A teoria descritivista dos nomes próprios, também conhecida como "concepção de Frege-Russell", ou simplesmente "descritivismo", é uma posição em filosofia da linguagem que defende serem os nomes meras descrições definidas abreviadas, de modo que o significado de um nome seria dado pela descrição ou por um conjunto de descrições que o utilizador associa àquele nome em particular. Os principais proponentes desta teoria foram os filósofos Gottlob Frege e Bertrand Russell.
A apresentação da teoria descritivista, de modo simples, é como segue:
Para cada nome, há uma coleção de descrições associadas com tal nome. Estas descrições constituem o significado do nome. Desta forma, o nome é uma coleção de descrições, enquanto o referente, aquela pessoa a quem o nome se refere, é a pessoa que satisfaz a coleção de descrições, se não todas ao menos a maioria delas. Para usar o exemplo que o filósofo Saul Kripke apresenta em sua obra Naming and Necessity, o nome próprio Saul Kripke seria, de acordo com a teoria descritivista, sinônimo da coleção de descrições que inclui:
- Uma pessoa que nasceu em 12 de novembro de 1940 em Bay Shore, New York, EUA.
- O filho de um líder da sinagoga Beth El de Omaha, Nebraska.
- O homem que escreveu Naming and Necessity.
Entre outras descrições.
No caso de sentenças que utilizam o nome, a teoria descritivista afirmará que, o significado da sentença é dado pela substituição de todas as instâncias do nome por uma de suas descrições. Neste caso, a sentença "Saul Kripke segura um copo" será equivalente a qualquer uma das seguintes:
- O homem que escreveu Naming and Necessity segura um copo.
- O filho de um líder da sinagoga Beth El de Omaha, Nebraska segura um copo.
E assim por diante.
A primeira formulação da teoria descritivista foi apresentada por Frege como um adendo a sua teoria do significado (bedeutung) para resolver o problema dos nomes próprios vazios, como os nomes de personagens fictícios e as sentenças nas quais estes nomes aparecem, por exemplo "Dom Corleone é um personagem de O Poderoso Chefão". Embora tais nomes não possuam um referente na realidade, possuem significado, uma vez que são inteligíveis e seu uso em uma sentença apresenta alguma informação.
Frege defendeu ainda que nomes diferentes com o mesmo referente também tem significado. No caso de seu exemplo, a frase "Hesperus é Phosphorus" nos informa que o planeta que aparece pela manhã visível no céu é o mesmo planeta que aparece a noite visível no céu, o planeta Vênus. Sendo portanto uma sentença informativa, o que, para Frege, indica que deve haver um significado diferente para as palavras "Hesperus" e "Phosporus", pois se assim não fosse teríamos uma tautologia.
Tautologias não são informativas, por exemplo, "Hesperus é Hesperus" não nos apresenta nenhuma informação nova, apenas a afirmação de que uma coisa é ela mesma. Frege concluiu que o sentido é um modo de apresentação, que serve para ilustrar um aspecto do referente. Ao usarmos dois significados diferentes ilustramos dois aspectos diferentes daquele referente, assim apresentamos alguma informação.
O descritivismo foi duramente atacado na década de 70 do século XX, especialmente por autores como Saul Kripke e Hilary Putnam, proponentes da teoria causal, que procura explicar como termos adquirem referentes específicos, baseando-se em evidências. Por outro lado, ainda hoje o descritivismo é defendido por filósofos como David Chalmers e David Sosa, proponentes da teoria semântica bi-dimensional, um posição que dedica-se a tratar da determinação do valor de verdade de uma sentença, bem como seu senso e referência. Tem como intuito responder a questão: Como é possível descobrir empiricamente que uma verdade necessária é verdade?
Referências bibliográficas:
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