Heidegger avançou propondo que a hermenêutica, em seu significado mais moderno, seja abordada muito menos no sentido estrito de uma teoria da interpretação, mas que persiga o significado original do termo grego hermêutiká - que deriva de Hérmes, o deus mensageiro dos deuses - na realização do hermenéien (do comunicar), ou seja, da interpretação da faticidade que conduz ao encontro, visão, maneira e conceito fático. Entende ele por fático “algo que é”, articulando-se por si mesmo sobre um caráter ontológico, o qual é desse modo.
Neste sentido, são indicados alguns elementos eficazes nesta investigação em relação à objetualidade, que apontam para um ser capacitado para a interpretação, tendo a hermenêutica à tarefa de tornar-se a si própria acessível ao Dasein, o ser-aí como existente humano.
Logo, tanto a hermenêutica como a ciência configuram-se ao existente humano como possibilidade de vir a compreender-se e ser nessa compreensão, como pondera: “A interpretação é algo cujo ser é o ser da própria vida fática. Se chamarmos, mesmo que impropriamente, a faticidade como objetualidade da hermenêutica (como as plantas são objetualidade da botânica), diremos que esta, a hermenêutica, encontra-se em sua própria objetualidade (ou seja, como se as plantas, o que são e como são, fossem a botânica). A unidade do ser que com isso se indica entre a hermenêutica e sua objetualidade situa a indicação, a realização e a apropriação da hermenêutica temporalmente antes, pelo que tange ao ser e, faticamente, o colocar em obra de toda ciência” (HEIDEGGER, 2012).
A hermenêutica filosófica em Gadamer, por sua vez, estava comprometida com a análise da compreensão humana. Tal análise estava destinada a demonstrar como se dá a compreensão humana, num determinado contexto, incorporada da história e da linguagem. Na sua argumentação o método científico não fornece um meio em que o pesquisador escape dos efeitos históricos e linguísticos. Para o filósofo, a certeza pretensamente atingida pelo método científico não era suficiente para garantir a verdade. A verdade é encontrada ao entrar em diálogo de forma genuína com certo texto, e saber como fazer as certas perguntas, não havendo tal coisa como um método que trata da forma de encontrar o que é questionável no que diz respeito às expressões da vida. A hermenêutica gadameriana destaca o valor da introspecção e reflexão que se encontram além do método, sendo que estes valores se encontram no primeiro plano da fenomenologia hermenêutica. (GADAMER I, 2007).
Assim sendo, as perspectivas iniciais apresentadas sobre a hermenêutica filosófica podem ser relacionadas às abordagens filosóficas e epistemológicas da ciência e poderão resultar em pesquisas científico-educacionais localizadas histórica e culturalmente.
Referências:
HEIDEGGER, Martin. Ontologia – Hermenêutica da Faticidade. Petrópolis: Editora Vozes, 2012.
GADAMER,Hans-Georg. Hermenêutica em Retrospectiva: Heidegger em Retros-pectiva (I). Petrópolis: Editora Vozes, 2007.