Anticonvulsivantes na Medicina Veterinária

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Por Débora Carvalho Meldau

Os anticonvulsivantes são medicamentos usados em pacientes que apresentam convulsões ou alterações cerebrais (agressividade, síndrome cerebral, entre outras).

Age de maneira a impedir os diversos mecanismos que dão início às crises convulsivas:

  • Alteração da função da membrana neuronal, que pode levar a uma demasiada despolarização;
  • Queda no nível de neurotransmissores inibitórios;
  • Aumento dos neurotransmissores excitatórios;
  • Desequilíbrio da concentração de sódio e potássio fora da célula.

Os principais anticonvulsivantes utilizados na medicina veterinária são:

Fenobarbital

Limita a disseminação da atividade da crise e eleva o limiar para a mesma, através do aumento da concentração de GABA. Quando administrado por via oral, este medicamento é completamente absorvido de maneira lenta. Cerca de 40 a 60% ligam-se as proteínas presentes no plasma sanguíneo, e o medicamento se liga em proporções semelhantes aos tecidos, inclusive o cérebro. Seu principal metabólito é inativado e secretado parcialmente na urina. É indicado em casos de convulsões generalizadas e focais, ou quando o custo da terapia deve ser considerado, pois é um medicamento de baixo custo.

A dose recomendada para cães é de 2 a 6 mg/kg a cada 12 horas; para gatos é de 1 a 5 mg/kg a cada 12 horas. Quando aplicado por via intravenosa, a obtenção do efeito anticonvulsivo demora cerca de 30 minutos. Quando é administrado diazepam ao animal por via intravenosa, faz-se também o uso do fenobarbital por via intramuscular para evitar a depressão respiratória e cardiovascular.

Possui alguns efeitos colaterais como: sedação, hiperatividade paradoxal, poliúria, polidipsia e polifagia; raramente pode causar anemia; alterações hepáticas em certas situações.

Primidona

Possui um mecanismo de ação similar ao do fenobarbital. Ela é rápida e quase completamente absorvida após sua administração por via oral, sendo que a concentração máxima ocorre dentro de 3 horas após a ingestão; possui uma meia-vida plasmática, em média, de 5 a 15 horas.

Este medicamento é biotransformado no fígado e transformada em dois metabólitos ativos: fenobarbital e feniletimalonamida. Cerca de 40% do medicamento é excretado sem alterações.

É indicado em casos de convulsões generalizadas e focais. Nos cães, a dose recomendada é de 35 a 70 mg/kg/ dia, duas vezes ao dia. Seu uso não é recomendado em gatos, pois é muito tóxica para esta espécie.

Possui efeitos colaterais como: sedação, hiperatividade paroxal, polidipsia, poliúria, polifagia, necrose hepática e, raramente anemia. Estes efeitos são mais intensos com o uso deste medicamento do que os causados pelo fenobarbita.

Difenil-hidantoína

Também conhecido como fenitoína, possui efeito estabilizador em membranas excitatórias de diversas células, como neurônios e células musculares cardíacas. Pode diminuir o influxo de sódio durante o repouso, bem como o influxo de sódio que acontece durante o potencial de ação ou de polarização por substâncias químicas; reduz o potencial pós-tetânico e limita o espraiamento da atividade das convulsões.

Após a administração oral, este medicamento é absorvido lentamente, distribuindo-se por todos os tecidos; cerca de 90% se ligam às proteínas plasmáticas, em especial, a albumina. Menos de 5% do medicamento é  eliminado pelos rins sem alterações, sendo que o restante e biotransformado. Possui uma meia vida de 4 horas no cão e de 24 a 108 horas no gato.

É indicado em casos de convulsões generalizadas e focais; raramente utilizada em cães e não é recomendada para gatos. A dose recomendada para cães é de 20 a 35 mg/kg a cada 6 ou 8 horas.

Os efeitos colaterais são raros, mas quando apresentam são: hepatopatia, anemia e hiperplasia gengival raramente.

Benzodiazepínicos

Dentre as substâncias deste grupo, as mais utilizadas na medicina veterinária são: diazepam, clonazepam e clorazepato de dipotássico.

Atuam de modo a potencializar os efeitos inibitórios do GABA, tanto no cérebro quanto na medula, limitando o espraiamento da atividade convulsiva e elevando o limiar para convulsão; bloqueiam a excitação e deprimem os reflexos espinhais.

