O ácido retinoico ou tretinoína é um composto pertencente à classe dos retinoides e derivado da vitamina A, que atua em diversos processos biológicos vitais, tendo aplicação em dermatologia devido a algumas de suas funções.
A elucidação da estrutura molecular da vitamina A, em 1931, fez com que diversas pesquisas envolvendo a busca por derivados químicos sintéticos com a mesma atividade biológica fossem realizadas. Com isto, Sporn e colaboradores (1976) introduziram o termo retinoides na literatura, para se referir a todos os compostos análogos da vitamina A, tanto os sintéticos, quanto os naturais, onde se inclui o ácido retinoico.
Os retinoides participam de inúmeros processos biológicos, atuando em vias como as da reprodução, metabolismo, diferenciação celular, desenvolvimento ósseo, embriogênese e interferindo também na visão. O ácido retinoico possui uma configuração molecular denominada ácido todo-trans-retinoico, sendo em consequência disto comumente chamado de tretinoína.
Como qualquer outro retinoide, o ácido retinoico inicia sua resposta biológica ao se ligar e ativar um conjunto ou um único receptor específico. São membros de uma superfamília de receptores intranucleares, que sofrem ativação através da ligação do ácido retinoico ou de seus metabólitos, promovendo a transcrição gênica. Desta forma, através da interação retinoide-receptor, o ácido retinoico inicia suas ações, como por exemplo, a indução da proliferação e diferenciação de diversos tipos de células durante a embriogênese, assim como na fase adulta de um dado indivíduo.
Desde a década de 1960 a tretinoína passou a ser utilizada em distúrbios da queratinização, sendo posteriormente reconhecido o seu papel no tratamento da acne. Na década seguinte, em 1970, começou a ser empregada também no tratamento do fotoenvelhecimento, demonstrando significativa atenuação de rugas e manchas de pele, tendo essas ações reconhecidas pela FDA (Food and Drug Administration), nos Estados Unidos da América.
A isotretinoína apresenta maior eficácia no tratamento para a remissão da acne, em formulações para uso oral, quando comparada à tretinoína. Porém, o ácido retinoico demonstra grande capacidade em inibir a secreção sebácea da pele acneica, em vias tópicas.
Devido a uma queratinização anormal, os poros presentes na pele entopem, levando a formação de comedões (cravos). O ácido retinoico atua inibindo a síntese de lipídeos e queratina nas células das glândulas sebáceas, impedindo a formação de novas lesões de acne, melhorando a textura da pele, bem como auxiliando no tratamento das cicatrizes secundárias à acne. Ao estimular a proliferação e diferenciação dos queratinócitos da camada basal, ocorre a descamação do epitélio, resultando em uma renovação celular.
Em doses elevadas, o ácido retinoico também é utilizado como agente quimioterápico, devido sua capacidade em induzir a morte e diferenciação celular. Estudos demonstram sua efetividade no tratamento de doenças como leucemias, neoplasias gástricas, da nasofaringe e dos pulmões.
Indicações
Presente em formulações como cremes, emulsões e géis, geralmente em concentrações que variam entre 0,01% e 0,1%, a tretinoína é indicada para o tratamento tópico dos sinais do fotoenvelhecimento, incluindo:
- Rugas finas;
- Hiperpigmentação;
- Sardas;
- Aspereza;
- Flacidez;
- Irregularidades da textura da pele;
- Estrias recentes;
- Cicatrizes secundárias à acne;
- Coadjuvante no tratamento da acne.
Em concentrações mais elevadas, que podem variar entre 1% e 5%, são utilizados como peeling químico, com o objetivo de promover uma esfoliação superficial, ou seja, a nível epidérmico.
Efeitos adversos
Depende da sensibilidade de cada tipo de pele, que pode incluir:
- Leve piora das pústulas acneicas, mais comum nas duas primeiras semanas de uso;
- Descamação e ressecamento.
O uso sistêmico da tretinoína inclui teratogenicidade e aborto. Embora a absorção sistêmica por retinoides de uso tópico corresponde a apenas 1%, a sua suspensão no período gestacional se faz necessária.
Referências bibliográficas:
Fundamentos de Medicina Estética e Laser. Agentes de tratamento tópico. Disponível em < http://plastica.fm.usp.br/estetica/capitulo-5.html>, acesso em 12/09/2016.
SPORN, M. B., DUNLOP, N. M., NEWTON, D. L., SMITH, J. M. Prevention of chemical carcinogenesis by vitamina A and its synthetic analogs (retinoids). Federation Proceedings., Bethesda, v. 35, n. 6, p. 1332- 1338, 1976.
ZANOTTO FILHO, A. Efeitos diferenciais do retinol e do ácido retinoico na proliferação, morte e diferenciação celular: o papel da mitocôndria e da xantina oxidase nos efeitos pró- oxidantes da vitamina A. 2009. 82 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Biológicas e Bioqímica). Universidade Federal do Rio Grande de Sul, Porto Alegre, 2009.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/farmacologia/acido-retinoico/