de 500 a. C., tendo em vista, dentre outras características, o desenvolvimento da filosofia de Sócrates, Platão e Aristóteles e do teatro, com os dramaturgos Eurípedes, Sófocles e Aristófanes.
“A despeito do intenso processo de industrialização, da maciça penetração de capitais estrangeiros, da crescente presença de corporações multinacionais, do explosivo crescimento urbano, da melhoria dos índices de alfabetização e das várias tentativas de “modernizar” o país, feitas de um por sucessivos governos civis e militares, as palavras amargas de um notável crítico literário e analista social, Silvio Romero, pronunciadas há mais de um século, lamentando a dependência econômica em relação aos capitais estrangeiros e a incapacidade da República de incorporar os benefícios do progresso à grande maioria da população e de criar uma sociedade realmente democrática, soam ainda hoje verdadeiras.” (COSTA, Emília Viotti da. Da Monarquia à República. São Paulo: Unesp, 2010, p. 9)
A nota à edição do Livro que Emília Viotti da Costa faz nos leva a perceber que existem estruturas sistêmicas no Brasil que nos remetem a uma história de longa duração. Assim, podemos corretamente afirmar sobre o Brasil pós-independência que:
As elites brasileiras que tomaram o poder em 1822 compunham-se de fazendeiros, comerciantes e membros de sua clientela, ligados à economia de exportação e interessados no rompimento das estruturas tradicionais de produção cujas bases eram o sistema de trabalho escravo e a grande propriedade;
A presença do herdeiro da Casa de Bragança e de pouca capacidade de mobilização política no Brasil permitiu a oportunidade de organizar um sistema político fortemente descentralizado que permitia aos municípios e províncias intensa autonomia frente ao poder central;
Dentro da tradição colonial, no pós-independência, o Estado foi subordinado à Igreja e o catolicismo mantido como religião oficial, ainda que fosse permitido o culto privado de outras religiões;
Após a independência foi adotado o voto censitário que excluía a maior parte da população;
No pós-independência, o trabalho escravo foi mantido, mas foram superadas as relações de poder baseadas na troca de favores e a patronagem foi substituída pela mobilidade social com base no mérito.