Sucessor de Tales, Anaximandro de Mileto foi o primeiro grego conhecido a publicar estudos acerca da natureza em forma escrita. Considerado um filósofo da era pré-socrática, aqueles que vieram antes de Sócrates, defendeu que a natureza é organizada por leis, da mesma forma que as sociedades humanas, e que a natureza busca o equilíbrio, de forma que qualquer coisa que não esteja de acordo com tais leis não perdurará por muito tempo. Embora pouco tenha restado de seus trabalhos escritos, apenas um fragmento e as referências e citações de outros autores, sabemos que Anaximandro contribuiu para muitas disciplinas, como é comum se atribuir a filósofos do seus tempo, demonstrando especial interesse na origem do universo. Foi ainda o responsável por elevar a discussão filosófica grega a um novo nível de abstração conceitual, ao defender que a origem de todas as coisas seria o apeiron, palavra grega de sentido amplo, incluindo entre seus significados "indeterminado", "sem limites", "sem fronteiras" e "indefinido".
Foi um homem ativo em seu tempo, envolvendo-se também na politica em sua região e atuando como líder colonial em outras localidades, antes de dedicar-se exclusivamente ao estudo e observação da natureza. Em astronomia, Anaximandro procurou descrever a mecânica dos corpos celestes em relação a Terra. No campo da cartografia, criou um mapa do mundo que contribuiu para o desenvolvimento da geografia. Também foi o responsável pela introdução do relógio solar na Grécia, graças a seu avançado conhecimento de geometria.
É questionável se Anaximandro foi discípulo de Tales, como fazem crer os registros de Aristóteles, mas certamente Anaximandro é o sucessor intelectual e continuador da chamada Escola Monista, cuja base foi a ideia de que a natureza dos objetos é uma única substancia que lhes garante as qualidades. Para Tales, esta substância seria a água. Anaximandro procurou estabelecer suas ideias em um sistema tolerável para a cultura mítica grega, descrevendo várias esferas da realidade, de acordo com a linguagem mítica, para tanto, elaborou racionalmente uma reunião dos estudos de Tales com observações de astrólogos babilônicos e outros estudiosos de civilizações mais antigas, bem como a influência da tradição mítica dos Gregos. Esta elaboração o levou, em ultima análise, a elaborar a sua própria teoria da natureza (arche) dos objetos como apeiron.
De acordo com a teoria de Anaximandro, os elementos básicos, ar, fogo, terra e água, representam de fato as forças primordiais. A colisão destes elementos produziria o que a tradição mítica chamou de harmonia cósmica. Anaximandro defendeu que, diferente da tradição mítica, a ordem cósmica não seria hierárquica, mas geométrica e que isto geraria o equilíbrio da Terra, que, na cosmologia proposta pelo filósofo, localiza-se no centro do universo. Esta disposição projeta na natureza uma nova ordem e um novo espaço organizado em torno de um centro, que seria o ponto estático do sistema, no qual todas as forças são simétricas. Desta forma, novamente fazendo referência a tradição mítica, as decisões são tomadas pela assembleia de demos no centro da cidade, na Ágora. Para estabelecer o apeiron como origem do universo, Anaximandro seguiu a mesma linha de raciocínio, elaborando uma forma de apresentação que levaria em consideração o estado sem forma, conhecido na tradição mítica grega como Chaos, e levando em consideração ainda as mudanças mutuas entre os elementos básicos. Assim, a origem deve ser ilimitada, capaz de criar sem decaimento ao longo do tempo.
Modernamente, o físico Max Born, ao comentar a ideia de que partículas elementares da mecânica quântica devem ser vistas como diferentes manifestações de uma mesma substância primordial, propôs que esta substância fosse chamada apeiron. Demonstrando assim a amplitude e alcance do trabalho de Anaximandro.
Referências bibliográficas:
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SMITH, William. "Philola'us". Dictionary of Greek and Roman Biography and Mythology. ed. (1870).
SPINELLI, Miguel. Filósofos Pré-Socráticos. Primeiros Mestres da Filosofia e da Ciência Grega. 2ª Ed., Porto Alegre: Edipucrs, 2003