A palavra grega "logos" tem significado amplo e foi utilizada, ao longo da história da filosofia, de diversas maneiras, pode ser considerada tanto um primeiro conceito filosófico para razão quanto um princípio de ordem e beleza universal, de acordo com o período e filósofo que a empregou.
Para o filósofo grego Heráclito, o primeiro a usar o termo "logos" no contexto filosófico, logos era o conceito responsável por prover a conexão entre o discurso racional e a estrutura racional do mundo. Heráclito sugere a existência do logos como uma entidade universal independente. No entanto, o que a palavra "logos" significava em seu uso ainda não é claro, hipóteses são levantadas no sentido de identificar logos com "razão" ou "explicação", no sentido de uma lei universal, ou mesmo como significando simplesmente "sabedoria". Defendeu que todas as coisas vem a ser de acordo com o logos e, embora as pessoas vivam como se tivessem seu próprio entendimento privado, o logos é comum e uno.
Aristóteles por outro lado apropriou-se de sentido diverso da palavra e definiu logos como um dos três modos de persuasão, o argumento da razão, em sua Ars Rethorica (Retórica). Para o autor, logos trata do próprio discurso, enquanto este prova algo, ou ao menos parece provar. Para Aristóteles, o logos seria algo mais sofisticado do que um entendimento comum, o logos diferenciaria o ser humano dos outros animais, possibilitando a compreensão do que é bom e do que é mal, do que é benéfico e do que é prejudicial e do justo e injusto no discurso, e pensamentos manifestos neste discurso, em outros seres humanos. Outros modos de persuasão são ethos e pathos, que referem-se, respectivamente, a convencer os ouvintes do caráter de alguém e apelo emocional.
Embora tenha defendido que cada uma das três formas de persuasão possa ser apropriada em determinadas situações, logos guarda certa superioridade em relação a ethos e pathos, na medida em que dados são mais difíceis de manipular do que opiniões de reputação e emoções. Esta posição é vista por muitos pesquisadores como uma resposta à Isocrates, que concentrou-se na ideia do logos em uma parceria com a filosofia para gerar uma sociedade consciente e ética. Seu objetivo, ao defender esta abordagem, foi o estabelecimento do bem comum por meio da compreensão da filosofia e aplicação do logos, com foco no discurso e razão.
Filósofos estoicos também se apropriaram do termo, cunhado o termo logos spermatikos, o princípio gerador do universo, esta forma de logos seria mais próxima de uma lei, que rege a maneira como o universo funciona, propiciando a sua fundação ao agir sobre a matéria inanimada. Um porção do logos estaria presente também nos seres humanos. Usando o termo logos em sentido mais ampla, os estoicos falaram também em um logos material, identificado com a natureza.
O conceito de logos spermatikos viria a influenciar os neoplatonistas, em sua busca por um principio. Plotino, o primeiro dos neoplatonistas, interpretou o logos como o princípio da meditação, e defendeu, em sua obra Meditações, que o logos existe como a inter-relação entre o Uno, o Espírito e a Alma, conhecidos como hypostases, a realidade fundamental que dá suporte a toda a existência. Logos seria o princípio mais elevado e os três inter-relacionados estariam em paridade, equilibrados pelo logos. Esta abordagem influenciou Agostinho de Hipona, que procurou reinterpretar Platão e Aristóteles a luz do cristianismo, para o que o conceito de logos ocupou papel de importante. Descreveu logos como "A Palavra Eterna Divina", com atributos de verdade e sabedoria, que estaria presente no messias cristão mais do que em qualquer outra pessoa.
Referências bibliográficas:
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