A palavra "metafísica" deriva da antologia de trabalhos de Aristóteles μετάφυσικά (metàphysiká), indicando que aqueles trabalhos foram compilados após os trabalhos sobre a física. Aristóteles referia-se a estes trabalhos como "filosofia primeira", indicando a primazia teórica de seu conteúdo em relação àqueles abordados na física. Comentadores entenderam que a palavra "metafísica" poderia ser reinterpretada como "a ciência do mundo para além da física" e encontraram razões intrínsecas para justificar o uso do termo "metafísica" para referir-se a este tipo de trabalho, de forma que o termo se instaurou e sobreviveu até os dias atuais.
Thomás de Aquino, em seu Expositio in librum Boethii De hebdomadibus, explicou que este uso era pedagógico e cronológico, de acordo com o autor, os estudos conhecidos como metafísica, deveria ser levados a cabo após compreendermos as ciências que lidam com o mundo físico - material. A metafísica portanto trataria dos aspectos imateriais ou abstratos do mundo, ocupando-se principalmente em responder duas questões fundamentais:
- O que existe?
- Como é o que existe?
Estas duas questões, aparentemente simples, tem liderado o debate desde que Thales de Mileto, que segundo Aristóteles teria sido o primeiro filósofo, afastou as explicações mitológicas e divinas para formular uma causa primeira, a qual chamou "Arche", significando "origem" ou "início". Através desta causa primeira seria possível explicar todos os fenômenos. Não por acaso, um dos ramos centrais da metafísica é a ontologia, que se ocupa das investigações acerca do ser e de como as categorias básicas de ser se relacionam.
Tradicionalmente, ocupam lugar de destaque nos debates acerca de questões metafísicas os filósofos Aristóteles, que não apenas foi indiretamente o responsável pelo nome desta disciplina como desenvolveu investigações em praticamente todas os temas da metafísica, desde a questão dos universais, como apresentada por seu mentor Platão, até movimento e causalidade, entre outros temas; Leibniz, Descartes e Espinosa, no que concerne ao movimento racionalista; Immanuel Kant, que procurou realizar uma grande síntese das discussões que lhe precederam; e o filósofo que encabeçou a filosofia analítica da primeira metade do século XX, Bertrand Russell, trazendo a tona a teoria do monismo neutro.
Até a metade do século XX, a filosofia analítica tendia a rejeitar as teorizações metafísicas, porém com as discussões levantadas por filósofos como David Kellog Lewis e David Malet Armstrong observamos um renascimento das teorizações metafísicas, para tratar de questões como universais, causação, objetos abstratos e necessidade. Questões em filosofia da ficção, filosofia do tempo e debates sobre a existência como uma propriedade deixaram de ser obscuras e passaram ao centro dos debates acadêmicos.
Quanto a relevância de se levantar questões metafísicas, dois filósofos se destacam no debate, Amie Thomasson e Ted Sider. Thomasson argumenta que a maioria das questões metafísicas seria nada mais que confusões de palavras, podendo ser solucionadas simplesmente pelo modo como olhamos para o uso de algumas das palavras envolvidas, ao compreendermos este uso seriamos capazes de perceber que a questão na verdade não se coloca, é uma questão aparente. Sider, por outro lado, argumenta que tais questões não são simples confusões de palavras, mas tem conteúdo substantivo e que o progresso nestas questões pode ser feito por meio de virtudes valorizadas nas ciências, como a análise do poder de explicação e a simplicidade.
Referências bibliográficas:
Aristóteles. Metafísica. Porto Alegre: Globo, 1969.
Kim, J. and Ernest Sosa, Ed. (2000). A Companion to Metaphysics. Malden Massachusetts, Blackwell, Publishers.
Loux, M. J. (2006). Metaphysics: A Contemporary Introduction (3rd ed.). London: Routledge.
Reale, Giovanni & Antiseri, Dario. História da Filosofia. São Paulo: Paulus, 1990. V. 1