Por Ana Lucia Santana
Este genial pensador alemão nasceu em Röcken, a 15 de outubro de 1844, e tornou-se um dos mais importantes filósofos da Alemanha do século XIX. Friedrich Nietzsche nasceu no seio de uma família protestante – o pai e os dois avôs eram pastores -, ele cresceu praticamente direcionado para a mesma vocação. Entre as crianças, seu apelido era ‘o pequeno pastor’, pois era um aluno exemplar e obediente. Perdeu o pai logo cedo e foi criado pela mãe, duas tias e a avó. Com os colegas ele fundou uma sociedade artística e literária, graças à qual esboçou seus primeiros poemas e produziu suas primeiras melodias.
Ao se tornar adolescente, porém, sua vida mudou radicalmente de rumo. Seus estudos, principalmente os de filologia, o distanciaram da crença em Deus e de qualquer inclinação para as pesquisas teológicas. Ao ingressar na célebre Escola de Pforta, pela qual passaram, entre outros, o poeta Novalis e o filósofo Fichte, ele entrou em contato com os escritos de Schiller, Hölderlin e Byron, os quais marcaram definitivamente seu pensamento, levando-o na direção contrária ao Cristianismo. Suas leituras também incluíam os gregos Platão e Ésquilo. Os estudos filológicos - que englobavam não só a história das formas que povoam a literatura, mas também a pesquisa sobre os mecanismos pré-estabelecidos que regem a sociedade e os conhecimentos sobre a mentalidade vigente - foram definitivos para sua decisão de se afastar da teologia.
Os estudos filosóficos passaram a atraí-lo depois de se tornar leitor de Schopenhauer, principalmente de O Mundo como Vontade e Representação. O ceticismo deste filósofo o atrai irresistivelmente, bem como suas preocupações estéticas. Aos 25 anos ele se torna professor de Filologia na Universidade de Basiléia, assumindo assim a nacionalidade suíça. Pouco tempo antes ele tem um encontro definitivo para a constituição de sua obra, com Richard Wagner, cuja produção musical seduz Nietzsche. De agora em diante, a música e a tragédia grega, tema dileto deste artista, ocuparão os pensamentos e a elaboração intelectual do filósofo, culminando na publicação de O Nascimento da Tragédia no Espírito da Música.
Em 1870, Nietzsche tem a oportunidade de testemunhar, durante seu trabalho como enfermeiro voluntário na Guerra Franco-Prussiana, o impacto da dor e da violência sem limites provocada por este confronto bélico. Esta experiência também servirá de matéria-prima para sua criação intelectual. Nove anos depois, ele passa por outro período traumático, desta vez com sua saúde física, pois problemas em sua voz o obrigam a se distanciar do magistério. Inicia-se então uma busca incessante pela cura, o que o leva a se deslocar por vários pontos da Europa. No ano de 1882 ele conhece Paul Rée e sua futura amada, Lou Andreas-Salomé, a quem propõe casamento, pedido recusado por ela depois de alimentar algumas esperanças no coração do filósofo.
O filósofo passa a escrever incessantemente, lançando Assim Falou Zaratustra, em temporada passada na cidade de Nice. Esta fase tem fim com um novo problema de saúde, desta vez mental. Não se sabe se provocada por uma sífilis ou por um tumor cerebral, Nietzsche tem um surto de loucura, a partir de 1889, que o acompanha até sua morte. Durante este período ele fica sob a guarda da mãe e da irmã, que se aproveita de sua incapacidade intelectual e psíquica para distorcer seus textos a favor da causa nazista, sempre rejeitada por Nietzsche. Os escritos deste filósofo, ao longo desta perturbação, revelam uma identidade fragmentada, que ora assume características do mítico Dionísio, ora encarna a figura de Jesus, antes de se refugiar completamente no silêncio, quando então morre na cidade de Weimar, a 25 de agosto de 1900.