De acordo com Aristóteles, Tales de Mileto teria sido o primeiro filósofo da história da humanidade. Não o primeiro a utilizar o termo filósofo para referir-se a si mesmo, já que este foi Pitágoras, mas o primeiro a fazer jus ao título por sua forma de proceder, ao promover um afastamento da visão mitológica do mundo e buscar as causas primeiras, ou a causa primeira única, das coisas e fenômenos da natureza com base, exclusivamente, na razão e observação da própria natureza.
É dito que Tales teria iniciado a busca filosófica, devido ao fato de que muitos daqueles que hoje chamamos de "filósofos pré-socráticos" o terem seguido, na tentativa de explicar a substância, mudança e a própria existência do universo sem recorrer a mitologia, que era a prática comum da época. Tales procurou explicar os fenômenos naturais por hipóteses que faziam referência aos próprios processos da natureza, desta forma, eliminando o sobrenatural e trazendo a compreensão dos fenômenos para o âmbito da racionalidade humana, tornando a sabedoria acessível a qualquer pessoa disposta a observar e estudar a natureza.
Este método, inovador para a época, levou Tales a questionar qual a natureza (arche) dos objetos, que os faz comportarem-se da forma como o fazem. A palavra grega arche é frequentemente traduzida como "princípio", o que é impreciso, uma vez que o princípio de algo é aquilo que lhe é anterior, ou primitivo, em termos lógicos ou cronológicos. A arche não é apenas primitiva, mas domina o objeto e o constitui. Tales, e aqueles que o seguiram, procuravam definir a substancia da qual todo objeto material é composto, não apenas o evento que lhe é anterior. Por esta mesma razão, Tales é descrito como o primeiro cientista ocidental, uma vez que o trabalho de buscar a substancia da qual todo objeto material é composto é exatamente o trabalho realizado por cientistas modernos em física nuclear.
Segundo nos reporta o filósofo grego Aristóteles, ainda neste trabalho de encontrar a natureza dos objetos materiais, Tales chegou a sua posição mais famosa, a hipótese segundo a qual a natureza originadora dos objetos do mundo é uma única substância material, a água. Outros filósofos contemporâneos de Tales e posteriores discordaram sobre qual seria esta natureza, Anaxímenes, por exemplo, defendeu que seria o ar, no entanto, em sua grande maioria, a tradição filosófica aceitou que é necessário que exista alguma natureza, seja apenas uma ou mais de uma, da qual as propriedades dos objetos advém. Esta natureza seria uma substância que subjaz todos os objetos, transformando-se em qualidades por meio de processos regidos pelas leis da natureza.
Tales também foi conhecido por seu uso, teórico e prático, inovador da geometria, vindo a formular dois teoremas importantes, sendo que um deles leva seu nome.
O Teorema de Tales estabelece que se A, B e C são pontos em um círculo, onde a linha AC é o diâmetro do circulo, então o angulo ∠ ABC é um angulo reto. O Teorema da Intersecção, por sua vez, estabelece que, se duas retas transversais cortarem um feixe de retas paralelas, teremos medidas proporcionais nos segmentos delimitados nas transversais. Este é o teorema que Tales teria usado para calcular a altura da piramide de Quéops.
Referências bibliográficas:
BUCKINGHAM, Will; at all. O Livro da Filosofia. Editora Globo. São Paulo, 2011.
SMITH, William. "Philola'us". Dictionary of Greek and Roman Biography and Mythology. ed. (1870).
SPINELLI, Miguel. Filósofos Pré-Socráticos. Primeiros Mestres da Filosofia e da Ciência Grega. 2ª Ed., Porto Alegre: Edipucrs, 2003