  • Diazepam: quando administrado por via oral, é biotransformado pelo fígado em diversos metabólitos predominantemente ativos. Menos de 1% deste medicamento é eliminado pelos rins de forma inalterada. Quando administrado por via intravenosa, este medicamento penetra imediatamente no Sistema Nervoso Central, sendo de eleição em casos de emergência. É indicado em casos de Status Epileticus, convulsão generalizadas e focais, convulsões mieloclônicas e crises de ausência. Dose recomendada em cães de pequeno porte é de 0,5 a 1,0 mg, e de 10 a 50 mg para cães de grande porte; para gatos a dose recomendada é de 1 a 2 mg a cada 8 horas. Quando for usada por via intravenosa, a dose recomendada é de 0,5 a 1,0 mg/kg para cães e gatos.
  • Clonazepam: possui meia vida plasmática de 1 dia; recomendado para uso no Status Epileticus, convulsões generalizadas e focais, crises de ausência ou convulsões mioclônicas. Este medicamento tem uma eficácia maior quando associado com fenobarbital. Não é usado em gatos. A dose recomendada para cães é de 1,5 mg/kg, dividida em três doses, mas quando associada ao fenobarbital, recomenda-se uma dose de 0,06 a 0,2 mg/kg, divididos em 3 a 4 doses. No caso de Status Epileticus é recomendado a dose 0,05 a 0,2 mg/kg por via intravenosa. O único efeito colateral descrito é a sedação.
  • Clorazepato: possui meia-vida extremamente curta, sendo necessário que sua administração se dê diversas vezes ao dia para se obter o efeito desejado. É mais efetivo quando administrado em associação com o fenobarbital. A dose recomendada é de 2 a 6 mg/kg/dia, divididos em 2 a 3 doses; quando em associação com o fenobarbital, deve-se aumentar a dosagem. Não é utilizado em gatos. Seu principal efeito colateral é a sedação; alguns pacientes apresentam ataxia e sedação transitória.

Carbamazepina

Possui ação semelhante à fenitoína nos canais de sódio; aparentemente, ambas produzem uma inibição diferencial de descargas de alta freqüência no foco epilético e em suas adjacências. Outra provável ação, relaciona-se com descarga dos neurônios noradrenérgicos, contribuindo para a ação anticonvulsivante deste medicamento.

É absorvida de forma lenta e irregularmente após ser administrada por via oral; a máxima concentração plasmática ocorre 4 a 8 horas após a ingestão oral, podendo ocorrer até 24 horas depois. Este medicamento se distribui de forma rápida para todo o organismo, com aproximadamente 75% ligado às proteínas plasmáticas. Sua biotransformação ocorre no fígado; tem uma meia-vida plasmática de 10 a 20 horas, quando não é associada a nenhum medicamento, já quando usada juntamente com a fenitoína ou fenobarbital, sua meia-vida cai para 9 a 10 horas.

É indicada em casos de convulsões generalizadas e focais. A dose recomendada para cães é de 4 a 10 mg/kg/dia, divididos em 2 a 3 vezes ao dia. Em gatos, é utilizada na dose de 25 mg duas vezes ao dia, para o controle de comportamento agressivo. Os efeitos colaterais deste medicamento são: sedação, nistagmo, vômitos e hepatopatia.

Ácido Valpróico

Atualmente, acredita-se que o mecanismo de ação deste medicamento é baseado nas interações possíveis com os canais de sódio voltagem-dependente e em possível acúmulo de GABA.

Quando administrado por via oral é rapidamente e totalmente absorvido. A concentração plasmática máxima se dá após 1 a 4 horas após sua administração. Aproximadamente 90% se ligam às proteínas plasmáticas. Sua maior parte é biotransformada pelo fígado e excretada juntamente com a urina.

É indicado em casos de convulsões generalizadas e focais, crise de ausência; não é recomendada para gatos. A dose recomendada para cães é de 15 a 200 mg/kg, dividido em 3 a 4 doses. Como efeito colateral pode haver sedação e hepatopatia.

Brometo de Potássio

Não se sabe ao certo ainda qual seu mecanismo de ação. Hipoteticamente, esta substância mimetiza a ação dos cloretos nos neurônios, alterando a excitabilidade celular, promovendo uma hiperpolarização das células neuronais. Sua meia-vida é de, aproximadamente 16,5 dias e sua eliminação é de 25 dias, quase que totalmente através do rim.

É indicado para animais com convulsões generalizadas refratárias a outros medicamentos ou que desenvolveram hepatopatia pelo uso dos mesmos. Há estudos que mostram que o uso deste medicamento em cães pode ser eficaz.

A dose recomendada para cães é de 22 a 40 mg/kg/dia ou dividida em duas vezes ao dia. Em gatos, recomenda-se uma dosagem de 30 mg/kg/dia. Os efeitos colaterais mais freqüentes são: ataxia locomotora, principalmente com os membros pélvicos; raramente pode levar à pancreatite; pode desenvolver dermatite alérgica; pode promover o aumento dos níveis séricos de potássio.

Novos Anticonvulsivantes

Existem diversos medicamentos que estão sendo lançados no mercado, com o objetivo de controlar as convulsões em humanos. Estes medicamentos, por sua vez, estão sendo aos poucos introduzidos na terapêutica de animais, embora pouco se conheça a respeito da farmacocinética nestes indivíduos. Alguns destes medicamentos são: oxcarbazepina, flunarizina, progabide, gabapentina, vigabatrina, lamotrigina, felbamato, tiagabine, topiramato, levetiracetam, zonisamida e pregabalina.

Fontes:
http://www.slideshare.net/pharmakonn/anticonvulsivantes-presentation
Farmacologia Aplicada à Medicina Veterinária – Helenice de Souza Spinosa, Silvana Lima Górniak e Maria Martha Bernardi. Editora Guanabara Koogan, 4° edição, 2006.

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